por Noam Chomsky:
Ativista político e professor emérito do MIT aponta a contradição da política de Washington em relação ao EI: quer destrui-lo, mas opõe-se a todas as forças que o combatem. E o seu principal aliado, a Arábia Saudita, é o principal financiador dessa organização.
Noam Chomsky no Democracy Now.
Entrevistado pelo Democracy Now, Noam Chomsky diz que a estratégia dos EUA é a da Alice no País das Maravilhas: querem destruir o EI, mas opõem-se a todas as forças que o combatem.
Democracy Now: Noam, queria perguntar-lhe acerca do Estado Islâmico. A notícia de hoje é que o Iraque está a planear uma grande ofensiva para retomar Mossul.
Atualmente está envolvido em ataques para recapturar Tikrit com o apoio dos EUA. A minha pergunta é sobre a eficácia da estratégia dos EUA. Até que ponto é que a sua política, em termos de eficácia para derrotar o EI, é prejudicada pelas ligações com a Arábia Saudita e a sua recusa de combater ao lado do Irão e de grupos como o Hezbollah, que têm sido eficazes no combate ao EI?
Noam Chomsky: Patrick Cockburn, que fez de longe as melhores reportagens sobre este tema, descreve a situação como uma estratégia de Alice no País das Maravilhas. Os EUA querem destruir o EI, mas opõem-se a todas as forças que estão a combater o EI. O principal Estado que se opõe ao EI é o Irão, que apoia o governo xiita do Iraque. Mas o Irão, como se sabe, é nosso inimigo. Provavelmente as principais tropas terrestres que combatem o EI são o PKK e os seus aliados, que estão na lista de terroristas dos EUA. Eles estão presentes tanto no Iraque quanto na Síria.
A Arábia Saudita, o nosso principal aliado, junto com Israel, é desde há muito o principal financiador do EI e de grupos semelhantes – não necessariamente o governo saudita, mas ricos sauditas e outras pessoas nos emirados – não só o financiador, mas são a fonte ideológica.
A Arábia Saudita está comprometida e é dominada por uma versão fundamentalista e extremista do Islão: a doutrina wahhabita. E o EI é um ramo da doutrina wahhabita. A Arábia Saudita é um Estado missionário. Cria escolas, mesquitas espalhando a sua versão radical do Islão. Assim, eles são os nossos aliados; e os nossos inimigos são os que estão a combater o EI. E é mais complexo.
O EI é uma monstruosidade. Não há muitas dúvidas sobre isso. Não veio do nada. É um dos resultados dos ataques dos EUA a uma sociedade muito vulnerável – o Iraque – com brutalidade, o que deu origem a conflitos sectários que não existiam antes. Tornaram-se muito violentos.
A violência dos EUA tornou-os piores. Todos conhecemos os crimes. Daqui saíram muitas forças violentas e assassinas. O EI é uma delas. Mas as milícias xiitas não são tão diferentes. Quando dizem que o exército iraquiano está a atacar, provavelmente são principalmente as milícias xiitas co o Exército iraquiano na retaguarda. Quer dizer: a forma como o exército iraquiano entrou em colapso é um facto militar espantoso. Trata-se de um exército de, creio, 350 mil efetivos, pesadamente armado pelos Estados Unidos e treinado pelos Estados Unidos durante dez anos. Apareceram alguns milhares de guerrilheiros e fugiram todos. Os generais, aliás, foram os primeiros a fugir. E os soldados, que não sabiam o que fazer, fugiram em seguida.
Hoje é difícil ver como o Iraque, chegado a este ponto, pode manter-se unificado. Tem sido devastado pelas sanções dos EUA, pela guerra, pelas atrocidades de que é responsável. A política atual, seja ela qual for, não parece credível: é como pôr um penso num cancro.
Democracy Now: Noam, queria perguntar-lhe acerca do Estado Islâmico. A notícia de hoje é que o Iraque está a planear uma grande ofensiva para retomar Mossul.
Atualmente está envolvido em ataques para recapturar Tikrit com o apoio dos EUA. A minha pergunta é sobre a eficácia da estratégia dos EUA. Até que ponto é que a sua política, em termos de eficácia para derrotar o EI, é prejudicada pelas ligações com a Arábia Saudita e a sua recusa de combater ao lado do Irão e de grupos como o Hezbollah, que têm sido eficazes no combate ao EI?
Noam Chomsky: Patrick Cockburn, que fez de longe as melhores reportagens sobre este tema, descreve a situação como uma estratégia de Alice no País das Maravilhas. Os EUA querem destruir o EI, mas opõem-se a todas as forças que estão a combater o EI. O principal Estado que se opõe ao EI é o Irão, que apoia o governo xiita do Iraque. Mas o Irão, como se sabe, é nosso inimigo. Provavelmente as principais tropas terrestres que combatem o EI são o PKK e os seus aliados, que estão na lista de terroristas dos EUA. Eles estão presentes tanto no Iraque quanto na Síria.
A Arábia Saudita, o nosso principal aliado, junto com Israel, é desde há muito o principal financiador do EI e de grupos semelhantes – não necessariamente o governo saudita, mas ricos sauditas e outras pessoas nos emirados – não só o financiador, mas são a fonte ideológica.
A Arábia Saudita está comprometida e é dominada por uma versão fundamentalista e extremista do Islão: a doutrina wahhabita. E o EI é um ramo da doutrina wahhabita. A Arábia Saudita é um Estado missionário. Cria escolas, mesquitas espalhando a sua versão radical do Islão. Assim, eles são os nossos aliados; e os nossos inimigos são os que estão a combater o EI. E é mais complexo.
O EI é uma monstruosidade. Não há muitas dúvidas sobre isso. Não veio do nada. É um dos resultados dos ataques dos EUA a uma sociedade muito vulnerável – o Iraque – com brutalidade, o que deu origem a conflitos sectários que não existiam antes. Tornaram-se muito violentos.
A violência dos EUA tornou-os piores. Todos conhecemos os crimes. Daqui saíram muitas forças violentas e assassinas. O EI é uma delas. Mas as milícias xiitas não são tão diferentes. Quando dizem que o exército iraquiano está a atacar, provavelmente são principalmente as milícias xiitas co o Exército iraquiano na retaguarda. Quer dizer: a forma como o exército iraquiano entrou em colapso é um facto militar espantoso. Trata-se de um exército de, creio, 350 mil efetivos, pesadamente armado pelos Estados Unidos e treinado pelos Estados Unidos durante dez anos. Apareceram alguns milhares de guerrilheiros e fugiram todos. Os generais, aliás, foram os primeiros a fugir. E os soldados, que não sabiam o que fazer, fugiram em seguida.
Hoje é difícil ver como o Iraque, chegado a este ponto, pode manter-se unificado. Tem sido devastado pelas sanções dos EUA, pela guerra, pelas atrocidades de que é responsável. A política atual, seja ela qual for, não parece credível: é como pôr um penso num cancro.
FONTE: Esquerda.net
Isso não parece ser coisa desse mundo onde habitamos, parece ser o inferno em vida que saiu das entranhas da terra e esta dominando o mundo com o maior poder de destruição da raça humana!
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