Editorial do sítio Vermelho:
Na eleição de 2010, a ex-senadora Marina Silva prestou um serviço ao
conservadorismo neoliberal que disputava a Presidência da República
tentando emplacar um de seus cardeais, o tucano José Serra. Ela terminou
a disputa em terceiro lugar, com a quantidade respeitável de 19,6
milhões de votos (19% do total), resultado que possibilitou o desígnio
tucano de levar a disputa ao segundo turno; Dilma Rousseff teve 47,7
milhões de votos (47%) e Serra ficou com 33,1 milhões (33%).
A pregação de Marina Silva comoveu boa parte da juventude e da classe
média com um programa que unia a proclamada intenção de renovar – dizer
não à velha política e emplacar o desenvolvimento com respeito ao meio
ambiente.
É com base nele que Marina arregaça as mangas para 2014 e convoca a
construção de um novo partido político cujo nome mais cotado será Rede
(puro ou com algum qualificativo, como Rede Brasil Sustentável, Rede
Verde, e Rede Ecobrasil).
O grupo que articula a formação da Rede divulgou o rascunho de Manifesto
Político que poderá ser aprovado neste sábado (16), em reunião marcada
para Brasília, para lançar a nova agremiação. Quando se falava da nova
sigla, Marina disse à imprensa que o novo partido não irá aceitar
doações de pessoas jurídicas e que terá uma cota de 50% de seus filiados
com motes ou bandeiras “livres”.
O documento lembra ainda – com um tempero de esquerda – as graves
distorções políticas e sociais (pobreza, desigualdade, violência, com
carências educacionais e de saúde) enfrentadas pelo povo brasileiro. Ao
lado disso, junta alegações de indisfarçável tonalidade tucana ao falar
numa pequena capacidade do Brasil “interferir nos fóruns e mercados
globais” – deixando de lado o importante protagonismo que o Brasil
assume no mundo desde 2003.
O tom mais forte do Manifesto é claramente ambientalista, e critica o
desenvolvimentismo reconquistado nos governos de Luiz Inácio Lula da
Silva e aprofundado sob Dilma Rousseff. “Continuamos insistindo num
modelo econômico que não consegue transformar em estratégia de
desenvolvimento nossa privilegiada condição de detentor de um patrimônio
ambiental único”, diz, criticando o que considera falta de relevo do
“papel crucial da sustentabilidade ambiental dentro do processo de
desenvolvimento”.
No vídeo divulgado pela internet para convocar a reunião deste sábado,
Marina Silva se refere à crise econômica, social, ambiental, política e
de valores, que caracteriza “uma crise civilizatória". Mas é notável a
escassez de propostas alternativas para a crise. Não há nenhuma
indicação do que seria um novo modelo de desenvolvimento a não ser a
referência vaga à “sustentabilidade ambiental”.
É difícil também, a partir daquelas declarações, compreender o que seria
contraposto às “velhas práticas”, formadas por ações anacrônicas
visíveis no lançamento de um partido que surge para amparar
eleitoralmente um caudilho, vício ancestral da política conservadora
repetido no nascimento da Rede de Marina Silva.
Talvez a pretensa novidade seja indicada pelo próprio nome sugerido –
Rede – que evoca a internet e a mobilização através dela. Marinha falou
em "criar uma ferramenta nova para participação do processo político".
Pedro Ivo Batista, membro da Comissão Nacional da Rede Pró-Partido,
explicou que a nova agremiação procura uma militância formada por
"jovens, gente das redes sociais, de novos movimentos".
Muita gente, hoje, pensa assim e a recusa ao uso da palavra partido
parece alinhar a Rede de Marina Silva com aqueles que, em nossos dias,
encaram os movimentos como uma alternativa à organização política em
torno de um programa definido e aprovado coletivamente e voltado para
uma ação política organizada e unificada.
Esta seria a novidade – a Rede “autônoma” e descentralizada, no lugar
dos partidos organizados. Mas o grupo que se reúne em torno de Marina
Silva tem muito pouco de renovador. A futura legenda que vem do
“Movimento Nova Política” poderá ter dissidentes do Psol, PT e até
tucanos. Já estão confirmados alguns “velhos nomes” como a ex-senadora
Heloisa Helena (Psol), os tucanos paulistas Walter Feldman, Fábio
Feldmann e Ricardo Tripoli, os senadores Eduardo Suplicy (PT-SP) e
Cristovam Buarque (PDT/DF), Alfredo Sirkis (PV-RJ), entre outros.
Na verdade, está em preparação a repetição, na eleição de 2014, do mesmo
serviço já prestado aos tucanos, e à “velha política”, na eleição de
2010. Claro, montada no prestigio demonstrado na disputa com Dilma
Rousseff, Marina Silva tem o direito e as condições para disputar a
Presidência da República. O problema é o lado do espectro do quadro
político para o qual esse grupo acena, e ele é para o conservadorismo
neoliberal, cujo campeão já é o ex-governador mineiro do PSDB, Aécio
Neves, que será o candidato da direita em 2014.
Os cálculos se multiplicam no campo neoliberal. O tucanato – e Aécio
Neves tem repetido isso – torce por um “leque de opções” em 2014 que
facilite o envio da eleição para o segundo turno. "Quanto mais
candidatos maiores as chances de ter segundo turno", pensa o deputado
Marcus Pestana, presidente do PSDB de Minas.
Especula-se fortemente, nesse sentido, em torno de uma desejada (no
ninho tucano) candidatura presidencial do governador de Pernambuco e
presidente do PSB, Eduardo Campos. Ele, entretanto, não confirma as
“certezas” que a mídia hegemônica difunde sobre sua candidatura, e chega
a fazer blague delas, reafirmando o apoio dos socialistas ao governo de
Dilma Rousseff.
A única certeza, neste quadro de especulações, é que Marina Silva lança sua Rede. Quem cairá nela?
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