É mais do que sintomático o comportamento da Veja, cuja matéria
capa desta semana tenta tirar os holofotes das gravíssimas denúncias em
torno do esquema criminoso comandado pelo contraventor e empresário
Carlos Cachoeira, com tentáculos em esquemas de governo e no qual estão
envolvidos políticos de diversos partidos, muito especialmente os da
oposição.
Para desviar o foco das investigações e da mobilização pela instalação de uma CPI no Congresso Nacional, a Veja vem
com a tese de que o PT quer usar a CPI para investigar as ligações
entre Cachoeira, o senador Demóstenes Torres (ex-DEM, hoje sem partido)
e outros políticos para encobrir o chamado “escândalo do mensalão”. E
para que os envolvidos não sejam julgados.
Nada mais falso. Eu sou réu neste processo e sempre disse que quero ser julgado para provar a minha inocência. O que a Veja quer fazer, secundada por outros veículos da grande mídia, é transferir ao PT o seu modus operandi
de jogar poeira nos olhos dos leitores para turvar a realidade,
desviar o foco e anestesiar os fatos para construir a pauta política
que lhe convém. No caso, tenta, desde 2005, quando eclodiu o escândalo
do uso de recursos de caixa dois para pagar dívidas de campanha de
partidos da base do governo Lula, transformar o crime eleitoral em
crime político de compra de votos de congressistas em matérias de
interesse do governo. E segue ignorando os autos do processo.
Pressão aos juízes
O que ocorre agora é mais um movimento dessa campanha, centrada na
pressão aos juízes do STF para um julgamento político do “mensalão”, no
lugar de um julgamento baseado em fatos e provas. Nada de novo, com o
agravante de que, ao trazer o escândalo do “mensalão” para o centro dos
debates tentando atropelar o julgamento do processo, tem claramente o
interesse de confundir o público e tirar os holofotes do escândalo da
ligação de Cachoeira com o senador Demóstenes, e da cadeia de interesses
dela decorrente.
Só para lembrar: o caso do mensalão emergiu dentro do escândalo
Cachoeira-Demóstenes pelo fato de o ex-prefeito de Anápolis, Ernani
José de Paula, ter denunciado que a gravação de entrega de propina nos
Correios em 2005 – que deu origem à CPI dos Correios e ao mensalão –
foi patrocinada pelo esquema de Cachoeira.
Na esteira dessa gravíssima denúncia de relações e contaminação da
máquina pública por interesses privados e criminosos, uma triste
constatação. A de que alguns órgãos de imprensa, onde se destaca a Veja,
pretensa guardiã da ética e bons costumes das elites, serviram-se de
informações engendradas no esquema criminoso de Cachoeira para produzir
matérias denuncistas. Que fatídica aliança! Com esta matéria de capa, a
Veja tenta livrar sua própria pele e escamotear seus métodos de
fazer jornalismo que atentam contra a ética da profissão; em suma,
contra a democracia.
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