Lá
não é socialmente aceito, por exemplo, que grandes empresas — como a
Globo faz no Brasil — deixem de pagar o imposto devido mediante
artifícios legais mas imorais.
Uma lista traz o índice de desenvolvimento humano no planeta, o IDH.
Não é surpresa, na lista, a estupenda posição dos países
escandinavos. E este é meu ponto: por que eles ainda hoje não são
referência de progresso social para o Brasil? Por que, sendo tão
inspiradores na combinação de liberdade de mercado com proteção do
Estado à sociedade, são ignorados nos debates?
Vou sempre que posso à Escandinávia. Já no aeroporto você sente que está num lugar especial.
Na lista em questão, a Noruega ficou em primeiro. Suécia, Dinamarca,
Finlândia e Islândia estavam entre os primeiros 20 colocados.
Se você der um Google em busca dos diversos levantamentos que aferem o
grau de satisfação das pessoas de um país, a Escandinávia sempre
aparece no topo. Minha primeira temporada escandinava se deu na
Dinamarca, onde fui em 2009 para escrever uma reportagem sobre as razões
de ela costumeiramente ser a campeã na satisfação.
Foi lá que conheci a Janteloven, as leis de Jante, uma cidade
imaginária criada por um romancista escandinavo que simboliza o espírito
local. Basicamente, ninguém tem o direito de se sentir melhor que
ninguém. Lembro de um lixeiro de Copenhague que, nas horas vagas, era
técnico do time de handebol da escola pública – e boa – de suas filhas
adolescentes. Numa escala de 0 a 10, ele definiu como 8 o seu grau de
satisfação.
Pense na sua e veja quanta coisa temos a aprender com a Escandinávia.
Outro dia o Diário publicou um artigo sobre o que significa ser mãe
na Noruega. Por exemplo, licença maternidade de 11 meses com salário
completo e volta garantida ao trabalho, ou 13 meses com 80% do salário.
Fora isso, um subsídio do governo é oferecido à mãe que queira ficar
mais tempo em casa com as crianças.
Um sinal do foco nas crianças é o desfile no Dia Nacional da Noruega,
17 de maio. Em quase todos os países, você vê paradas militares. Na
Noruega, quem sai às ruas são as crianças.
Lá, é socialmente inaceitável não pagar os impostos justos. A
sociedade estabeleceu um consenso segundo o qual os impostos são o preço
a pagar para você viver num ambiente quase utópico. Escola gratuita,
saúde gratuita, nada de contrastes chocantes entre riqueza extrema (de
poucos) e pobreza miserável (muitos).
Você não consegue imaginar, no ambiente norueguês, uma empresa
bilionária como a Globo fugindo tão abertamente, tão descaradamente dos
impostos, com a conhecida prática da PJ. Você também não consegue
imaginar um âncora de tevê como Boris Casoy dizendo que lixeiro não pode
ser feliz. Você também não consegue imaginar uma jornalista da estatura
de Mônica Waldwogel zombando, histericamente, de ciclistas diante das
câmaras.
Se eu for fazer a lista das coisas brasileiras que você não consegue imaginar na Escandinávia, ficaremos aqui alguns anos.
O Diário se orgulha de ter, desde seu nascimento, fixado na
formidável Escandinávia um modelo a ser perseguido. E, de pé, manda
aplausos entusiasmados para a campeã de IDH Noruega e seus maravilhosos
vizinhos.
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