Soldados cubanos capturam tanque sul-africano |
Pouco
conhecida, a Batalha de Cuito Cuanavale, entre 15 de novembro de 1987 e
23 de março de 1988, foi o maior confronto militar da guerra civil
angolana e o mais prolongado ocorrida no continente africano desde a
Segunda Guerra Mundial.
O conflito opôs, de um lado, os angolanos das
Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA) e soldados das
Forças Armadas Revolucionárias (FAR) de Cuba; de outro, guerrilheiros da
Unita (União Nacional para a Independência Total de Angola) unidos a
forças regulares do Exército da África do Sul, país então sob domínio do
regime de supremacia branca, o apartheid.
Nesta
batalha, com a ajuda dos cubanos, o mito da invencibilidade do Exército
branco sul-africano foi quebrado, o que alterou completamente a
correlação de forças na região. A superioridade de angolanos das FAPLA e
das tropas cubanas no campo de batalha obrigou o regime de Pretória a
aceitar as negociações em Nova York em torno da independência da Namíbia
– país onde também estava vigente um regime de minoria branca – e abriu
caminho para o fim do apartheid, como mais tarde reconheceria
Nelson Mandela: “Cuito Cuanavale foi a virada para a luta de libertação
do meu continente e do meu povo do flagelo do apartheid”, afirmou.
Mas
Cuito Cuanavale também abriria uma brecha no regime cubano. Ao ignorar
as determinações táticas de Fidel Castro, que queria comandar a batalha a
partir de Havana, o general Arnaldo Ochoa venceu e se mostrou um gênio
militar, consagrando sua fama de “herói da revolução”. Ele era o
terceiro na hierarquia militar cubana, abaixo apenas de Fidel e Raúl, e
também muito popular. O general, acredita-se, era favorável a uma
flexibilização do regime cubano, nos moldes do que vinha fazendo Mikhail
Gorbatchóv na União Soviética. Receosos, os irmãos Castro logo
encontram um meio de livrar-se do general: no mesmo ano da vitória de
Cuito Cuanavale, Ochoa foi acusado se vincular a funcionários do
Ministério do Interior para realizar operações de tráfico de drogas com o
Cartel de Medellín. Julgado sumariamente por uma corte marcial, num
processo que não ficou nada a dever aos expurgos de Moscou dos anos
1930, Ochoa e outros dois oficiais das FAR – inclusive o coronel Antonio
De La Guardia, chefe das forças especiais cubanas em Angola – foram
fuzilados em 13 de julho de 1989. Seu drama foi mais uma confirmação de que "a revolução - ou as revoluções - é como Saturno, que devora os próprios filhos", como escreveu George Büchner em A morte de Danton (1835).
General Arnaldo Ochoa |
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