Segundo a CNI, no passado, os reservatórios conseguiam
aguentar até dois anos com períodos secos mais severos. Hoje, esse
tempo está na casa de um ano, e tende a piorar com as usinas em
construção e o aumento do consumo interno. Até 2007, a relação entre o
tamanho dos reservatórios e a potência das hidrelétricas era de 0,51
quilômetros quadrados (km²) por megawatt (MW). Nas novas usinas, esse
número é de 0,06 km²/MW.
'Sem reservatórios, não aproveitamos
todo o potencial hídrico do País. Só aproveitamos as quedas d'água.
Quem vai pagar é a sociedade', avalia o vice-presidente da CNI, José de
Freitas Mascarenhas. Ele destaca o caso de Belo Monte, que terá
capacidade de 11.233 MW, mas vai gerar 4.571 MW médios. No período
chuvoso, a usina produzirá na capacidade máxima. Mas, na seca, a
produção poderá cair para meros 690 MW médios por causa da falta de
reservatório.
A usina vai gerar conforme o regime hidrológico da
região. Para se ter ideia, a quantidade de água no mês mais úmido do
Rio Xingu é 25 vezes maior do que no mês mais seco, segundo a CNI.
A
solução para contornar o problema, que foi criado para resolver outro
problema (dos impactos ambientais), é diversificar as fontes de
energia, avalia o professor da UFRJ, Nivalde Castro. Hoje, 75% da
matriz brasileira é hídrica e 15%, térmica. O restante vem de usinas
eólicas, nucleares, de biomassa e de pequenas centrais hidrelétricas
(PCH). Para Castro, o Brasil não pode renunciar às hidrelétricas, mesmo
que elas sejam construídas sem reservatórios.
Ele acredita que o
caminho do governo de apostar na energia eólica e bioeletricidade para
complementar o sistema é positivo. No Nordeste, onde está o maior
número de projetos eólicos, o período seco coincide com o maior volume
de ventos. Já no Sudeste, a safra de cana ocorre no período de
estiagem, que reduz o nível dos reservatórios. Essa lógica está
traduzida no Plano Decenal 2011/2020. No planejamento, as fontes
alternativas vão alcançar 16% da matriz até o fim da década. Mas há
quem discorde. Afinal, essas fontes também dependem de condições
climáticas.
O Estadão
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