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terça-feira, 27 de março de 2012

HEROÍSMO E TRAIÇÃO


Soldados cubanos capturam tanque sul-africano 
Pouco conhecida, a Batalha de Cuito Cuanavale, entre 15 de novembro de 1987 e 23 de março de 1988, foi o maior confronto militar da guerra civil angolana e o mais prolongado ocorrida no continente africano desde a Segunda Guerra Mundial. 
 
O conflito opôs, de um lado, os angolanos das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA) e soldados das Forças Armadas Revolucionárias (FAR) de Cuba; de outro, guerrilheiros da Unita (União Nacional para a Independência Total de Angola) unidos a forças regulares do Exército da África do Sul, país então sob domínio do regime de supremacia branca, o apartheid.
Nesta batalha, com a ajuda dos cubanos, o mito da invencibilidade do Exército branco sul-africano foi quebrado, o que alterou completamente a correlação de forças na região. A superioridade de angolanos das FAPLA e das tropas cubanas no campo de batalha obrigou o regime de Pretória a aceitar as negociações em Nova York em torno da independência da Namíbia – país onde também estava vigente um regime de minoria branca – e abriu caminho para o fim do apartheid, como mais tarde reconheceria Nelson Mandela: “Cuito Cuanavale foi a virada para a luta de libertação do meu continente e do meu povo do flagelo do apartheid”, afirmou.

General Arnaldo Ochoa
Mas Cuito Cuanavale também abriria uma brecha no regime cubano. Ao ignorar as determinações táticas de Fidel Castro, que queria comandar a batalha a partir de Havana, o general Arnaldo Ochoa venceu e se mostrou um gênio militar, consagrando sua fama de “herói da revolução”. Ele era o terceiro na hierarquia militar cubana, abaixo apenas de Fidel e Raúl, e também muito popular. O general, acredita-se, era favorável a uma flexibilização do regime cubano, nos moldes do que vinha fazendo Mikhail Gorbatchóv na União Soviética. Receosos, os irmãos Castro logo encontram um meio de livrar-se do general: no mesmo ano da vitória de Cuito Cuanavale, Ochoa foi acusado se vincular a funcionários do Ministério do Interior para realizar operações de tráfico de drogas com o Cartel de Medellín. Julgado sumariamente por uma corte marcial, num processo que não ficou nada a dever aos expurgos de Moscou dos anos 1930, Ochoa e outros dois oficiais das FAR – inclusive o coronel Antonio De La Guardia, chefe das forças especiais cubanas em Angola – foram fuzilados em 13 de julho de 1989.  Seu drama foi mais uma confirmação de que "a revolução - ou as revoluções - é como Saturno, que devora os próprios filhos", como escreveu George Büchner em A morte de Danton (1835). 



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