Cria cuervos, Aécio, que te sacarán los ojos
por * Rogério Correia
A coluna do senador Aécio Neves na Folha de S. Paulo dessa
segunda-feira tratou da manifestação de domingo, 15 de março. Cuidadoso,
ele sabe que a justa indignação com a corrupção em geral, pode
atingi-lo. Ainda que ele insista que a corrupção é um fenômeno
recorrente desde 2003, apenas.
A coluna segundeira do senador Aécio Neves balançou. Ao invés de
querer surfar nas “ruas” do dia 15, além de suas provocações miúdas,
tratou com certo cuidado seus vários recados.
Ao final, conclui que as mesmas não “disseram respeito ao passado,
nem ao resultado das eleições. Dizem respeito ao futuro. E por isso
preocupam tanto ao governo.”
Já lhe dissemos várias vezes, senador, o desejo não é onipotente.
Essas manifestações dizem, sim, respeito ao passado, às eleições, ao presente e ao futuro.
Não só as do dia 15 foram legítimas. As do dia 13 de março de 2015,
sexta feira, também. As manifestações democráticas no voto em 2014,
idem. Igualmente, as de 2013.
Por que Aécio Neves atribuiu, exclusivamente, ao futuro a motivação dos protestos?
Porque o passado de longo prazo, de curto prazo, das eleições e do
presente também falam dele. Apesar da tentativa de se instaurar uma
indignação seletiva (só sobre fatos de 2003 para cá), o fato é que tal
indignação é extensa e profunda e não cabe só a partir de 2003. Que,
aliás, inclui o PSDB, seus líderes e da qual não escapa ele próprio.
A melhor imagem de sua defensiva foi sua foto, patética, na janela de
seu luxuoso apartamento no Leblon. Naquele momento ele já sabia que
Bolsonaro já havia sido vaiado e impedido de falar em um carro de som.
Aécio não exercitou seu rompante, por muita prudência.
Afinal, o ódio cultivado por ele e seu amigos ultrapassou o limite do
razoável: faixas com suásticas, com o “sigma” do integralismo,
cartolinas pregando o feminicídio, bonecos de Lula e Dilma enforcados
(hoje são eles, amanhã pode ser ele), fechamento do Congresso, do STF e
por aí.
Toda essa regressividade política tem, também, o DNA tucano. Afinal, a
“privataria”, o Banestado, o mensalão original, o trensalão de SP,
agora o HSBC, aeroportos de interesse familiar e helicópteros com pasta
base de cocaína não estão na conta do PT.
A ironia é sua foto na janela: fala da corrupção, com uma camisa da
CBF, e com a filhinha de escudo político, vestida de vermelho.
Seu rompante é pura bazófia.
*Rogério Correia é deputado estadual (PT-MG) e vice-líder do bloco parlamentar Minas Sem Censura
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