Um clima de desencanto se espalhou pelo país com a enxurrada de más notícias que se abatem sobre o país, como as pragas do Egito. Alta na inflação, falta d’água, risco de apagão, atraso nas obras da Copa, intervenção na Olimpíada, corrupção na Petrobras e em tantas outras esferas de governo – a situação realmente não está fácil.
de Hélio Gurovitz, em editorial da revista Época
As dez pragas do Egito, segundo a Wikipedia: conversão de águas em sangue, invasão de rãs, piolhos e moscas, doenças nos animais, úlceras e tempestade de granizo, nuvens de gafanhotos, trevas e morte dos primogênitos.
Da Pesquisa Indicadores de Progresso Social 2014:
Impressionante os Estados Unidos, com um PIB quatro vezes e meia maior do que o Brasil, terem um indicador de saúde e de bem estar (esperança de vida, morte por doenças entre 30 e 70, taxas de obesidade, mortes por poluição do ar, taxa de suicídios) significativamente pior do que o Brasil. Situação pior ainda em sustentabilidade, devido em particular à massa de emissões de gases de efeito de estufa, uso da água além das reservas e redução de biodiversidade e habitat natural. A Argentina, aliás, fica pior ainda neste quesito. Os itens críticos para o Brasil, naturalmente, são os de segurança, com 37,50 pontos, e de acesso à educação superior, com 38,09 pontos. Na análise dos autores, “entre os países dos BRICS, o Brasil apresenta o perfil de progresso social mais forte e mais “equilibrado”. Apresenta alguma fraqueza em Necessidades Humanas Básicas (puxada pelo score muito baixo de 37,50 para Segurança Pessoal), mas apresenta uma performance consistentemente boa em todos os componentes tanto dos Fundamentos de Bem Estar como de Oportunidades, com exceção de Educação Superior (38,09, 76º).” Comparando com o conjunto dos BRICS, o relatório considera que “quatro dos cinco BRICS fazem parte do quarto nível, inclusive Brasil 46º com um score de 69,97, África do Sul 69º com 62,96, Rússia 80º com 60,79, e China 90º com 58,67. A Índia fica fora dos 100 primeiros em termos de progresso social, com um score mal superando 50. Os países da América latina estão bem representados no quarto grupo. Argentina 42º, Brasil 46º, e Colômbia, México e Peru colocados nos lugares 52º, 54º e 55º respectivamente”.
Dilemas da mídia na democracia
O dilema, na democracia, não é entre uma imprensa calada ou essa que
temos. Uma imprensa monopolizada por algumas famílias, que atua como um
partido político.
A Presidente Dilma Rousseff costuma dizer que “prefere a imprensa
barulhenta que calada”. Só que esse dilema se colocava na ditadura,
quando a imprensa podia ser calada pela ditadura e era preferível que,
qualquer que fosse sua orientação, permanecesse livre para expressá-la.
Na democracia as opções são outras. Ninguem quer calar a imprensa.
Essa é a versão que ela busca dar das propostas de democratização dos
meios de comunicação. Estas, ao contrário, não querem que ninguém deixe
de falar, mas que muito mais gente, oxalá todos, possam se expressar.
O dilema, na democracia, não é, então, entre uma imprensa calada ou
essa que temos. Uma imprensa monopolizada por algumas famílias, que
define o que diz, como, quando, que pretende ser o partido de oposição,
que distorce e/ou esconde a verdade. Uma imprensa financiada pelas
agências de publicidade e, através destas, pelas grandes empresas, que
colocam publicidade e, por meio delas, condicionam o funcionamento da
imprensa.
Uma imprensa que escolhe quem vai escrever, como e quando,
alinhando-se abertamente – conforme confissão explicita disso – como
partido politico da oposição. Uma imprensa que, apenas dos índices
econômicos revelarem o oposto: a economia cresce, aumenta o nível de
emprego, os salários sobem acima da inflação, a inflação está controlada
– cria um clima de incerteza, de preocupação, de insegurança, que por
sua vez, se reflete em pesquisas manipuladas. Essa a imprensa que temos
hoje, que condiciona as chamadas “agências de risco”, que pressiona
sistematicamente o governo pelo aumento da taxa de juros, que representa
não a população, mas o capital financeiro.
A alternativa a essa mídia antidemocrática não é calá-la. É
democratizar a formação da opinião publica, limitando o poder
monopolista dos meios atuais, abrindo canais alternativos da mídia – TV,
rádio, jornais, internet. Ao não avançar em nada nessa direção, o
governo é vitima da monopolização antidemocrática da mídia.
A mídia criou um clima de “terrorismo econômico”. E no marco de um
modelo hegemonizado pelo capital especulativo, sumamente volátil e
sensível a movimentos bruscos, esse clima tem efeito, aqui e lá fora. E o
governo assiste impassível a essas manobras que anulam as tentativas do
governo de canalizar recursos para os investimentos produtivos. O
governo reage defensivamente, aumentando sucessivamente a taxa de juros
diante do fantasma artificialmente construído do risco inflacionário.
Reage exatamente como os especuladores e seus ventríloquos na mídia
desejam – aumentando as tendências recessivas, pela atração dos capitais
para a especulação.
Os boatos, o pânico forjado, o terrorismo da inflação, ao não ter
respostas politicas, se tornam forças materiais e as auto profecias se
cumprem, deixando o governo em um circulo vicioso. Sem democratização
dos meios de comunicação, quebrando essa cadeia antidemocrática e
especulativa, nem sequer a retomada do crescimento econômico será
possível e sustentável. O dilema da mídia na democracia não é entre
mídia monopolista ou silêncio, mas entre terrorismo econômico da
ditadura midiática ou democratização dos meios de comunicação.
Fonte: Viomundo
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