Um mistério
ronda o Ministério Público Estadual, responsável pela apuração de
fraudes milionárias na Assembleia Legislativa do Pará. Ao longo da
investigação, o promotor Arnaldo Azevedo, que atua na esfera criminal,
se deparou com indícios de envolvimento do deputado estadual José
Megale (PSDB), que foi vice-presidente da casa na gestão do hoje
senador Mário Couto.
Como deputado Megale tem foro privilegiado, os
indícios foram enviados ao Procurador-Geral de Justiça, Antônio Eduardo
Barleta, a quem caberia investigá-lo. Mas Barleta se julgou impedido e
declinou do comando do caso. O motivo foi o parentesco com a
ex-diretora financeira da AL, Rosana Barleta, que estava entre os
investigados. Os dois são primos. O pedido de apuração, feito por
Azevedo em maio deste ano, foi encaminhado então ao subprocurador Jorge
Rocha. Ele também se julgou impedido - e aí o caso começou a ganhar
contornos incomuns.
Questionada sobre o andamento da apuração, a
Procuradoria-Geral de Justiça não divulga qualquer informação. O mais
estranho é que, segundo a assessoria de imprensa do MPE, nem mesmo o
nome do procurador que teria assumido a investigação pode ser informado
aos jornalistas, fato que contraria a postura do Ministério Público ao
longo do caso da Assembleia Legislativa, que já resultou no
indiciamento de meia centena de servidores, além dos ex-presidentes da
AL, Mário Couto e Domingos Juvenil. O sigilo em torno do caso, imposto
pelo Ministério Público do Pará chama a atenção no momento em que todos
os órgãos do Estado brasileiro estão sob a Lei da Transparência, que
garante aos cidadãos direito de ter acesso às informações de interesse
público. Também tem gerado estranhamento a demora para encaminhar o
caso. Sete meses após o pedido de investigação feito pelo promotor
Azevedo, não há informações sob o andamento da apuração - o que pode
ser sinal de que a investigação não foi encaminhada.
Na sexta-feira, o DIÁRIO solicitou
entrevista para falar sobre a apuração, mas o Procurador-Geral Antônio
Barleta negou o pedido e, por meio da assessoria, enviou nota de quatro
linhas sem detalhes do caso. “Em relação à solicitação de entrevista
ao Procurador-Geral de Justiça sobre a investigação conhecida como
‘caso AL’, que cita o deputado estadual José Megale: a peça de
informação referente ao caso AL, Banpará - cheques e deputado José
Megale foi recebida pelo procurador geral de justiça e este se declarou
impedido”.
Suposta chefe de esquema recebeu 25 cheques
Sobre o responsável atual pela investigação, a informação é de que este estaria de licença e só retornaria no próximo dia 10. O promotor Arnaldo Azevedo confirmou ao DIÁRIO que enviou ofício à PGJ com pedido de investigação. “Quando encaminho o caso para o segundo grau, envio também todo o material referente. Não me cabe questionar os rumos que a investigação toma no segundo grau. Seria uma inversão. É como se eu estivesse fazendo cobranças ao meu chefe”, disse, afirmando que também não sabe qual procurador assumiu a investigação.
Para pedir a abertura de investigação contra
Megale, Arnaldo Azevedo apresentou 25 cheques assinados pelo então
vice-presidente da AL para pagamentos feitos a empresas ligadas à
ex-servidora da AL Daura Hage. Ela é acusada de ter montado um esquema
que reunia pelo menos oito empresas fantasmas que forneciam “do feijão
ao avião” para a AL. A mais famosa delas é a Croc Tapioca que vendia,
entre outros itens, até material de informática para a AL.
As assinaturas de Megale foram registradas entre 2004 e 2005. Uma das irregularidades é que os cheques, que somam cerca de R$ 200 mil, foram pagos contendo apenas a assinatura do vice-presidente. Por lei, os pagamentos só podem ser feitos mediante cheques assinados por dois integrantes da Mesa Diretora.
As assinaturas de Megale foram registradas entre 2004 e 2005. Uma das irregularidades é que os cheques, que somam cerca de R$ 200 mil, foram pagos contendo apenas a assinatura do vice-presidente. Por lei, os pagamentos só podem ser feitos mediante cheques assinados por dois integrantes da Mesa Diretora.
Megale assinou também nota de empenho no
valor de R$ 148,6 mil destinados à construção de churrasqueira,
calçadas e reforço estrutural da sede campestre da Associação dos
Servidores da Assembleia Legislativa (Asalp). O repasse do dinheiro,
segundo Arnaldo Azevedo, foi ilegal porque não poderia ter havido uso
de recurso público para obra na associação, que é uma instituição
privada e deveria ser mantida com a contribuição dos sócios. Megale
deveria ser investigado também por ter contratado serviços gráficos da
empresa Mac Martins, que pertencia a Marco Martins, que era servidor do
gabinete do deputado - e como tal não poderia ter participado da
licitação.
O deputado estadual José Megale diz não ter
conhecimento de qualquer investigação contra ele no Ministério Público.
Sobre os cheques pagos a Daura Hage, afirma que não tinha como saber
das irregularidades. “Assinei centenas, talvez milhares de cheques na
AL, e todos vinham acompanhados de processo administrativo feito pela
casa. Eu não tinha como saber se estava correto ou não. O que cabe
investigar é o porquê de o servidor do banco ter liberado o dinheiro
com apenas uma assinatura”. O deputado confirmou que contratou serviços
da empresa do então servidor que faleceu, mas disse que não sabia da
ilegalidade. Sobre o empenho para obra na Associação de Servidores da
AL, Megale afirma que a obra tem registro no Conselho Regional de
Engenharia e que o uso de dinheiro público para obras em associações de
servidores é comum. “Se há irregularidades, seria o caso de investigar
obras das associações de servidores que recebem dinheiro público”,
diz.
(Diário do Pará)
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