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terça-feira, 1 de abril de 2014

LÚCIO FLÁVIO PINTO FALA DE JADER BARBALHO: BARRIGADA 'LIBERAL'

JADER BARBALHO, O 'ENJEITADO'

Por Lúcio Flávio Pinto em 01/04/2014 na edição 792 
Reproduzido do Jornal Pessoal nº 557, segunda quinzena/ março de 2014

A mentira tem pernas curtas, ensina o povo. No jornalismo, é como um bumerangue: quem lança mentira a recebe de volta. O Liberal foi atingido mais uma vez por suas mentiras contumazes. 
O jornal garantiu, durante dias seguidos, que os assessores da Presidência da República recomendaram o afastamento do senador Jader Barbalho da comitiva de Dilma Rousseff, que veio ao Pará, na semana passada.
“O que se diz é que o Palácio do Planalto avalia a repercussão negativa na mídia nacional que seria a presença de um Barbalho no palanque da presidente Dilma!, garantiu a principal coluna do jornal.
Aconteceu justamente o inverso: a presidente tomou o café da manhã no hotel com o líder do PMDB e o seu filho, Hélder Barbalho, pré-candidato da coligação (ainda informal) PMDB-PT ao governo do Estado. Segundo os Barbalhos, à saída desse encontro, a conversa durou duas horas, com uma vasta pauta tratada.
Para arrematar o desmentido aos anúncios reiterados na coluna “Repórter 70”, do jornal dos Maiorana, a presidente colocou os dois Barbalho no seu avião e almoçou com eles no caminho de Belém a Marabá. O palanque presidencial também os acolheu e a posição de Hélder, ao fundo, não foi determinada por qualquer prevenção moral, mas pelas regras do cerimonial. Foi por isso que o governador Simão Jatene ficou ao lado do presidente, a um metro e meio de Jader, um dos políticos federais na primeira linha, juntamente com os ministros.
 
Sem consistência
A deferência explica a empolgação de Hélder Barbalho. Ao sair do café da manhã, ele disse acreditar na possibilidade de vitória já no primeiro turno. Foi a primeira declaração desse tipo. Até então ele era um azarão contra um favorito. Essa era a condição do governador, que, contrariando os anúncios anteriores, decidiu permanecer no comando da máquina pública estadual (ao invés de se desincompatibilizar, por impulso “republicano”) para a reeleição. A conversa reservada com a presidente, pelo seu conteúdo, o estimulou a inverter as posições ou é mais um lance do marketing político?
Ainda brigando com os fatos, o jornal dos Maiorana cortou os Barbalho das suas fotos, destacando nelas a presença mal acomodada (e vaiada) do governador Simão Jatene. Garantiu também que estariam redondamente errados os que apostassem na desinformação da presidente: ela “deixou os Barbalhos emburrados, no cantinho deles”, confirmando a notícia do “Repórter 70” sobre a má companhia.
Em mão inversa à do noticiário de O Liberal, porém, a visita de Dilma Rousseff parece ter tido a intenção de consolidar a coligação PT-PMDB, mesmo com os desgastes que ela acarreta aos petistas, por apoiar um Barbalho para o governo, enfrentando resistências internas. O jornal dos Maiorana tem alardeado força ao dar cobertura à candidatura dissidente do deputado federal Cláudio Puty, mas ela parece ter a consistência das notícias de O Liberal sobre a movimentação política.
 
Silêncio e sangreira
O senador Jader Barbalho não respondeu à carta aberta que lhe enderecei na edição passada a propósito da cobertura sensacionalista de homicídios do seu Diário do Pará (ver “Carta aberta ao senador Jader Fontenele Barbalho“). Infelizmente, esse é o destino padrão dado a forma de comunicação. O presidente John Kennedy não respondeu a nenhuma das cartas abertas escritas para ele por Norman Mailer. Mas quando a opinião pública, também destinatária da mensagem, é mais atuante, a autoridade pública tem que pelo menos considerar o tema.
Não é o caso do nosso Pará. Os cidadãos fogem cada vez mais do comprometimento e da exposição a assuntos considerados perigosos ou inconvenientes. A autoridade pública, assim, se sente menos incomodada, quando não completamente imune a cobranças. Faz o que quer.
Como o silêncio do senador pode ter sido pouco para desqualificar a carta aberta do jornalista incômodo, o editor do seu jornal deu uma resposta mais contundente. O tabloide de polícia do Diário do dia 21/3 trouxe seis fotos de cadáveres na capa e outras seis dentro. Tratava de um tema sério: a morte de sete pessoas em quatro dias em Castanhal. Mas precisava ser da forma comercial tão torpe? Se o espaço ocupado pelas fotos for somado, igualará ou ultrapassará o noticiário propriamente dito.
Pelo jeito, correção feita por dentro está fora das cogitações no Diário do Pará, o jornal mais carregado de sangue do país e, quem sabe, do mundo. Parabéns, senador da República.
 
Jornais em combate
A litigância entre o Diário do Pará e O Liberal se tornou uma autêntica guerra de baladeiras (ou estilingue, para usar o vernáculo nacional da Rede Globo). Sabe-se quem maneja as baladeiras. O vai e vem de ataques fez com que o jornal dos Maiorana passasse a dizer que o jornal dos Barbalho tem o preço de um picolé, a partir do momento em que as duas empresas (na única sincronia dos últimos tempos) adotaram novos preços para as suas publicações.
O Diário reajustou em 100% a sua edição dominical, que passou a ser de dois reais. Mas manteve em R$ 1,00 o jornal da semana. O Liberal de domingo, que era vendido a R$ 2,50, pulou para R$ 4,00, o dobro do seu concorrente direto no dia de maior tiragem e leitura (e faturamento). O cosmético Amazônia, rebento mais novo da empresa dos Maiorana, passou de R$ 1 para R$ 1,50 no domingo e de R$ 0.75 para R$ 1,00 nos dias de semana.
Agora é acompanhar a reação do distinto público aos novos valores. Nos seis dias da semana o Amazônia ficará com o mesmo preço do Diário, que decidiu (provavelmente) aceitar o prejuízo (ou tem um meio ainda não conhecido de compensá-lo) para enfrentar o tabloide dos Maiorana de frente. O problema poderá se agravar para O Liberal, que ficará na posição de o mais caro (e bem mais caro nos dias de semana, comparativamente aos outros dois diários).
É interessante rastrear o efeito dessas decisões. Os Maiorana esperavam tirar público do jornal dos Barbalho com o Amazônia, mas parece que o filho mais novo acabou roubando mais público do irmão mais velho, cuja vendagem caiu bastante. Com a repactuação dos preços, essa meta será atingida ou ela agravará o efeito perverso do Amazônia sobre O Liberal, continuando a sangrá-lo?
Está em jogo aquela frase musical: pau que nasce torto, não tem jeito, morre torto. Pode ser que o tiro saia pela culatra e o picolé não se desfaça, saindo a emenda pior do que o soneto.
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Lúcio Flávio Pinto é jornalista, editor do Jornal Pessoal (Belém, PA)

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