Sob investigação da Polícia Federal por seu
envolvimento com a quadrilha de Carlinhos Cachoeira, a empresa Delta
Construções encontra-se pendurada nas manchetes de ponta-cabeça há
semanas. As suspeitas que recaem sobre a empresa ganharam o adorno de
uma voz.
Sem que soubesse, o presidente da Delta, Fernando Cavendish, foi
gravado por ex-sócios numa reunião ocorrida em dezembro de 2009. Na
fita, o empresário declara que, pagando propina a políticos, é possível
obter contratos com o governo.
O áudio veio à luz no blog QuidNovi,
do jornalista Mino Pedrosa. Ele já trabalhou para Cachoeira. Hoje, é
visto como uma espécie de porta-voz oficioso do contraventor. Por mal
dos pecados, a Delta reconheceu, em nota, que a voz que soa na fita é
mesmo de Cavendish.
Num trecho, o mandachuva da Delta soa assim: “Se eu botar R$ 30
milhões na mão de políticos, eu sou convidado pra coisa pra caralho!
Pode ter certeza disso, te garanto. Se eu botasse dez pau que seja na
mão de nêgo… Dez pau! Ah… Nem precisava de muito dinheiro não, mas eu ia
ganhar negócio. Ôooo…”
Noutro trecho, Cavendish declara: “Estou sendo muito sincero com
vocês: R$ 6 milhões aqui, eu ia ser convidado. Ô, senador fulano de tal,
eu tenho cinco convites aqui. Toma, tá aqui ó. Pá! Se convidar, eu boto
o dinheiro na tua mão.”
O dono da Delta conversava com dois empresários da Sygma, uma empresa
com a qual mantinha sociedade na época. Na nota que divulgou nesta
segunda (17), a Delta não nega o teor das declarações do seu presidente.
Informa apenas que o áudio foi “produzido clandestinamente, montado e
editado”.
O texto acrescenta que “os ex-sócios dessa empresa perderam um
processo de arbitragem e hoje estão sendo acionados pela Delta por
calúnia e difamação.” Alega que as frases de Cavendish “foram
pronunciadas em tom de bravata, em meio a uma discussão entre ex-sócios
que, desde então, se enfrentam na Justiça.”
Alega-se, de resto, que “o áudio não representa o que a Delta e seus
controladores pensam.” Curioso, muito curioso, curiossíssimo. Quer dizer
que, em reunião fechada, longe dos refletores, o presidente da campeã
de faturamento nas orbras do PAC se expressa assim, por meio de bravatas
vadias? Então, tá.
Afora as complicacões que já enfrenta junto à Polícia Federal e ao
Ministério Público, a Delta tornou-se alvo obrigatório da CPI do
Cachoeira. A oposição avisa que Cavendish, cujas bravatas denunciam os
métodos, será personagem do primeiro lote de requerimentos de convocação
de depoentes.
Fonte: Josias de Souza
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