Ex-ministro alemão diz que Marina ia suspender acordo de tecnologia nuclear; Dilma não deixou. Fez muito bem
Por: Fernando Brito
Tem grande destaque no site da agência de notícias alemã Deutsche Welle a
declaração do ex-ministro alemão do Meio Ambiente, Jürgen Trittin, do
Partido Verde, de que ele e a ex-ministra Marina Silva tentaram
encerrar o Acordo Nuclear Brasil-Alemanha e foram impedidos por Dilma
Rousseff, então Ministra das Minas e Energia.
Dilma fez muito bem
nisso e só quem não conhece a história da tecnologia nuclear no Brasil
pode achar simpática esta sandice de tirar do Brasil a capacidade de
desenvolve-la.
Para começar, ninguém cogita, hoje, no Brasil de
construir bombas nucleares, embora Fernando Henrique Cardoso tenha
sujeitado o país ao que nem a ditadura americanófila que tivemos aqui
fez: aderir unilateralmente ao Tratado de Não-Proliferação de Armas
Nucleares.
Não fazê-las é uma coisa, mas nos proibirmos de
desenvolver conhecimento e domínio dos processos tecnológico-industriais
dos combustíveis nucleares sem que os países que detêm tecnologia
bélica nuclear se desarmem também é outra, bem diferente.
Mas o campo aqui é o da energia.
Antes
do acordo com a Alemanha, feito nos anos 70, tínhamos um acordo com o
EUA que resultou na compra da problemática usina de Angra I, fabricada
pela Westighouse, vendida como pacote fechado, sem a inclusão de
transferência de conhecimento sobre os processos de enriquecimento de
urânio.
Três anos depois, os americanos anunciaram que não venderiam mais urânio enriquecido e ficamos pendurados no vazio.
O
acordo com a Alemanha veio como resposta a esta situação e foi a partir
dele que desenvolvemos o conhecimento significativamente avançado que
temos hoje de tecnologia nuclear.
O Brasil não usa senão
marginalmente a energia nuclear na sua matriz energética: ela
representa menos de 2% do total de nossa produção energética. Na França,
são 40%, na Suécia 33%, na Alemanha, 18% e nos EUA, 10%.
Exceto na Alemanha, nenhum deles fala em desmontar suas plantas nucleares.
E isso deixa aquele país mais “limpinho e cheiroso”?
Ao contrário, sequer consegue cumprir as cotas de emissão de CO2: entre 2011 e 2012, a produção de energia com carvão aumentou muito: 4,7% com linhito e 5,5% com hulha, 5,5%.
Com
toda a propaganda sobre as usinas eólicas e solares, a fonte de energia
que mais cresceu na Alemanha na primeira década do século 21 foi a
fóssil: o carvão (hulha e linhito) responde por 44% da geração elétrica
alemã.
O mundo nunca produziu tanto carvão, o mais poluente dos combustíveis.
A produção mundial de carvão aumentou 69% entre 2000 e 2012, atingindo 7,9 mil milhões de toneladas.
E
rendendo muito dinheiro: atraíram investimentos de 118 bilhões de
euros, 70% deles vindos de apenas 20 bancos gigantes, liderados pelo
Citi (7,29 bilhões de euros), seguido do Morgan Stanley ( € 7,23 bi),
Bank of America (6,56 bi ), JP Morgan Chase, Deutsche Bank, Crédit
Suisse, Banco Industrial e Comercial da China, Royal Bank of Scotland,
Bank of China e BNP Paribas.
As pessoas que, com razões respeitáveis,
têm restrições à energia nuclear à energia nuclar não podem entrar de
gaiato numa história que nos veda acesso a conhecimento científico e a
comportamento que eles próprios não têm.
Afinal, quando perguntaram aos alemães se o carvão deveria ser abolido como fonte de energia no país, 80% deles disseram que não.
Nos olhos dos outros é refresco, não é?
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