Leonardo Sakamoto
A medida em que caminhamos em direção às eleições de outubro, o
desespero dos candidatos por alianças vai subindo. Estamos a seis meses
do pleito e, como em outros anos terminados com número par, é possível
ver posições pessoais ou partidárias sendo flexibilizadas em praça
pública para encaixar x, y e, por que não, z dentro do pacotão de TV.
Ou para ter acesso a missas e cultos. Ou alcançar líderes comunitários. Enfim, o vale tudo.
Ou para ter acesso a missas e cultos. Ou alcançar líderes comunitários. Enfim, o vale tudo.
Já abordei o assunto aqui, mas vale a pena discutir de novo. Os
direitos humanos são um dos temas que mostram convergência entre alguns
setores do PSDB e do PT. Em ambos os partidos, houve quem defendeu o 3º
Programa Nacional de Direitos Humanos, lançado em dezembro de 2009 e que
sofreu pesadas críticas de setores da sociedade como a igreja, os
militares e o agronegócio. Não estou dizendo que os partidos são iguais,
longe disso. Apenas que há temas que encontram ressonância em ambos os
lados e que direitos humanos é um deles – por exemplo, o próprio PNDH
sob o PT manteve pontos, que hoje são considerados polêmicos, da sua
primeira versão, lançada em 1996, sob o PSDB.
Em ambos os partidos, há muitos contrários à adoção da pena de morte,
à redução da maioridade penal e à prisão perpétua, e favoráveis à
eutanásia, à ampliação dos direitos reprodutivos, à união civil
homossexual, à adoção de filhos por casais do mesmo sexo. Seja por
anseio de igualdade, seja pela defesa do liberalismo. Veja a corajosa
campanha de FHC contra a criminalização do uso de entorpecentes e por um
debate público e aberto sobre o tema.
Mas como a maior parte da população ainda é contra o aborto,
campanhas políticas raramente entram em bolas divididas, fugindo de
polêmicas feito o diabo foge da cruz.
Na solidão de suas crenças pessoais, creio que muitos políticos de
ambos os partidos concordem com os pontos acima. Ou, mesmo que discordem
de alguns, apostaria que eles entendem que a garantia de determinados
direitos de minorias é uma questão de política pública e não de opinião
individual. O próprio Lula declarou que não importa que ele seja
pessoalmente contra o aborto, mas sim que o tema deve ser tratado como
saúde pública, uma vez que mulheres pobres morrem por causa de
interrupções de gravidez feitas de forma precária.
Vamos imaginar uma situação hipotética: e se em cidades com disputa
envolvendo esses dois partidos, eles fechassem posição sobre alguns
desses temas, comprometendo-se a implantar uma plataforma mínima para
que ambos lutassem pela ampliação do respeito aos direitos humanos, caso
eleitos. Sobraria tempo para debater outros assuntos relevantes.
Qual a consequência para suas campanhas? Perderiam apoio dos aliados
mais conservadores? Considerando a qualidade de quem está do lado deles,
isso seria uma benção, não um problema. Perderiam eleitores que já
votaram neles e afugentariam alguns de Chalita? A perda seria para
ambos. Seriam abandonados por parte de seus próprios correligionários?
Duvido. A busca pelo poder move montanhas. Afinal, ser uma democracia de
verdade passa por atender aos anseios da maioria, mas não pode se
furtar a proteger a dignidade da minoria.
Ah, mas esses são temas nacionais, não têm a ver com a esfera
municipal. Quem pensa assim, realmente não entende qual o alcance da
atuação de um prefeito para promover a dignidade no território sob sua
responsabilidade.
Isso, é claro, está no plano da utopia, e soa a idiotice, porque a
política real, cheia de traições e puxadas de tapete, não permitiria
isso. Ou funcionaria em meia dúzia de cidades porque, como disse, apenas
uma parte dos políticos de ambos os partidos são defensores da
dignidade como direito maior do ser humano. Além do mais, a guerra
campal e a baixaria serão instaladas em breve. Por muitos, a porrada
será a opção escolhida. Ou seja, diálogo não é uma opção, pelo menos não
no estágio em que nos encontramos.
Com isso, o tema vai continuar marginal, usado como munição. Enfim, é
duro discutir direitos humanos em um país que tem vergonha de direitos
humanos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário