NIEMEYER OU O BRASIL EM CURVAS
"Não é a linha reta, dura e inflexível, feita pelo homem, que me atrai. O que me chama a atenção é a curva livre e sensual. A curva que encontro nas montanhas de meu país, nas margens dos seus rios, nas nuvens do céu, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida"
"Baudelaire disse que a surpresa e o espanto são as características básicas de uma obra de arte. É o que penso. Camus diz em O Estrangeiro que a razão é inimiga da imaginação. Às vezes, você tem de botar a razão de lado e fazer uma coisa bonita”Oscar Niemeyer
Oscar Niemeyer, um dos últimos gênios brasileiros
do século XX, morreu a dez dias de completar 105 anos. Sua obra maior, Brasília, provoca polêmica até
hoje. Para o escritor e ministro da Cultura de De Gaulle, André Malraux, trata-se
nada menos que a invenção arquitetônica mais importante desde as colunas gregas.
Para os críticos, Brasília e outras obras como o Memorial da América Latina revelam
uma concepção stalinista de urbanismo, com divisões por setores, prioridade
para automóveis e quase nenhuma acessibilidade.
Seja como for, ninguém pode negar o caráter
revolucionário da obra arquitetônica de Niemeyer, nem a coerência de sua militância
política.
Niemeyer, sua mulher, Anita, Vinícius de Moraes, Tom Jobim |
Carioca do bairro das Laranjeiras, Oscar Ribeiro de Almeida
Niemeyer nasceu em 15 de dezembro de 1907, simbolicamente pouco tempo
depois da execução dos planos de urbanização do Rio promovidos pelo
prefeito Pereira Passos. Filho de família tradicional – seu avô foi
ministro do Supremo Tribunal Federal e hoje é nome de rua no Rio – Niemeyer
primeiro começou a trabalhar como tipógrafo, auxiliando o pai. Em
1929, entrou para a Escola Nacional
de Belas Artes, onde formou-se engenheiro arquiteto em 1934.
A partir daí, a trajetória profissional de Niemeyer se cruza de maneira fundamental com a do também arquiteto Lúcio Costa. Foi no escritório que Costa dividia com Carlos Leão que Niemeyer começou sua carreira, em 1935. Mesmo precisando de dinheiro para sustentar uma família em formação, Niemeyer começou trabalhando de graça, com o objetivo de se aperfeiçoar.
Seria ali que, no ano seguinte, na equipe que participou do projeto da sede do Ministério da Educação e Saúde, Niemeyer conheceria outros dois nomes importantes para sua formação: o ministro Gustavo Capanema e o arquiteto suíço Le Corbusier, o papa do modernismo arquitetônico.
Le Corbusier foi uma das poucas influências declaradas de Niemeyer, mas com o tempo o brasileiro foi desenvolvendo seu próprio estilo e distanciando-se dos cânones estabelecidos pelo suíço. Foi Corbusier quem primeiro diagnosticou a obsessão de Niemeyer por curvas com uma observação metafórica.
— Você tem as curvas dos morros do Rio na retina.
Gustavo Capanema não era arquiteto, mas foi o responsável pelo que o próprio Niemeyer considerava o marco inicial de sua arquitetura. Foi Capanema quem, em 1940, apresentou o arquiteto carioca ao então prefeito de Belo Horizonte Juscelino Kubitschek. A essa altura, Niemeyer já havia desenvolvido projetos no Rio e em parceria com Lúcio Costa na Feira Mundial de Nova York, mas foi com a Pampulha, na capital mineira, que seu nome ganhou projeção. Ali, o próprio arquiteto descobriu seu estilo de formas leves e sinuosas de concreto.
— Sem a Pampulha não teria havido Brasília — reconhecia Niemeyer.
A partir daí, a trajetória profissional de Niemeyer se cruza de maneira fundamental com a do também arquiteto Lúcio Costa. Foi no escritório que Costa dividia com Carlos Leão que Niemeyer começou sua carreira, em 1935. Mesmo precisando de dinheiro para sustentar uma família em formação, Niemeyer começou trabalhando de graça, com o objetivo de se aperfeiçoar.
Seria ali que, no ano seguinte, na equipe que participou do projeto da sede do Ministério da Educação e Saúde, Niemeyer conheceria outros dois nomes importantes para sua formação: o ministro Gustavo Capanema e o arquiteto suíço Le Corbusier, o papa do modernismo arquitetônico.
Le Corbusier foi uma das poucas influências declaradas de Niemeyer, mas com o tempo o brasileiro foi desenvolvendo seu próprio estilo e distanciando-se dos cânones estabelecidos pelo suíço. Foi Corbusier quem primeiro diagnosticou a obsessão de Niemeyer por curvas com uma observação metafórica.
