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segunda-feira, 7 de abril de 2014

42 milhões nada, Astra pagou quase US$ 500 milhões por Pasadena



Por: Miguel do Rosário

As coisas vão ficando mais claras.
As últimas informações de que dispomos já nos permitem uma avaliação mais precisa sobre o montante investido pela Astra para iniciar suas operações na refinaria de Pasadena. 
Alguns dados já eram de domínio público. Mas faltavam algumas peças no quebra-cabeça. Por exemplo, quanto a Astra havia pago pelos estoques de Pasadena, quando iniciou o processo de aquisição da refinaria, em meados de 2004?
- US$ 42,5 milhões pelas ações da companhia (fonte: relatório daNPM/CNP).
- US$ 55 milhões pelos estoques (fonte: consultora Jefferies & Cafezinho).
- US$ 300 milhões na Astra trading (Valor).
- US$ 84 milhões em investimentos em maquinários (fonte: Globo).
Total: US$ 481,5 milhões.
Quase todos os links acima são abertos, com exceção do Valor, de maneira que reproduzo um trecho da matéria que fala dos US$ 300 milhões investidos pela Astra na trading de Pasadena.
“Conforme o acordo de acionistas, ao qual o Valor teve acesso, o prêmio de 20% valeria tanto para os 50% restantes do ativo refinaria, avaliado em março de 2006 por US$ 378 milhões, como para a trading, que tinhapreço de referência inicial de US$ 300 milhões, que era o “capital comprometido” pela Astra no negócio até a assinatura do acordo.”
Esses números nos levam a duas conclusões: 1) nenhuma empresa investiria quase meio bilhão de dólares numa “sucata”. 2) Tome sempre muito cuidado com o que lê.
E olha que nem estou considerando possível incorporação das dívidas da refinaria pelo novo dono.
Aliás, o blog da Petrobrás, até então parado qual um cadáver, parece ter mexido um dedinho do pé, como uma pessoa em coma que tenta mostrar que está vivo. Postagem de ontem revela que as refinarias no Brasil controladas pela estatal bateram um novo recorde mensal de produção, processando 2,151 milhões de barris. O volume foi 12 mil barris superior ao recorde, anterior, de julho de 2013.
Agora precisamos saber a produção, o faturamento e o lucro de Pasadena nos últimos dois anos. Reportagem da Folha apurou que ela registrou boas margens de lucro no período. O ex-presidente da Petrobrás, Sérgio Gabrielli, também afirmou que a refinaria dá lucro. A própria Graça Foster, presidente da estatal, que geralmente é lacônica em tudo que se refere a dados da empresa, já declarou que Pasadena está processando a pleno vapor. Queremos conferir isso direitinho, preto no branco. Até porque a imprensa agora começou a somar gastos de Pasadena com serviços e obras ao custo de aquisição, o que é um delírio total, servindo apenas para fazer sensacionalismo. Começam a surgir notícias do tipo: “custo de pasadena pode ter sido ainda maior”, etc.
Pasadena tem faturamento bruto talvez superior a US$ 1 bilhão. Suas despesas, naturalmente, são altas, mas devem ser abatidas de seu faturamento. Isso é óbvio. Quanto mais rápido, a Petrobrás trazer dados, evitará a consolidação de ideias preconceituosas, baseada em informações distorcidas, contra a estatal.
Outra coisa que está ficando mais clara é a natureza estratégica da localização de Pasadena, no canal de Houston. Agora que a China começou a construir uma outra passagem oceânica no Panamá, ligando Atlântico e Pacífico, a região do Golfo do México ganhará uma importância geopolítica ainda maior. Um relatório recente de uma agência de energia do governo americano diz que as margens das refinarias no país cresceram muito nos últimos meses e devem continuar crescendo durante bastante tempo, impulsionadas pelo aumento da demanda interna e pelas novas fontes de suprimento no Texas e no golfo.
Não seria uma ironia curiosa se Pasadena, pintada como sucata, inútil, mau negócio, de repente se tornasse um dos ativos estrategicamente mais importantes da Petrobrás no exterior?

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