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sábado, 22 de março de 2014

Crise na Crimeia mostra transição na política externa dos EUA


Acusado de fraqueza pela oposição, governo Obama tem que se mover entre pressões de Moscou e expansão chinesa. Maior crise internacional de seu mandato chega num momento de redirecionamento de prioridades em Washington. 
Em termos de política externa, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, enfrenta a pior crise de seu mandato, segundo a análise do cientista político Nicholas Burns, da Universidade de Harvard."Acho que Obama tem dois grandes desafios: um é reagir às agressões de Vladimir Putin, juntamente com a Alemanha e outros países. Ao mesmo tempo, as pretensões expansionistas chinesas no Mar do Sul e no Mar do Leste colocam os EUA diante de grandes questões", afirma.Segundo o especialista – que entre 2005 e 2008, no governo George W. Bush, ocupou o terceiro mais importante posto na Secretaria de Estado – há dois problemas e uma consequência: "É hora de liderança americana. Está na hora de convocarmos a Otan e de estreitarmos os laços entre a Europa".

Ele acredita que os EUA estão em condições de assumir essa liderança, e isso precisa partir do presidente. Desde o referendo que definiu a independência da Crimeia, Obama tem repetidamente escutado de republicanos, como o senador John McCain, a acusação de não investir com a dureza necessária contra Putin.

Porém, uma ofensiva militar contra a potência nuclear Rússia seria fatal, adverte Burns, em especial por a Ucrânia não ser membro da Otan. É sensata, segundo ele, a opção de Obama e da chanceler federal alemã, Angela Merkel, de agir em três polos.

O primeiro ponto, diz Burns, é fortalecer Kiev financeiramente. "Em segundo lugar, é muito importante que honremos nossas obrigações diante dos parceiros na Otan, Polônia, Estônia, Letônia, Lituânia – os países vizinhos da Ucrânia." Por fim, Putin teria que pagar o preço de suas ações ilegais. "E aí eu penso que as sanções fazem sentido."

Da ofensiva militar às sanções e drones

Nos últimos anos, um processo de reformulação se desenrolou em Washington. A Secretaria americana da Fazenda se estabeleceu como departamento não militar do Pentágono: em vez de operações bélicas caras e penosas, passou-se a apostar em drones e sanções.

Acima de tudo, passou-se a evitar ações isoladas. Em 2011, Obama só concordou com os ataques aéreos na Líbia sob a condição de ter o apoio da Otan e dos Estados árabes. Após a queda do ditador Muamar Kadafi, os americanos não investiram mais no processo de democratização do país – o que muitos consideram um erro.

Em 2013, quando a comunidade internacional se recusou a participar de uma ofensiva militar na Síria, Obama também retrocedeu. Um grande erro, acusam agora os republicanos. A atitude vacilante na Síria teria mostrado ao presidente Putin que Washington falava mais do que agia, argumenta em entrevista à DW o deputado conservador Charles Dent.

Nos últimos anos, o presidente russo teria observado bem atentamente os Estados Unidos. "Ele acompanhou nossas negociações sobre o programa nuclear do Irã. Ele nos observou na Síria. Ele viu como os EUA retiraram seu programa antimísseis da República Tcheca e da Polônia", assinala Dent.
 

O deputado diz poder compreender que Putin tenha chegado à conclusão de que os EUA não dão mais conta de suas obrigações internacionais. "Ele viu como se criou um certo vácuo que ele é capaz de preencher."

Também Burns considera o recuo da Síria como sinal equivocado: "Nós fizemos uma linha na areia e dissemos: 'Se a Síria a atravessar, vai haver punição. E não houve punição. Mas acho que não é justo afirmar, por esse motivo, que os EUA são fracos, ou ingênuos ou pisam leve demais."

Entre o século 20 e o 21

Pelo contrário, na opinião de Bruce Jones, do Brookings Institution, sediado em Washington: os EUA, segundo ele, continuam sendo uma potência militar dominante.

"Quando se soma a capacidade das Forças Armadas e da economia americanas, o Ocidente representa cerca de 70% da economia mundial e possui uma capacidade militar impressionante", afirma. A atitude reticente em embarcar na guerra, Jones atribui às lições aprendidas no Iraque e no Afeganistão.

Michael Werz, do instituto Center for American Progress, de Washington, acrescenta que, após essas duas guerras a estratégia militar de Obama está num processo de desenvolvimento. "Isso se deve à época atual ser de transição, em que as formas tradicionais de confrontação militar não mais funcionam", afirma.

Outra dificuldade, lembra ele, é que os conflitos se tornaram "assimétricos" – não são mais passíveis de cercear só com poder militar. Além disso, estaria se esboçando "um deslocamento geográfico maciço em direção à região do Pacífico", analisa Werz.

Com diferentes iniciativas, o governo Obama tem tentado reagir a esses grandes conflitos. Por um lado, ele tenta formar uma rede de futuros parceiros em Estados democráticos, inclusive com "grandes investimentos políticos na Turquia, no Brasil na Índia". Por outro, está "redirecionando a política americana no Pacífico, em especial quanto à relação com a China".

Werz diz que o governo Obama está encurralado em sua política externa, ou seja: entre os velhos conflitos do século 20 – o Oriente Médio – e os desafios futuros do século 21 – na região do Pacífico. Uma transição que ainda deve demorar algumas décadas até que esteja completa. 

Fonte: DW

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