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segunda-feira, 4 de março de 2013

Uma agenda à procura de um partido




Saul Leblon, Carta Maior


“O PT não ganhou com a saída de Marina Silva, que deixou o partido em agosto de 2009.
E Marina ainda precisa provar que a ruptura fortaleceu a agenda ambiental no país.
O debate sobre o tema guarda silencio obsequioso no interior do partido desde então.
Mas mereceu sintomática salvaguarda de princípios nas conclusões do seu IV Congresso, em 2011:
"O Brasil não tratará a questão ambiental como apêndice, senão como parte essencial, de seu projeto de desenvolvimento. Como socialistas democráticos, queremos uma alternativa de civilização ao capitalismo'.
Talvez tenha chegado a hora inadiável de adicionar nervos e musculatura a essa declaração de intenções.
Quatro anos e 18 milhões de votos depois, obtidos na campanha presidencial de 2010, Marina articula um novo partido.
A 'Rede' flerta com a trama evanescente da 'terceira via verde'.
Nem de esquerda, nem de direita. Nem situação, nem oposição.
Há um tipo de neutralidade que só enxerga os erros da esquerda.
E costuma rejuvenescer o cardápio da direita, sempre que esta se ressente de espaços e agendas para retomar a disputa pelo poder.
Não será algo propriamente inédito se vier a ocorrer de novo.
No México, os ambientalistas do Partido Verde Ecologista (PVEM), apoiaram o candidato vitorioso da direita, Henrique Peña Nieto, do PRI, contra Obrador.
Na Venezuela, o Movimento Ecológico Venezuelano entregou-se de corpo e alma à candidatura do engomadinho Henrique Capriles Randonski, com a qual golpistas de ontem testam a versão jovem' de hoje.
Em São Paulo, o PV apoiou José Serra, em 2010.
Em Salvador, embarcou na candidatura vitoriosa do demo Antonio Carlos Magalhães Neto, nas eleições municipais do ano passado.
O ziguezague verde reflete a dificuldade histórica de uma agenda complacente.
Ela agrega desde rótulos espertos de detergentes de limpeza, a militantes sinceros da resistência à destruição da natureza.
O ambientalismo precisa decidir se quer ser uma tecnologia ou uma proposta de nova sociedade.
Quer ser um guia de boas maneiras para o 'capitalismo sustentável'; ou um projeto alternativo à lógica desenfreada da exploração da natureza e do trabalho.
Não são escolhas postergáveis.
O mesmo se pode dizer em relação às do PT.
A dissociação entre a sigla e o empenho específico em evitar que a humanidade seja jogada a um ponto de não retorno no século 21, não deixa o partido em situação propriamente confortável.
Agora mais do que nunca.
Não se trata apenas de precificar o prejuízo eleitoral da 'Rede' – que existe
É mais grave que isso.
Agudiza-se um desafio objetivo, sobre o qual o partido não tem refletido nem avançado.
A saída em massa dos ambientalistas abriu um buraco na evolução do seu discernimento histórico e programático.
Perdeu-se a virtuosa tensão de um convívio e de um debate incômodo, inconcluso, nem sempre conduzido com habilidade, mas crucial.
Perdeu-se o sentido de urgência na construção das linhas de passagem que devem conduzir a um ponto de encontro entre socialismo, desenvolvimento, democracia e sociedade sustentável.
A história não oferece o mapa pronto de caminhos ainda não trilhados.
Tropeços são inevitáveis.
Mas ignorar as urgências escancaradas pela desordem sistêmica do capitalismo, desde 2008, equivale a adotar como bússola os rótulos oportunistas das ''empresas ambientalmente responsáveis'.

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