Lago Juá antes e depois da agressão e das incompreensões
A primeira imagem foi
feita no dia 31 de dezembro de 2011. A segunda, um ano depois,
justamente no dia 11 de dezembro de 2012. A primeira mostra o Lago Juá,
no município de Santarém, quando ainda não se suspeitava que um plano de
agressão ambiental estava sendo gestado, sob a forma de um loteamento
clandestino, que viria ameaçar o lago, as praias próximas, do Rio
Tapajós e uma pequena reserva ambiental. A segunda, é a mostra da ferida
aberta numa área verde quase dentro da cidade.
Fotos: MDutra
O Juá antes da agressão, há um ano |
O loteamento foi embargado depois de inúmeros protestos e ações na
justiça. Por enquanto. Há duas semanas um numeroso grupo de pessoas
manifestou-se na margem da Rodovia Fernando Guilhon, entre a cidade e o
aeroporto, onde se localiza o empreendimento. Nesse momento, milhares de
vozes se levantaram contra a maior agressão ambiental urbana da
Amazônia. Mas houve também vozes irritadas com os protestos e com a
interrupção do loteamento.
Hoje, depois que os especuladores invadiram |
No meio das vozes insatisfeitas houve claras manifestações de pessoas da
empresa Buriti ou a ela ligadas. E houve também manifestações de
pessoas que se mostram favoráveis ao que chamam de "progresso", de
"necessidade de expansão urbana", etc.
Duvido que, entre os que protestaram e continuam protestando haja alguém
que seja contrário ao progresso e ao crescimento da cidade, até porque a
expansão urbana independe do desejo deste ou daquele. É um fenômeno
brasileiro e universal. A questão repousa em como se processa esse
crescimento.
Como escrevi aqui naqueles dias, a questão não é o loteamento em si, mas
a forma como ele está sendo realizado e a forma como foi concedida
licença para tal empreendimento. Para ser claro, ali nas margens do
igarapé que forma o Lago Juá o que está ocorrendo é a mais desabrida
especulação imobiliária que só beneficiará os que "venderam" o terreno e
aqueles que o adquiriram. Se essa coisa for levada adiante, quem
perderá e já está perdendo é a população de Santarém e todas as famílias
que ali por ventura vierem a morar. O que está em gestação é uma
gigantesca favela que não beneficiará ninguém que ali for residir.
Acredito que naquele espaço pode, sim, ser feito um loteamento, desde
que obedecendo às regras mínimas de qualquer projeto de urbanização,
projeto que a prefeitura não tem porque prefeito após prefeito governam
na base da improvisação, seja nessa cidade amazônica, seja em milhares
de outras.
Em primeiro lugar, que se realize um projeto de ocupação daquela área
que é um filé dentro do traçado urbano de Santarém. Que, em vez do
absurdo de 21 mil lotes, esse volume seja reduzido a apenas 5 ou 8 mil
lotes. Que a área já devastada seja recuperada, dentro de um projeto
publicamente debatido, para replantio da vegetação brutalmente arrancada
em poucos meses. Que sejam traçadas ruas largas, desenhadas praças,
reserva para um bosque e outras áreas de uso público. E que parte da
imensa área de mais de mil hectares seja destinado à Universidade
Federal do Oeste do Pará. São apenas ideias. O que é inaceitável é que
essa ferida prossiga sua ação cancerosa e que os responsáveis não sejam
punidos por esse crime.
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