Ex-presidente, que tentou mudar o nome da
Petrobras para Petrobrax, no que seria o início de um projeto de
desestatização, aproveita-se do barulho em torno da companhia para
defender as políticas dos anos 90; "Cabe às oposições desmistificar
tanto engodo, tomando à unha o pião dos escândalos da Petrobras,
rechaçando a pecha ideológica de 'neoliberal', e reafirmando a urgência
de mudar os critérios de governança das estatais", diz ele; um dos
negócios mais polêmicos da Petrobras, a troca de ativos com a Repsol,
foi fechado na sua gestão; avaliações apontam que o Brasil entregou US$ 3
bilhões e recebeu US$ 750 milhões
247 – Todo o
barulho em torno da Petrobras foi o pretexto encontrado pelo
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para defender sua política de
privatizações. Segundo ele, os casos que vêm sendo explorados pela
oposição – como a compra da refinaria de Pasadena, no Texas – demonstram
que ele estava correto.
No fim de seu governo, FHC tentou
mudar o nome da Petrobras para Petrobrax. Dizia-se, à época, que, assim,
a empresa teria uma identidade mais global, podendo atrair mais
investidores internacionais. O plano, no entanto, foi rechaçado pela
sociedade e FHC abandonou a ideia.
No fim de seu governo, quando era
presidida por Henri Philippe Reichstul, a Petrobras realizou uma
transação extremamente polêmica, que foi contestada judicialmente e hoje
está no Superior Tribunal de Justiça, onde a então relatora, Eliana
Calmon, determinou a realização de uma perícia. A Petrobras
trocou ativos com a espanhola Repsol, recebendo uma refinaria na
Argentina às vésperas da crise cambial no país vizinho e entregando 30%
da Refinaria Alberto Pasqualini, no Rio Grande do Sul, 10% de um campo
de petróleo na Bacia de Campos e mais de 700 postos de combustíveis –
avaliações apontam que o Brasil entregou US$ 3 bilhões e recebeu US$ 750
milhões (leia mais aqui).
FHC afirma que a oposição dever
tomar "à unha o pião dos escândalos" da Petrobras, mas este caso da
Repsol, que já se encontra num tribunal superior, também poderá ser
investigado.
Leia, abaixo, o artigo de FHC:
Quando me empenhei em fazer algumas
reformas e modernizar a estrutura produtiva do Brasil, tanto das
empresas privadas quanto das estatais, não o fiz movido por caprichos ou
por subordinação ideológica. Tratava-se pura e simplesmente de adequar a
produção brasileira e o desempenho do governo aos novos tempos (sem
discutir se bons ou maus, melhores ou piores do que experiências de
tempos passados). Eram, como ainda são, tempos de globalização,
impulsionados por novas tecnologias de comunicação e informação, como a
internet, e por avanços nos sistemas de transporte, como os contêineres,
que permitiram maximizar os fatores produtivos à escala mundial. Daí
por diante a produção se espalhou pelo mundo, independentemente do local
de origem do capital. Os mecanismos financeiros, por sua vez,
englobaram todos os mercados, interligados por computadores.
Nas novas condições mundiais, ou o
Brasil se integrava competitiva e, quanto possível, autonomamente aos
fluxos produtivos do mercado, ou pereceria no isolamento e em
desvantagem competitiva, pelo atraso tecnológico e pela ineficiência da
máquina pública. As privatizações foram apenas parte do processo
modernizador. Tão importante quanto foi a transformação do setor
produtivo estatal. O objetivo era transformar as empresas estatais em
companhias públicas, submetidas a regras de governança, fora do controle
dos interesses político-partidários, capazes de competir e de se
beneficiar das dinâmicas do mercado.
A zoeira das oposições, Lula e PT à
frente, foi enorme. Acusavam o governo de seguir políticas “neoliberais”
e de ser submisso ao “consenso de Washington”. A cada leilão para
exploração de um campo de petróleo (especialmente daquele onde se veio a
descobrir óleo no pré-sal) choviam protestos e mobilizações de
“organizações populares”, bem como ações na Justiça para paralisar as
decisões. Com igual ou maior vigor, as oposições e os setores da
sociedade que ainda não se haviam dado conta das transformações pelas
quais passava a economia global protestavam contra as concessões de
serviço público, como no caso da telefonia, e iam ao desespero quando se
tratava de privatizar uma companhia como a Vale do Rio Doce, ou as
siderúrgicas (que, aliás, foram privatizadas nos governos Sarney e
Itamar).
