No Brasil, as operações policiais são espetaculosas. A apoteose do processo não é a sentença e sim a prisão
preventiva, temporária, ou o que o valha.
Nos EUA, bandido que se preza foge pelas
estradas e os espectadores fazem apostas se ele chega ou não na
fronteira. Grande parte torce pelo bandido! Depois do beisebol, perseguição
policial é o esporte predileto do american way of life.
No Canadá, a polícia pede desculpas antes de dar a voz de
prisão: “desculpe-me, cidadão, mas, por favor, queira acompanhar-me até a
delegacia? Você está preso”. O cidadão replica: “pois não, senhor policial, mas
posso terminar o meu cappuccino?”. O policial: “Imagina! Fique á vontade. Vou
pedir um também”. É uma piada recorrente de um hipotético diálogo da polícia
canadense cumprindo um mandando de prisão.
Os suíços disputam com os canadenses as gentilezas e
demonstraram isso na prisão do ex-presidente da CBF José Maria Marin e outros
seis dirigentes da FIFA, em Zurique, cumprindo carta rogatória do Departamento
de Justiça dos EUA, a pedido da Procuradoria de Nova York, que acusa a turma de
corrupção em altas montas.
No meio da prestidigitação estão, diz a Procuradoria de NY,
bolinagens na última Copa do Brasil, organizada pela CBF, embora, para mim,
indecência mesmo foi praticada na Copa do Mundo, onde a FIFA nos levou bilhões,
gastamos outro tanto e até agora ainda não vi aquelas propaladas benesses e nem o número de turistas
aumentar porque “o Brasil foi visto em todo o mundo”.
Mas vamos ao bicentenário Baur au Lac, um dos mais
exclusivos hotéis do mundo, onde quem se hospeda tem direito a Rolls Royce como
acepipe de quarto, aonde a polícia suíça, pontual como um relógio suíço, às
seis da manhã entrou – todo mundo à paisana – no luxuoso salão de mármore e
dirigiu-se ao front desk, pedindo, por favor, os números das suítes dos
indigitados.
Antes, os policiais já tinham estudado as mais discretas
saídas do hotel. Para evitar fugas? Não. Para retirar os presos com a maior
discrição possível! Eles não avisaram à Globo que fariam as prisões!
O manager do venerando Baur au Lac, acostumado a recepcionar
bilionários, artistas e a realeza europeia, transmitiu, de um a um, a ordem
policial em uma coreografia digna dos áureos tempos do Hotel Budapeste.
“Desculpe-me senhor, estou apenas ligando para dizer que
precisaremos que você vá até sua porta e a abra, por favor, ou os policiais
terão que arrombá-la”. Imagine o turbilhão psicológico de quem ouviu isso do
outro lado da linha. Não, não é possível imaginar.
Os policiais subiram, deram tempo para que os presos se
recompusessem, arrumassem as malas e, acreditem: alguns policiais ajudaram a carregá-las.
Por isso, entre a subida para prender e a descida para conduzir, levaram-se quase
duas horas.
Os elevadores por onde os presos desceriam foram bloqueados
e nas discretas saídas os veículos aguardavam. Funcionários com lençóis
de pura cambraia de linho egípcio – claro, era o Baur au Lac! – aguardavam ao
lado dos carros para, desfraldando-os, formar um biombo para proteger a
privacidade dos presos frente a algum eventual curioso.
Quando a operação – não, não teve um nome da mitologia grega
ou coisa que o valha – já havia terminado a imprensa soube e entrou em ação. Aí
o vetusto Baur au Lac viveu os seus minutos de Sapucaí em pleno carnaval.
A
polícia pode até ser diferente aqui ou acolá, mas jornalistas são iguais no
mundo inteiro.
Fonte: Blog do Parsifal 5.4
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