Não haverá muitas
fotografias de Santiago Carrillo enquanto dirigente comunista durante o período
da República Espanhola (1931-1939), mas o que é surpreendente é mesmo a sua
notoriedade e a celeridade como ele ascendeu internamente dentro das estruturas,
considerando que, nascido em 1915, Santiago Carrillo apenas completara 24 anos
quando a República reconheceu que perdera a Guerra Civil de Espanha contra
Franco (1 de Abril de 1939).
A partir daí, as histórias
dos exílios dos dois partidos comunistas ibéricos adquirem traços em comum. Em
1960, um Álvaro Cunhal (apenas catorze meses mais velho que Carrillo) evade-se
espectacularmente da prisão e vem retomar o controlo do partido português a
partir do exterior e Santiago Carrillo assume formalmente a direcção do
espanhol. Ambos teriam que esperar um pouco mais de uma dúzia de anos (14 e 17,
respectivamente) para regressarem às suas pátrias.
Mas, nesta convergência
ideológica, de circunstâncias (oposição às duas ditaduras) e de percursos, há
que realçar uma nítida divergência de perfis entre os dois dirigentes
comunistas. Por exemplo, enquanto Cunhal fez da identidade do seu pseudónimo
Manuel Tiago um tabu apenas desvendado em 1994, Carrillo nunca se inibiu de destacar o burlesco do episódio da peruca amaricada que tivera de envergar quando do
seu regresso clandestino a Espanha em 1977.
Vale a pena destacar estes
aspectos da vida de um comunista de sempre para realçar como a severidade
que Álvaro Cunhal parece ter deixado impregnada no estilo dos comunistas
portugueses não é indispensável para a sua causa. A evocação que recentemente foi feita a este último no XIX Congresso do PCP pareceu-me ter ultrapassado os domínios
da admiração para a devoção e roçou mesmo os domínios do religioso naquilo que parecia ter-se tornado uma assembleia da IURD.
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