— Você tem as curvas dos morros do Rio na retina.
Gustavo Capanema não era arquiteto, mas foi o responsável pelo que o próprio Niemeyer considerava o marco inicial de sua arquitetura. Foi Capanema quem, em 1940, apresentou o arquiteto carioca ao então prefeito de Belo Horizonte Juscelino Kubitschek. A essa altura, Niemeyer já havia desenvolvido projetos no Rio e em parceria com Lúcio Costa na Feira Mundial de Nova York, mas foi com a Pampulha, na capital mineira, que seu nome ganhou projeção. Ali, o próprio arquiteto descobriu seu estilo de formas leves e sinuosas de concreto.
— Sem a Pampulha não teria havido Brasília — reconhecia Niemeyer.
A partir do sucesso da primeira parceria entre ambos, Niemeyer seria
procurado quase duas décadas mais tarde por Kubitschek, agora presidente,
para desenvolver sobre o plano-piloto do amigo Lúcio Costa a nova
capital da República, no meio do cerrado. Brasília seria o palco para
algumas das mais radicais experimentações de Niemeyer — a mais simbólica
as colunas do Palácio da Alvorada, aclamadas pelo ministro da Cultura
de De Gaulle, André Malraux, como a "invenção arquitetônica
mais importante desde as colunas gregas".
Obcecado pela novidade e pela busca de soluções originais, Niemeyer deixou em mais de 70 anos de atividade cerca de mil projetos, mais da metade já executados. Sua mais recente obra ainda em execução é o chamado Caminho Niemeyer, na cidade de Niterói, um complexo de construções e esculturas assinadas pelo artista em uma área que se inicia na Estação das Barcas, no centro de Niterói, e termina no Museu de Arte Contemporânea — também projetado pelo arquiteto —, na praia da Boa Viagem.
Obcecado pela novidade e pela busca de soluções originais, Niemeyer deixou em mais de 70 anos de atividade cerca de mil projetos, mais da metade já executados. Sua mais recente obra ainda em execução é o chamado Caminho Niemeyer, na cidade de Niterói, um complexo de construções e esculturas assinadas pelo artista em uma área que se inicia na Estação das Barcas, no centro de Niterói, e termina no Museu de Arte Contemporânea — também projetado pelo arquiteto —, na praia da Boa Viagem.
As curvas de um revolucionário
Complexo
da Pampulha
Entre 1940 e 1944, Niemeyer projetou no bairro da Pampulha, em Belo Horizonte, um cassino (hoje Museu de Arte da Pampulha), um restaurante, um clube náutico, a igreja de São Francisco e a Casa de Baile. O projeto marca o estágio em que ele abandona o ângulo reto em favor das curvas — a igreja que lembra um hangar é um exemplo.
Sede das Nações Unidas em Nova York
Entre 1940 e 1944, Niemeyer projetou no bairro da Pampulha, em Belo Horizonte, um cassino (hoje Museu de Arte da Pampulha), um restaurante, um clube náutico, a igreja de São Francisco e a Casa de Baile. O projeto marca o estágio em que ele abandona o ângulo reto em favor das curvas — a igreja que lembra um hangar é um exemplo.
Sede das Nações Unidas em Nova York
Em 1946, junto
com outros 10 arquitetos, Niemeyer foi convidado a orientar o projeto
da nova sede da ONU em Nova York. O desenho final do edifício combinou
dois projetos: o que havia sido apresentado pelo antigo mestre de
Niemeyer, Le Corbusier, e o plano do próprio Niemeyer.
Museu de Arte Contemporânea
Museu de Arte Contemporânea
Museu em forma de nave espacial ou um cálice pousado sobre um rochedo
à beira mar na Praia da Boa Viagem, em Niterói, projetado por Niemeyer
em 1996. Foi escolhido por uma das revistas de turismo mais conceituadas
do mundo uma das sete novas maravilhas do mundo.
Brasília
Brasília
Em 1956, Juscelino
Kubitschek, então presidente da República, encomendou ao arquiteto
um projeto para a construção da nova capital. Niemeyer sugeriu que
fosse aberto concurso nacional para o plano da cidade. Lúcio Costa
ganhou e Niemeyer projetou, sempre em busca da liberdade criativa,
os principais prédios públicos da cidade. Entre eles, o Palácio da Alvorada,
a catedral de Brasília, o Palácio do Planalto, o Supremo Tribunal
Federal, Ministério da Justiça, Congresso Nacional, a catedral, o
Teatro Nacional e a Praça dos Três Poderes
Memorial da América Latina
Memorial da América Latina
O empreendimento projetado por Niemeyer em 1989 foi criado com o
objetivo de reunir as mais expressivas manifestações culturais do
continente no memorial em
São Paulo. Segundo o arquiteto, o que fez com mais prazer
foi a escultura de concreto com sete metros de altura, com o mapa do
continente de onde escorre sangue. A obra significaria, segundo Niemeyer,
um protesto contra a América Latina sacrificada.