Alegava-se que as empresas eram
vendidas na bacia das almas, por preços irrisórios. Na verdade, no caso
da telefonia, venderam-se 20% de suas ações, as que garantiam seu
controle, por 22 bilhões de reais, preço que superou em mais de 60% o
valor mínimo estabelecido, Além disso, a privatização permitiu um grande
volume de investimentos nos anos seguintes, sem falar do salto
tecnológico e do aumento de produção que as privatizações renderam ao
país. Passamos, por exemplo, de 2 milhões de celulares nos anos 1990, a
260 milhões hoje em dia.
Dizia-se que as privatizações
reduziriam os empregos, quando houve uma expansão extraordinária deles.
Que a Vale estava sendo trocada por nada, quando foi difícil encontrar
contendores no leilão porque seu valor, na época, parecia elevado e, se
hoje vale bilhões, foi porque houve investimento e ação empresarial
competente (diga-se, de passagem, em impostos, hoje, a Vale paga muito
mais ao governo, por ano, do que pagava em dividendo quando era uma
estatal). A Embraer, de quase falida, passou a ser uma das maiores
empresas do mundo.
Isso tudo foi paralisado a partir do
governo Lula, no afã de manter a pecha sobre o governo anterior de
“vendedor do patrimônio nacional” e de neoliberal. Nada de concessões,
privatizações nem modernização que cheirasse a globalização.
Enquanto os ventos do mundo
favoreceram a valorização das commodities agrominerais, graças à China, e
houve abundância de dólares, a máquina econômica rodou a todo vapor e
deu a ilusão de que bastaria expandir o crédito, baixar os juros, e
incentivar o consumo para o PIB crescer e o bem-estar se generalizar. A
crise financeira global de 2007-2009 ensejou ao governo Lula a
oportunidade, bem aproveitada, de fazer políticas anticíclicas, com
resultados positivos. Terminados os efeitos mais dramáticos da crise, os
governos de Lula e Dilma fizeram uma leitura equivocada: estava dada a
licença para enterrar o passado recente dos anos 1990 e aderir sem
rebuços ao populismo econômico: mais Estado, mais impostos, menos juros,
mais salários, mais consumo e às favas com as concessões e
modernizações, às favas com o papel regulador do estado – pelas agências
–, em relação ao mercado.
Deu no que deu. O governo Dilma,
premido pelas dificuldades de fazer a máquina pública andar e pela
sociedade, que exige melhor qualidade dos serviços, redescobriu as
concessões (ah! mas não são privatizações, dizem, como se outra coisa
tivesse sido feito com as telefônicas...). E as faz mal feitas: pouco
dinheiro privado e muito crédito público. Dá-se conta agora de que a
retomada das empresas estatais pelos partidos, como se vê na Petrobras e
na Caixa, bem como o uso abusivo do BNDES, deu mau resultados. E ainda
houve uma perda bilionária de recursos, criaram-se novos “esqueletos”
(dívidas não reconhecidas publicamente) e contabilidades criativas
impostas para esconder as transferências de recursos não declaradas no
orçamento.
Como deve estar arrependida a presidente Dilma, no caso da Petrobras, de não se haver desembaraçado do ônus político legado por seu antecessor, que permitiu ao interesse privado e político penetrar a fundo nas empresas estatais...
Como deve estar arrependida a presidente Dilma, no caso da Petrobras, de não se haver desembaraçado do ônus político legado por seu antecessor, que permitiu ao interesse privado e político penetrar a fundo nas empresas estatais...
Apesar de tudo, PT e governo já
estão se preparando para enganar o povo na próxima campanha eleitoral
fazendo-se de defensores do interesse popular, como se esse se
confundisse com estatização e hegemonia partidária, e estigmatizando os
adversários como representantes das elites e fiadores dos interesses
internacionais.
Cabe às oposições desmistificar
tanto engodo, tomando à unha o pião dos escândalos da Petrobras,
rechaçando a pecha ideológica de “neoliberal”, e reafirmando a urgência
de mudar os critérios de governança das estatais.
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