Nas entrelinhas
A Rede chega embalada em um movimento
pela ética na política. Duas legendas se criaram nessa seara e chegaram
ao poder, PT e PSDB
A terceira onda
Para
quem pensa que a #Rede Pró-partido de Marina Silva surge como apenas um
misto de sonhadores com lunáticos, os “sonháticos”, é bom analisar um
pouquinho as formações partidárias dos últmios 30 anos. Do extinto PRN
do ex-presidente Fernando Collor de Mello, até o PT, a grande legenda do
momento, vimos de tudo. De pequenas empresas a grandes negócios. De
sacerdócio a sonhos. Nessas três décadas, entretanto, apenas dois
movimentos pela ética que resultaram em partidos bem sucedidos.
A primeira onda foi o PT. Embora tenha surgido com uma bandeira mais voltada aos direitos trabalhistas, o PT incorporou o discurso da ética. CPI? Lá estava o PT. Recursos públicos mal aplicados? Os petistas eram os primeiros a vasculhar as contas públicas.
O segundo forte movimento resultou na criação do PSDB. Cansados da metodologia do PMDB paulista nos tempos de Orestes Quércia e com as diferenças devidamente registradas na época da constituinte, políticos e um punhado de intelectuais fundaram o partido. O PSDB consegue chegar ao poder antes do PT, graças ao Plano Real e à aliança à direita. O constrangimento da aliança chegou a produzir comentário da ex-primeira-dama Ruth Cardoso, dividindo o PFL entre o de Antonio Carlos Magalhães e o de Marco Maciel e Gustavo Krause — que ficou conhecido como o “o PFL da dona Ruth”.
Desgastado depois de oito anos de mandato, o PSDB terminou suplantado pelo PT, que desembarca no Planalto com a esperança de não sucumbir ao toma lá dá cá da política. Esse sonho, entretanto, não sobrevive ao primeiro governo de Lula.
No poder, os petistas fecham acordos com o que de mais controverso há no quadro partidário. Uma turma sai no meio desse caminho e funda o PSol, que surge mais como uma revolta em relação ao PT. Nesse meio tempo, estoura o mensalão, e o resto da história é bem conhecida. Lá está o PT equiparado aos demais e a um passo de ver seus ex-líderes irem para a cadeia. Hoje, o partido de Lula tenta se reinventar da mesma forma que os tucanos buscam um novo discurso capaz de empolgar o eleitorado.
Enquanto isso, no sabadão candango…
É nesse contexto, de os partidos tentando encontrar oxigênio, que surge a #Rede Pró-Partido — na tarde de ontem, batizado de Rede Sustentabilidade.
A parte da manhã lembrou o PT dos anos 1980, só que repleto de novos acessórios para buscar maior participação popular, limites a número de mandatos eletivos e cuidados com os financiadores de campanha.
Até a distribuição das cadeiras, posicionadas no salão como um grande círculo, foi pensada no sentido de mudar conceitos. A formação prescinde do tradicional mesão, onde, invariavelmente, fica a cúpula partidária. Os copos plásticos, substituídos por canecas, entregues a todos participantes e convidados na chegada. Mais sustentabilidade, menos consumismo.
Antes de qualquer discurso, um debate com intelectuais, como Ricardo Abramovay, da USP, Carlos Nepomuceno e Eduardo Viola, da UnB, sobre a crise mundial econômica, social, ambiental e a ausência de valores. Marina, a grande estrela, menciona a necessidade do valorizar o “ser” em vez do “ter”. Abomina as velhas práticas políticas. As estrelas da Rede são poucas.
Estavam lá, além da musa Marina, as ex-senadoras Heloisa Helena e Serys Slhessarenko, ex-PT (foto abaixo), o deputado Walter Feldman, do PSDB paulista; Domingos Dutra e Luciano Zica; do PT, e José Aparecido, do PV de Minas Gerais.
Na plateia, jovens vereadores de vários partidos, inconformados com a pecha de que político é tudo igual, dão uma cor especial ao encontro.
Ao propor novas práticas e instrumentos para segurar seus filiados na linha da ética exigida pelo eleitor, a Rede chega com um apelo popular que outros partidos criados recentemente não tiveram, a começar pela imagem de sua líder maior.
Marina obteve 18% nas últimas pesquisas de intenções de voto para presidente da República.
Por mais que muitos a considerem “bicho-grilo” demais, alternativa demais, para comandar o país, ela representa algo de novo que requer observação. E não chega sozinha.
Nem todo o partido surge embalado pela ética na política e nem toda onda pela ética na política vira um partido. Daí, o fato de alguns a classificarem a Rede como a terceira grande onda pela ética que resulta num partido. PT e PSDB chegaram ao poder. O PT levou mais de 20 anos, o PSDB fez um caminho mais curto, mas ambos tiveram sucesso.
A Rede, por enquanto, é um embrião alinhado com o movimento de descentralização inspirado nas redes sociais (um dos segredos do sucesso do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama).
Mostra-se disposta ainda a representar um novo momento na disputa de poder político no mundo, em sintonia com movimentos em curso na Europa, também saturada dos modelos atuais de gestão partidária.
