SHARPEVILLE REVELOU O APARTHEID
Hoje se comemora o Dia Internacional da Luta pela Eliminação
da Discriminação Racial. A data foi instituída pela ONU em 1969 para lembrar o
Massacre de Sharpeville, ocorrido em 21 de março de 1960 nas proximidades de Johannesburgo,
na África do Sul. Naquele dia, cerca de cinco mil estudantes e trabalhadores sul-africanos
realizaram uma passeata para protestar contra a “Lei do Passe”, que obrigava os
negros a portar uma caderneta, uma espécie de passaporte interno, que indicava os
locais onde eles poderiam se deslocar. A polícia abriu fogo contra os
manifestantes com metralhadoras, matando 69 pessoas – inclusive dez crianças –
e deixando 180 feridos.
O episódio foi um turning
point na história da África do Sul, pois chamou a atenção mundial para o apartheid, o regime racista da minoria branca
que vigorava há décadas no país; levou o governo sul-africano a decretar a lei
marcial e a prender quase 20 mil pessoas e fez com que grupos oposicionistas, com
o Congresso Nacional Africano (CNA) à frente, abandonassem a tática de resistência
pacífica e partissem para a luta armada contra a opressão.
O apartheid,
na verdade, existia há muito tempo na África do Sul. A Lei da Terra, de 1913,
por exemplo, destinava aos negros – que representavam 2/3 da população – 7,5%
do território, enquanto os brancos, que eram um quinto dos sul-africanos,
ficaram com 92,5% das terras. A vitória do Partido Nacional, em 1948, acelerou
as leis discriminatórias, entre elas a de registro populacional, que obrigava a
população a se definir como branca, negra ou mestiça. O objetivo da minoria branca era separá-las espacialmente
e restringir ainda mais direitos aos negros. E o mais incrível de tudo é que os bôers – os sul-africanos descendentes de holandeses que
dominavam o país – justificam o apartheid
pela leitura da Bíblia feita pela Igreja Reformada Holandesa.
Nelson Mandela, líder do Congresso Nacional Africano, foi preso
em 1963 e condenado à prisão perpétua em 1964. Ficaria 27 anos no cárcere, mas se
tornaria o maior símbolo da luta contra o apartheid.
Nos anos 1970, uma nova onda de manifestações abalou o regime. Em 1974, o
governo decretou outra lei segregacionista contra a população negra, tornando
obrigatório o idioma africâner em
todas as escolas do país. Em 30 de abril de 1976, crianças das escolas primárias de
Orlando West, em Soweto, entraram em greve, se recusando ir às aulas. A medida
teve o apoio da maioria da população negra de Soweto, incluindo professores e
trabalhadores.
Os estudantes organizaram um protesto em 16 de junho de 1976, marchando
aos milhares pelas ruas de Johanesburgo. O protesto foi duramente reprimido
pela polícia sul-africana, que mais uma vez recebeu manifestantes à
bala. Calcula-se, desta vez, que mais de 700 pessoas tenham sido assassinadas.
Revoltados
com a repressão, os negros intensificaram protestos em
todo o país. O regime prendeu, exilou, torturou e matou milhares de
pessoas. Em 1977, o
militante Steve Biko, do Movimento de Consciência Negra, morreu em
consequência das torturas infringidas pela polícia, provocando nova onda
de manifestações.
Muito sangue correria
ainda até o fim do apartheid, em 1994,
quando Nelson Mandela foi eleito presidente da África do Sul e conduziu, sem sectarismos, a difícil
transição para um regime multirracial.
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