O blogueiro Décio Sá, que foi silenciado a bala |
Conversei há pouco com o presidente do Sindicato dos Jornalistas do
Maranhão, Leonardo Monteiro. Ele saía do enterro do jornalista e
blogueiro Décio Sá, assassinado covardemente na noite de ontem, às
23h30, com seis tiros no bar Estrela D´alva, na Avenida Litorânea, em
São Luis.
A cena se repetiu. Um rapaz que estava na garupa de uma moto, desceu,
fez de conta que ia ao banheiro e na volta, passou por Décio Sá e
descarregou sua arma. Mais uma vez. Do mesmo jeito.
Há alguns dias escrevi um texto
cujo título era: “Ainda há tempo para agir contra a tomada do Estado
pelo crime organizado”. Mas os governantes estão dando mole. Os que não
estão no bolso dos esquemas, têm medo de mexer com eles. Essa é a
sensação que se tem.
Enquanto isso, blogueiros e jornalistas, principalmente os que não têm a
proteção de uma grande empresa de comunicação, vão sendo assassinados e
ameaçados. “Ele mexeu com coisas que arrepiam e era um blogueiro muito
acessado. Algum bandido achou que ele estava incomodando, decidiu que
era hora de ele pagar com a própria vida”, afirmou Leonardo Monteiro.
Entre as coisas que arrepiam, nas palavras de Leonardo Monteiro, este
ingênuo blogueiro achou o seguinte trecho de um dos seus últimos posts:
A defesa dos pistoleiros Moises Alexandre Pereira e Raimundo
Pereira, acusados de matar no ano de 1997, em Barra do Corda, o líder
comunitário e sem-teto Miguel Pereira Araújo, o Miguelzinho, a mando do
empresário Pedro Teles, ajuizaram nesta segunda-feira pedido no
Tribunal de Justiça do Maranhão solicitando a transferência do
julgamento para São Luís.
A alegação é de que das 25 pessoas selecionadas para participar do
júri popular, pelo menos 20 têm ligação com o empresário, seu pai, o
prefeito Manoel Mariano de Sousa, o Nezim, e o deputado Rigo Teles (PV),
irmão de Pedro (veja relação abaixo).
“Verifica-se que a lista de jurados sorteados é totalmente viciada,
não havendo qualquer imparcialidade dos mesmos, nem tampouco haveria
possibilidade de excluir aqueles que poderiam ser imparciais, já que
dos listados com alguma ligação com a família do pronunciado Pedro
Teles, só sobrariam cinco jurados, número insuficiente para compor o
corpo de jurados, pois todos são amigos ou tem alguma ligação com a
família do pronunciado”, diz o pedido.
A petição é assinada por Leandro Morais Sampaio Peixoto, filho do
ex-prefeito Avelar Sampaio (PTB). Na época, foi Avelar quem cedeu
Moisés e Raimundo para atuarem como segurança de Nenzim. O ex-prefeito
deve prestar depoimento durante o julgamento.
Este ingênuo blogueiro não está acusando o empresário Pedro Teles pelo
assassinato de Décio Sá, mas considera que é uma vergonha que o
ministro da Justiça não se manifeste com clareza acerca da suspeita
levantada por Décio Sá nesta nota.
Quando Chico Mendes foi assassinado no Acre, um líder político que
depois se tornaria presidente da República disse: “Chegou a hora de a
onça beber água”. Foi muito criticado porque alguns entenderam a frase
como uma incitação a uma reação dos seringueiros.
Está mais do que na hora de os blogueiros dizerem para as autoridades que “chegou a hora da onça beber água”.
O que o ministro da Justiça vai fazer em relação a este caso? Vai ficar
quieto esperando que caia no esquecimento como outros? E a ministra
dos Direitos Humanos, vai fazer de conta que não é com ela? E os
pilantras que governam o Maranhão e são aliados do governo federal?
A blogosfera precisa reagir. Como não somos bandidos e não é possível
sair atirando em quem atira contra os nossos, precisamos gritar alto
contra aqueles que têm o dever de garantir o Estado de Direito. Eles tem
nome.
Renato Rova
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