Contradições generosas de um gênio moderno
Ao longo de quase 70 anos de atividade, o gênio de Oscar Niemeyer equilibrou as próprias contradições tão bem como as formas que saíam de sua prancheta se equilibravam no ar em curvas ousadas.
Em Niemeyer vários personagens conviviam no mesmo homem: o ateu mestre em projetar igrejas, o comunista fervoroso que trabalhou estreitamente com vários governos capitalistas e até o homem que via no casamento uma ilusão burguesa, mas que vivia desde 1928 com a mesma mulher, Annita Baldo.
Niemeyer era um comunista ortodoxo, a ponto de se desligar do Partido Comunista Brasileiro em 1990, quando este renegou suas origens depois da implosão do bloco soviético. Ainda assim, algumas de suas obras mais marcantes foram desenhadas por encomendas de governos do Ocidente capitalista — ele só foi contratado para um projeto em Moscou depois da queda do comunismo. Brasília foi apenas o exemplo mais significativo — e também o mais irônico, já que apenas quatro anos depois de inauguradas, as salas que Niemeyer havia projetado para abrigar o poder presidencial passaram a ser ocupadas por governantes militares que se sentiram muito à vontade na nova Capital. Gradualmente, o arquiteto se viu impedido de trabalhar no Brasil a acabou mudando-se para Paris.
Nas suas declarações pró-socialismo, Niemeyer era um sonhador, o que contrastava com o pragmatismo profissional que manifestava ao falar de sua própria atuação como arquiteto contratado. Dizia que a clientela para seu trabalho eram "a classe dominante e o próprio Estado".
— Na mesa de desenho, nós, arquitetos, nada podemos fazer nesse sentido... a tarefa única é protestar contra a miséria e a opressão e juntos lutarmos por um mundo melhor e mais justo — escreveu em A Arquitetura Moderna no Brasil.
— Sou realista e sei muito bem como as coisas são precárias e ilusórias diante do tempo que tudo vai diluir e esquecer — justificava.
Contradições generosas de um gênio moderno
Ao longo de quase 70 anos de atividade, o gênio de Oscar Niemeyer equilibrou as próprias contradições tão bem como as formas que saíam de sua prancheta se equilibravam no ar em curvas ousadas.
Em Niemeyer vários personagens conviviam no mesmo homem: o ateu mestre em projetar igrejas, o comunista fervoroso que trabalhou estreitamente com vários governos capitalistas e até o homem que via no casamento uma ilusão burguesa, mas que vivia desde 1928 com a mesma mulher, Annita Baldo.
Niemeyer era um comunista ortodoxo, a ponto de se desligar do Partido Comunista Brasileiro em 1990, quando este renegou suas origens depois da implosão do bloco soviético. Ainda assim, algumas de suas obras mais marcantes foram desenhadas por encomendas de governos do Ocidente capitalista — ele só foi contratado para um projeto em Moscou depois da queda do comunismo. Brasília foi apenas o exemplo mais significativo — e também o mais irônico, já que apenas quatro anos depois de inauguradas, as salas que Niemeyer havia projetado para abrigar o poder presidencial passaram a ser ocupadas por governantes militares que se sentiram muito à vontade na nova Capital. Gradualmente, o arquiteto se viu impedido de trabalhar no Brasil a acabou mudando-se para Paris.
Nas suas declarações pró-socialismo, Niemeyer era um sonhador, o que contrastava com o pragmatismo profissional que manifestava ao falar de sua própria atuação como arquiteto contratado. Dizia que a clientela para seu trabalho eram "a classe dominante e o próprio Estado".
— Na mesa de desenho, nós, arquitetos, nada podemos fazer nesse sentido... a tarefa única é protestar contra a miséria e a opressão e juntos lutarmos por um mundo melhor e mais justo — escreveu em A Arquitetura Moderna no Brasil.
— Sou realista e sei muito bem como as coisas são precárias e ilusórias diante do tempo que tudo vai diluir e esquecer — justificava.
Breviário da Autodecomposição/Com informações do jornal Zero Hora
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