A caminho do México, Bento XVI diz que Igreja pode ajudar ilha a adotar novo modelo
Mario Guzmán/Efe
Voluntários preparam cordão de isolamento em León, no México, horas antes da chegada do papa
No avião que o levou de Roma para a visita de cinco dias ao México e a Cuba, o papa Bento XVI disse que o comunismo já não funciona na ilha e que a Igreja está disposta a ajudar o governo local a encontrar um novo modelo sem “trauma”.
“Hoje, é evidente que a ideologia marxista, na forma em que foi concebida, já não corresponde à realidade”, disse o líder católico, respondendo à pergunta de um jornalista. “Dessa forma, já não podemos construir uma sociedade. Novos modelos devem ser encontrados, com paciência e de forma construtiva.”
O pontífice, que deve chegar à ilha após três dias de visita ao México, fez um apelo pela liberdade de pensamento e de culto em Cuba, sob o regime comunista há mais de 50 anos. Ele também ofereceu ajuda da Igreja para uma transição pacífica. “Queremos contribuir em um diálogo espiritual para evitar traumas e ajudar a avançar até uma sociedade que seja fraternal e justa.”
Seus comentários provocaram uma resposta cautelosa do governo cubano. “Escutaremos com todo o respeito à Sua Santidade”, disse o chanceler cubano, Bruno Rodríguez, em uma entrevista coletiva em Havana. “Respeitamos todas as opiniões. Consideramos útil o intercâmbio de ideias. O governo cubano se esforça para fazer da visita de Sua Santidade um acontecimento memorável e um êxito pleno.”
Rodríguez também afirmou que o projeto social cubano é “democrático, escolhido genuinamente e se encontra em constante aperfeiçoamento”.
Os comentários de Bento XVI sobre o comunismo foram mais diretos e críticos que os de seu predecessor, João Paulo II, feitos durante sua histórica visita a Cuba, em 1998. Essa viagem acelerou o processo de reconciliação entre a Igreja Católica e os líderes comunistas cubanos. Mas a instituição religiosa e o governo da ilha ainda estão em desacordo sobre temas como o uso dos meios de comunicação e a educação religiosa.
Ao ser questionado se falaria sobre temas de direitos humanos em Cuba, o papa respondeu: “É óbvio que a Igreja sempre está do lado da liberdade”.
Reações.[ ] [/ ]Os cubanos reagiram de forma bem diversa às declarações do papa. Elizardo Sánchez, porta-voz da ilegal, mas tolerada, Comissão Cubana de Direitos Humanos, disse que a declaração do papa confirma sua “boa vontade” a respeito da situação na ilha, mas não tem grandes esperanças com a visita.
“Duvido muito que essa visita tenha algum impacto nos temas de direitos humanos e democracia para os cubanos. O problema em Cuba não é o marxismo. Ao governo falta a vontade de fazer as mudanças políticas modernizadoras de que o país necessita.”
Para Wilfredo Ramos, de 53 anos, empregado de uma cafeteria na Província de Camaguey, a mais de 500 quilômetros de Havana, “é possível que o papa não esteja inteirado de todas as reformas que estão se realizando no país. Aqui, tudo o que se quer vender, pode-se vender. Há liberdade”, afirmou.
Mas o estudante Germaine Cruzada não se diz satisfeito. “É preciso haver mudanças, porque na verdade o comunismo não está funcionando mais.”
Na semana passada, o Vaticano voltou a condenar o embargo comercial dos Estados Unidos contra Cuba, classificando-o como inútil e prejudicial. Também disse que o papa estará “disponível” caso Fidel Castro queira se reunir com ele.
Fonte: Estadão
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