Em 7 de março de 1990, há 20 anos, morria no Rio de Janeiro, aos 92 anos, Luis Carlos Prestes, o “Cavaleiro da Esperança”, líder do Partido Comunista durante décadas e uma das mais influentes personalidades políticas brasileiras do século 20, cuja vida foi marcada por gestas heróicas e dramas pungentes.
Nasceu em Porto Alegre, mas a família logo se mudou para o Rio de Janeiro. A infância de Prestes foi pobre. Estudou em casa com a mãe até conseguir entrar para o Colégio Militar, em 1909. Ingressou em seguida na Escola Militar, onde o soldo que ganhava entregava à família. Sua dedicação à mãe e às irmãs era notável. Saiu aspirante 1918, continuando na Escola Militar em 1919 para completar o curso de Engenharia. Em 1920 colou grau como bacharel em Ciências Físicas, Matemáticas e Engenharia Militar, sendo promovido a segundo-tenente. Ganhou fama de excelente discípulo ao ensinar matemática a colegas que cursavam dois anos acima. E como havia sido o melhor aluno, pôde escolher onde servir e optou por continuar no Rio de Janeiro, na Companhia Ferroviária. Pouco mais tarde passou a freqüentar as reuniões do Clube Militar.
Em outubro de 1924, já como capitão, comandando o Batalhão Ferroviário de Santo Ângelo RS, Prestes liderou a revolta tenentista na região das Missões. Lutando contra o governo de Arthur Bernardes, os jovens oficiais do Exército, os "tenentes", pretendiam levantar a população contra o poder da oligarquia governante e, por meio da revolução, exigir reformas políticas e sociais, como a renúncia de Bernardes, a convocação de uma Assembléia Constituinte e o voto secreto. Cortando as linhas do cerco militar do governo, Prestes se dirigiu para Foz do Iguaçu, onde se uniu aos paulistas, formando o contingente rebelde que ficou conhecido como Coluna Prestes ou Coluna Invicta que percorreu, com 1.500 homens, durante 2 anos e 5 meses, cerca de 25 mil quilômetros. A marcha terminou em 1927, quando os revoltosos se exilaram na Bolívia e na Argentina.
Em dezembro de 1927 foi procurado por Astrojildo Pereira, secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro, incumbido de convidá-lo a firmar uma aliança entre o proletariado revolucionário e as massas populares, sob a liderança do “Cavaleiro da Esperança”. Prestes recusou a proposta.
A seguir, muda-se para a Argentina, onde lê Marx e Lenin. Convidado a assumir a chefia militar da Revolução Liberal de 1930 nega-se a participar do movimento liderado por Getúlio Vargas. O poder lhe foi oferecido de bandeja. Ele poderia ter sido presidente da República. Seu prestígio era gigantesco. Pouca gente entendeu sua recusa. Prestes alegava que, se aceitasse participar, aconteceriam duas coisas: teria que se integrar ao sistema, aderir à política de Getúlio Vargas e se descaracterizar, ou rebelar-se e ser liquidado, política ou mesmo fisicamente. Dizia mais que a Revolução de 30, não iria resolver os problemas do povo, seria uma solução pela cúpula.
Em 1931 viajou para a União Soviética. Eleito membro da comissão executiva da Internacional Comunista (Comintern), volta como clandestino ao Brasil em dezembro de 1934, acompanhado pela alemã Olga Benario, também membro da IC, encarregada de sua segurança. Dela se apaixonou. Era a primeira mulher de sua vida. Seu objetivo era liderar uma revolução armada no Brasil, decidido em Moscou.
Olga Benario |
A insurreição, desencadeada sob a bandeira de uma ampla frente política, a Aliança Nacional Libertadora, em novembro de 1935, fracassou. Prestes e Olga foram presos em 1936. Olga, judia, foi entregue em 1938 grávida de 5 meses por Getúlio Vargas ao regime nazista. A filha do casal, Anita, nasceu na prisão, na Alemanha, em 27 de novembro de 1938 e, após grande campanha internacional a mãe de Prestes, d. Leocádia, conseguiu resgatá-la.
Morte de Olga
No começo de fevereiro de 1942, pouco antes de completar 34 anos, Olga, internada no campo de concentração de Ravensbrück, é avisada que seria imediatamente transferida, junto a outras dezenas de companheiras, para o campo de Bernburg, onde morreria na câmara de gás. Aquela meia hora foi o tempo suficiente para escrever uma carta ao marido de que Prestes só viria a ler muitos anos depois.
“... quero viver para este futuro tão breve que me resta. De ti aprendi, querido, o quanto significa a força de vontade, especialmente se emana de fontes como as nossas. Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo. Prometo-te agora, ao despedir-me, que até o último instante não terão porque se envergonhar de mim... Até o último momento manter-me-ei firme e com vontade de viver... Beijos pela última vez.”
Depois de nove anos preso, Prestes subiu ao palanque ao lado de Vargas, outro gesto que pouca gente assimilou. Chefe do PCB, eleito Senador, participou da Constituinte em 1946, mas foi para a clandestinidade em 47, quando o registro do Partido Comunista foi cassado. Retornou às atividades políticas em 1960, porém, o golpe militar de 64 devolveu-o à clandestinidade, privando-o de direitos políticos por 10 anos. Colocando-se contra a luta armada, provocou o racha do PCB, quando a ala de Carlos Marighella partiu para a guerrilha urbana.
Retorno e morte
Em junho de 1966, num processo conduzido pela 2ª Auditoria do Exército de São Paulo, foi condenado à revelia a 15 anos de prisão, acusado de tentar reorganizar o PCB.
Com a decretação da anistia em agosto de 1979, Prestes, após oito anos de exílio, desembarcou no Rio de Janeiro. Os militantes do PCB, contudo, já não acatavam mais suas orientações. Prestes escreve uma "Carta aos comunistas" na qual defendeu a reconstrução do movimento comunista no país. Em 1982, retira-se do PCB.
Agindo sem se filiar a qualquer partido, Prestes passou a militar em diversas causas até o fim de sua vida.
Fonte: Opera Mundi
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