JADER BARBALHO, O 'ENJEITADO' |
Por Lúcio Flávio Pinto em 01/04/2014 na edição 792
Reproduzido do Jornal Pessoal nº 557, segunda quinzena/ março de 2014
Reproduzido do Jornal Pessoal nº 557, segunda quinzena/ março de 2014
A mentira tem pernas curtas, ensina o povo. No jornalismo, é como um bumerangue: quem lança mentira a recebe de volta. O Liberal
foi atingido mais uma vez por suas mentiras contumazes.
O jornal
garantiu, durante dias seguidos, que os assessores da Presidência da
República recomendaram o afastamento do senador Jader Barbalho da
comitiva de Dilma Rousseff, que veio ao Pará, na semana passada.
“O que se diz é que o Palácio do Planalto avalia a repercussão negativa
na mídia nacional que seria a presença de um Barbalho no palanque da
presidente Dilma!, garantiu a principal coluna do jornal.
Aconteceu justamente o inverso: a presidente tomou o café da manhã no
hotel com o líder do PMDB e o seu filho, Hélder Barbalho, pré-candidato
da coligação (ainda informal) PMDB-PT ao governo do Estado. Segundo os
Barbalhos, à saída desse encontro, a conversa durou duas horas, com uma
vasta pauta tratada.
Para arrematar o desmentido aos anúncios reiterados na coluna “Repórter
70”, do jornal dos Maiorana, a presidente colocou os dois Barbalho no
seu avião e almoçou com eles no caminho de Belém a Marabá. O palanque
presidencial também os acolheu e a posição de Hélder, ao fundo, não foi
determinada por qualquer prevenção moral, mas pelas regras do
cerimonial. Foi por isso que o governador Simão Jatene ficou ao lado do
presidente, a um metro e meio de Jader, um dos políticos federais na
primeira linha, juntamente com os ministros.
Sem consistência
A deferência explica a empolgação de Hélder Barbalho. Ao sair do café
da manhã, ele disse acreditar na possibilidade de vitória já no primeiro
turno. Foi a primeira declaração desse tipo. Até então ele era um
azarão contra um favorito. Essa era a condição do governador, que,
contrariando os anúncios anteriores, decidiu permanecer no comando da
máquina pública estadual (ao invés de se desincompatibilizar, por
impulso “republicano”) para a reeleição. A conversa reservada com a
presidente, pelo seu conteúdo, o estimulou a inverter as posições ou é
mais um lance do marketing político?
Ainda brigando com os fatos, o jornal dos Maiorana cortou os Barbalho
das suas fotos, destacando nelas a presença mal acomodada (e vaiada) do
governador Simão Jatene. Garantiu também que estariam redondamente
errados os que apostassem na desinformação da presidente: ela “deixou os
Barbalhos emburrados, no cantinho deles”, confirmando a notícia do
“Repórter 70” sobre a má companhia.
Em mão inversa à do noticiário de O Liberal, porém, a visita
de Dilma Rousseff parece ter tido a intenção de consolidar a coligação
PT-PMDB, mesmo com os desgastes que ela acarreta aos petistas, por
apoiar um Barbalho para o governo, enfrentando resistências internas. O
jornal dos Maiorana tem alardeado força ao dar cobertura à candidatura
dissidente do deputado federal Cláudio Puty, mas ela parece ter a
consistência das notícias de O Liberal sobre a movimentação política.
Silêncio e sangreira
O senador Jader Barbalho não respondeu à carta aberta que lhe enderecei
na edição passada a propósito da cobertura sensacionalista de
homicídios do seu Diário do Pará (ver “Carta aberta ao senador Jader Fontenele Barbalho“).
Infelizmente, esse é o destino padrão dado a forma de comunicação. O
presidente John Kennedy não respondeu a nenhuma das cartas abertas
escritas para ele por Norman Mailer. Mas quando a opinião pública,
também destinatária da mensagem, é mais atuante, a autoridade pública
tem que pelo menos considerar o tema.
Não é o caso do nosso Pará. Os cidadãos fogem cada vez mais do
comprometimento e da exposição a assuntos considerados perigosos ou
inconvenientes. A autoridade pública, assim, se sente menos incomodada,
quando não completamente imune a cobranças. Faz o que quer.
Como o silêncio do senador pode ter sido pouco para desqualificar a
carta aberta do jornalista incômodo, o editor do seu jornal deu uma
resposta mais contundente. O tabloide de polícia do Diário do
dia 21/3 trouxe seis fotos de cadáveres na capa e outras seis dentro.
Tratava de um tema sério: a morte de sete pessoas em quatro dias em
Castanhal. Mas precisava ser da forma comercial tão torpe? Se o espaço
ocupado pelas fotos for somado, igualará ou ultrapassará o noticiário
propriamente dito.
Pelo jeito, correção feita por dentro está fora das cogitações no
Diário do Pará, o jornal mais carregado de sangue do país e, quem sabe,
do mundo. Parabéns, senador da República.
Jornais em combate
A litigância entre o Diário do Pará e O Liberal se
tornou uma autêntica guerra de baladeiras (ou estilingue, para usar o
vernáculo nacional da Rede Globo). Sabe-se quem maneja as baladeiras. O
vai e vem de ataques fez com que o jornal dos Maiorana passasse a dizer
que o jornal dos Barbalho tem o preço de um picolé, a partir do momento
em que as duas empresas (na única sincronia dos últimos tempos) adotaram
novos preços para as suas publicações.
O Diário reajustou em 100% a sua edição dominical, que passou a ser de dois reais. Mas manteve em R$ 1,00 o jornal da semana. O Liberal
de domingo, que era vendido a R$ 2,50, pulou para R$ 4,00, o dobro do
seu concorrente direto no dia de maior tiragem e leitura (e
faturamento). O cosmético Amazônia, rebento mais novo da
empresa dos Maiorana, passou de R$ 1 para R$ 1,50 no domingo e de R$
0.75 para R$ 1,00 nos dias de semana.
Agora é acompanhar a reação do distinto público aos novos valores. Nos seis dias da semana o Amazônia ficará com o mesmo preço do Diário,
que decidiu (provavelmente) aceitar o prejuízo (ou tem um meio ainda
não conhecido de compensá-lo) para enfrentar o tabloide dos Maiorana de
frente. O problema poderá se agravar para O Liberal, que ficará na
posição de o mais caro (e bem mais caro nos dias de semana,
comparativamente aos outros dois diários).
É interessante rastrear o efeito dessas decisões. Os Maiorana esperavam tirar público do jornal dos Barbalho com o Amazônia,
mas parece que o filho mais novo acabou roubando mais público do irmão
mais velho, cuja vendagem caiu bastante. Com a repactuação dos preços,
essa meta será atingida ou ela agravará o efeito perverso do Amazônia sobre O Liberal, continuando a sangrá-lo?
Está em jogo aquela frase musical: pau que nasce torto, não tem jeito,
morre torto. Pode ser que o tiro saia pela culatra e o picolé não se
desfaça, saindo a emenda pior do que o soneto.
***Lúcio Flávio Pinto é jornalista, editor do Jornal Pessoal (Belém, PA)
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