As construções
remanescentes de uma colônia nazista que funcionou na década de 1930 na
Fazenda Cruzeiro do Sul, em Paranapanema, a 260 km de São Paulo, serão
destruídas. O novo proprietário decidiu limpar as terras para facilitar o
cultivo de cana-de-açúcar. Está prevista a derrubada dos prédios das
oficinas, da cocheira e da pequena igreja. A antiga piscina de alvenaria
será soterrada.
Os tijolos usados
nas construções trazem impressa a suástica, símbolo do nazismo de Adolf
Hitler. O antigo proprietário da fazenda, José Ricardo Rosa Maciel, e
sua mulher, Senhorinha, contaram que o comprador consultou os órgãos do
patrimônio histórico antes de fechar o negócio para se certificar de que
as construções não são tombadas.
Como a venda foi
feita com cláusula de confidencialidade, eles não revelaram o nome do
novo dono. "Ele vai arrendar as terras para o plantio de cana
mecanizado, por isso precisa do terreno desimpedido", disse a mulher. A
prefeitura de Paranapanema informou que as terras são particulares e o
município não tem condições de desapropriá-las, apesar do interesse
cultural.
A fazenda foi
comprada no início do século passado por Luis Rocha de Miranda,
simpatizante do movimento fascista Ação Integralista Brasileira (AIB). A
propriedade tinha geradores de energia elétrica, pista de pouso
cimentada, uma estação de trens particular e silos aéreos importados dos
Estados Unidos.
Segundo o
pesquisador Sidney Aguilar Filho, professor da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp), a fazenda foi palco de um esquema escravista nos
anos 1930. Os irmãos Rocha Miranda trouxeram 50 meninos do orfanato
Romão Duarte, do Rio de Janeiro, poucos meses depois de Hitler ter
tomado o poder na Alemanha, em 1933. Os garotos tiveram os nomes
trocados por números e seriam obrigados a aderir a ritos nazistas.
Com o fim da AIB
após a instalação do Estado Novo por Getúlio Vargas, em 1937, as
crianças foram libertadas e as marcas do nazismo no local foram
suprimidas. Nos anos 1960, a fazenda foi adquirida pelo alemão Amdt Von
Bohlen und Halbach, servindo como local de férias para a família, mas
acabou vendida anos depois. Os tijolos com a suástica foram descobertos
anos mais tarde por Maciel, que adquiriu a propriedade, quando demolia
uma granja de porcos.
Aguilar Filho
transformou as pesquisas feitas no local na tese Educação, autoritarismo
e eugenia - Exploração do trabalho e violência à infância no Brasil
(1930-1945). Ele disse que será "uma calamidade" se a demolição ocorrer.
"É um patrimônio público, seja ou não reconhecido pelo Estado. O que
aconteceu ali é uma história inconveniente, mas que precisa ser
contada." Segundo ele, a pesquisa sobre a célula nazista e a história
dos meninos escravos não está completa. "Ainda há muito a ser contado
sobre as relações do Estado brasileiro com o regime nazista."
Estudo. A tese de
Aguilar Filho analisa aspectos da educação brasileira entre 1930 e 1945 a
partir de relatos de vida de 50 meninos "órfãos ou abandonados" sob
guarda do Juizado de Menores do Distrito Federal. Eles foram retirados
do Educandário Romão de Mattos Duarte, da Irmandade de Misericórdia do
Rio de Janeiro, e levados a uma propriedade no interior de São Paulo - a
Fazenda Cruzeiro do Sul.
A transferência
dessas crianças de 9 a 11 anos foi respaldada pelo Código do Menor de
1927. Por uma década, as crianças foram submetidas a uma educação
baseada em longas jornadas de trabalho agrícola e pecuário sem
remuneração. Foram submetidas a cárcere, castigos físicos e
constrangimentos morais em fazendas de integrantes da cúpula da Ação
Integralista Brasileira, simpatizantes do nazismo.
Fonte: Tribuna Hoje
Com certeza o local deveria virar patrimonio historico. Ha pesquisas e informacoes a serem feitas. ""nao o matem, ele tem uma historia a ser contada".
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