Dentro desse contexto, nunca é demais lembrar que Marina e sua turma estão chegando primeiro. E quem chega primeiro, reza o ditado, bebe água limpa. Se conseguir vencer os entraves burocráticos para a criação da legenda até outubro, vai dar trabalho a Dilma Rousseff, Aécio Neves e quem mais chegar.
O Texto acima é de Denise Rothenburg
deniserothenburg.df@dabr.com.br.
Fonte: Blog do Saraiva
A primeira onda foi o PT. Embora tenha surgido com uma bandeira mais voltada aos direitos trabalhistas, o PT incorporou o discurso da ética. CPI? Lá estava o PT. Recursos públicos mal aplicados? Os petistas eram os primeiros a vasculhar as contas públicas.
O segundo forte movimento resultou na criação do PSDB. Cansados da metodologia do PMDB paulista nos tempos de Orestes Quércia e com as diferenças devidamente registradas na época da constituinte, políticos e um punhado de intelectuais fundaram o partido. O PSDB consegue chegar ao poder antes do PT, graças ao Plano Real e à aliança à direita. O constrangimento da aliança chegou a produzir comentário da ex-primeira-dama Ruth Cardoso, dividindo o PFL entre o de Antonio Carlos Magalhães e o de Marco Maciel e Gustavo Krause — que ficou conhecido como o “o PFL da dona Ruth”.
Desgastado depois de oito anos de mandato, o PSDB terminou suplantado pelo PT, que desembarca no Planalto com a esperança de não sucumbir ao toma lá dá cá da política. Esse sonho, entretanto, não sobrevive ao primeiro governo de Lula.
No poder, os petistas fecham acordos com o que de mais controverso há no quadro partidário. Uma turma sai no meio desse caminho e funda o PSol, que surge mais como uma revolta em relação ao PT. Nesse meio tempo, estoura o mensalão, e o resto da história é bem conhecida. Lá está o PT equiparado aos demais e a um passo de ver seus ex-líderes irem para a cadeia. Hoje, o partido de Lula tenta se reinventar da mesma forma que os tucanos buscam um novo discurso capaz de empolgar o eleitorado.
Enquanto isso, no sabadão candango…
É nesse contexto, de os partidos tentando encontrar oxigênio, que surge a #Rede Pró-Partido — na tarde de ontem, batizado de Rede Sustentabilidade.
A parte da manhã lembrou o PT dos anos 1980, só que repleto de novos acessórios para buscar maior participação popular, limites a número de mandatos eletivos e cuidados com os financiadores de campanha.
Até a distribuição das cadeiras, posicionadas no salão como um grande círculo, foi pensada no sentido de mudar conceitos. A formação prescinde do tradicional mesão, onde, invariavelmente, fica a cúpula partidária. Os copos plásticos, substituídos por canecas, entregues a todos participantes e convidados na chegada. Mais sustentabilidade, menos consumismo.
Antes de qualquer discurso, um debate com intelectuais, como Ricardo Abramovay, da USP, Carlos Nepomuceno e Eduardo Viola, da UnB, sobre a crise mundial econômica, social, ambiental e a ausência de valores. Marina, a grande estrela, menciona a necessidade do valorizar o “ser” em vez do “ter”. Abomina as velhas práticas políticas. As estrelas da Rede são poucas.
Estavam lá, além da musa Marina, as ex-senadoras Heloisa Helena e Serys Slhessarenko, ex-PT (foto abaixo), o deputado Walter Feldman, do PSDB paulista; Domingos Dutra e Luciano Zica; do PT, e José Aparecido, do PV de Minas Gerais.
Na plateia, jovens vereadores de vários partidos, inconformados com a pecha de que político é tudo igual, dão uma cor especial ao encontro.
Ao propor novas práticas e instrumentos para segurar seus filiados na linha da ética exigida pelo eleitor, a Rede chega com um apelo popular que outros partidos criados recentemente não tiveram, a começar pela imagem de sua líder maior.
Marina obteve 18% nas últimas pesquisas de intenções de voto para presidente da República.
Por mais que muitos a considerem “bicho-grilo” demais, alternativa demais, para comandar o país, ela representa algo de novo que requer observação. E não chega sozinha.
Nem todo o partido surge embalado pela ética na política e nem toda onda pela ética na política vira um partido. Daí, o fato de alguns a classificarem a Rede como a terceira grande onda pela ética que resulta num partido. PT e PSDB chegaram ao poder. O PT levou mais de 20 anos, o PSDB fez um caminho mais curto, mas ambos tiveram sucesso.
A Rede, por enquanto, é um embrião alinhado com o movimento de descentralização inspirado nas redes sociais (um dos segredos do sucesso do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama).
Mostra-se disposta ainda a representar um novo momento na disputa de poder político no mundo, em sintonia com movimentos em curso na Europa, também saturada dos modelos atuais de gestão partidária.
Dentro desse contexto, nunca é demais lembrar que Marina e sua turma estão chegando primeiro. E quem chega primeiro, reza o ditado, bebe água limpa. Se conseguir vencer os entraves burocráticos para a criação da legenda até outubro, vai dar trabalho a Dilma Rousseff, Aécio Neves e quem mais chegar.
O Texto acima é de Denise Rothenburg
deniserothenburg.df@dabr.com.br.
Fonte: Blog do Saraiva
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