Líder cubano Fidel Castro (E)
comparece à sessão de abertura de Assembleia Nacional ao lado do
presidente cubano, seu irmão Raúl Castro
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Irmão de Fidel confirma processo de
transição ao declarar que deixa poder em 2018; potencial sucessor pode
ser Miguel Díaz-Canel, 52, apontado como 1º vice-presidente
Reeleito neste domingo por mais cinco anos como
presidente de Cuba, Raúl Castro confirmou o processo de transição
política em Cuba ao declararar, diante da Assembleia Nacional, que deve
deixar o poder ao término do segundo mandato.
O anúncio traz à tona o momento de mudanças no país e
reforça a busca da "velha guarda" cubana por sucessores que garantam a
sobrevivência do regime no futuro. Eleito em 2008 para substituir o
irmão Fidel Castro como presidente após quatro décadas, Raúl defende a
limitação de dois mandatos para autoridades cubanas ficarem no poder -
uma das medidas mais importantes do seu pacote de reformas políticas e
econômicas que vem sendo implementado gradualmente na ilha.
Reformas:
- Cuba têm filas em agências de turismo no 1º dia de lei sobre viagens ao exterior
- Cuba permitirá regresso de 'emigrantes ilegais'
- Cuba detalha lei que permite compra e venda de carros e imóveis
- Cuba levanta proibição para venda de eletrodomésticos vigente desde 2003
A eleição também foi marcada pela presença de Fidel no Congresso
. Aos 86 anos, o líder é raramente visto em público e não fazia uma
aparição diante dos parlamentares desde 2006, quando passou o poder ao
irmão de forma temporária.
Quanto ao potencial sucessor dos irmãos Castro, a escolha
do primeiro vice-presidente Miguel Díaz-Canel, de 53 anos, um membro do
Politburo que cada vez mais aparece ao lado de Raúl em eventos
oficiais, pode ser uma pista.
Segundo na linha de comando, o vice-presidente costumava
até então ser outro líder octogenário. Mas com um perfil mais jovem,
Miguel já havia sido cotado como um nome potencial para ocupar o cargo a
partir deste ano.
Muita pressão
O resultado mais óbvio das reformas tem sido a explosão
de pequenos negócios, de manicures a jardinagem. Tais atividades foram
legalizadas na tentativa do governo de diminuir o peso da folha de
pagamento estatal.
"Ganhava 400 pesos por mês (R$ 32). Agora consigo ganhar
tanto quanto meu trabalho render", diz Eduardo García, que tem uma
oficina de consertos de TVs e rádios. Uma das TVs de tela plana que
espera conserto na oficina vale cerca de R$ 4 mil, um bom indicativo das
mudanças em curso na ilha.
Assim como outros 500 mil trabalhadores autônomos, García
não tem só o que comemorar. "É como se tivessem desatado nossas mãos,
mas não os nossos pés. Estamos trabalhando sob muita pressão", diz.
Ele reclama que o monopólio estatal sobre produtos
importados e a falta de um mercado de peças dificulta muito seu
trabalho. "Mas por 54 anos ninguém pensou que isso pudesse vir a ser
possível", diz. "É como uma máquina, lenta no início. Mas espero que as
coisas melhorem", diz.
Como lidar com as grandes estatais que ainda dominam a
economia cubana é o próximo desafio do novo governo formado neste
domingo. O mais novo experimento do governo Castro será dar mais
autonomia às empresas para impulsionar a eficiência.
Outra medida deve limitar o número de cooperativas, com
exceção da agricultura. Uma citação de Raúl que circula por Havana dá o
tom das mudanças. "A batalha da economia é hoje, mais do que nunca,
nossa principal tarefa."
Tarefa árdua
"Trata-se de uma batalha, e o futuro de Cuba depende dos
resultados", afirma o economista Jan Triana, ao dizer que cinco décadas
após a revolução Cuba está "reinventado o socialismo". "Ganhamos a
principal batalha em 1990, quando a União Soviética desapareceu e Cuba
ficou sozinha no mundo. Foi difícil, mas estamos vivos", diz.
Mas após os novos deputados tomarem seus assentos no
Parlamento e os novos líderes de Cuba serem indicados, a preocupação
será a árdua tarefa que ainda existe pela frente. Sob a presidência de
Hugo Chávez
, a Venezuela se tornou o principal aliado de Cuba, fornecendo quase todo o combustível que a ilha precisa a preços subsidiados.
Aliado: Cuba tem muito a perder enquanto Chávez luta contra câncer
Chávez voltou a Caracas
na semana passada, depois de meses tratando de um câncer em Havana. Mas
ele continua doente e não se sabe como será a relação entre os dois
países caso Chávez saia de cena. "Venezuela é uma peça importante no
tabuleiro", diz Paul Hare, ex-embaixador britânico em Havana. "O que
acontecer em Caracas vai determinar o quão rápido pode ser a abertura da
economia em Cuba, se haverá a adoção de uma solução ao estilo chinês,
caso a Venezuela corte os subsídios aos combustíveis. Daí a urgência das
reformas", diz.
Ganho importante
O objetido do sistema é ajustar-se sem ruir. Mas a
relação entre o Estado e os cidadãos já está mudando. "Todas essas
medidas que fazem os cidadãos economicamente independentes do Estado
estão criando um sentimento de liberdade nas pessoas", diz o escritor e
ensaista Leonardo Padura. "É um ganho importante para a sociedade
cubana", diz.
A introdução de um imposto de renda é um claro sinal
dessas mudanças, à medida que o governo mais e mais depende do imposto
recolhido entre os cubanos. Para analistas, no entanto, as mudanças
econômicas não têm sido acompanhadas de reformas políticas.
"Eles [autônomos]
são o elemento dinâmico da sociedade cubana. Creio que a abertura em
Cuba não virá pelas organizações políticas, para pela quebra das
barreiras levada a cabo pelos trabalhadores autônomos", diz o
ex-embaixador Hare..
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