Por que a mídia está obcecada com a relação entre Bento XVI e seu secretário particular.
Desde que o papa anunciou sua renúncia, um alemão vem ganhando cada
vez mais as atenções da mídia, apesar de não concorrer ao posto máximo.
Georg Gänswein, secretário particular de Bento XVI, vai acompanhar o
Santo Padre em seu retiro em Castel Gandolfo, em Roma – além de
continuar cuidando da residência do novo pontífice. Essa dupla função
causou preocupação entre alguns cardeais, que enxergaram nisso uma
maneira de Ratzinger manter sua influência sobre o sucessor. O porta-voz
do Vaticano, Federico Lombardi, descartou o conflito de interesses,
argumentando que o cargo de Ganswein é técnico. “Ele vai organizar as
audiências”, disse. “Nesse sentido, não é um grande problema”.
O que se tornou um problema é a natureza da relação de Gänswein com o
papa. Ele é uma espécie de faz-tudo de Sua Santidade, um braço direito
de todas as horas. Ajuda-o a subir e descer de palanques, acompanha-o no
papamóvel, põe ordem em sua agenda, protege-o de visitantes
indesejados, toma café, almoça, janta e tira as sonecas da tarde com
ele. Segundo o jornal italiano La Repubblica, há documentos
internos citando um poderoso lobby homossexual no Vaticano, que seria
uma das razões de Ratzinger sair. Numa instituição homofóbica, com um
papa que associou a homossexualidade à doença e à loucura, o assunto
acabou tomando uma dimensão fora do controle.
Recentemente, o blogueiro Andrew Sullivan levantou a bola.
“Esse homem – claramente apaixonado por Ratzinger (e vice-versa) –
agora vai trabalhar para o novo papa como secretário durante o dia e à
noite para o papa emérito.” Sullivan não é o primeiro a falar disso. Em
2010, o escritor Angelo Quattrocchi lançou The Pope is Not Gay,
sobre a homofobia católica, a vida e a carreira de Bento. Diz ele: “Dez
anos antes de se tornar papa, quando a idade começou a cobrar seu preço e
estava talvez alimentando seu rancor, Ratzy encontrou Don Giorgio
[Gänswein]. E foi uma centelha de vida em meio à escuridão da doutrina…
Nós podemos ao menos imaginar como uma alma pura se inflama quando
conhece sua alma gêmea, quando um quase septuagenário membro da
Congregação Pela Doutrina da Fé encontra um padre de 40 anos, brilhante,
da sua Bavária natal, com quem ele divide a mesma visão de mundo… Ao
vermos Georg dando a mão ao papa, acompanhando-o em suas caminhadas,
colocando o pequeno chapéu em sua cabeça, não conseguimos deixar de nos
sentir emocionados.”
Georg Gänswein foi apelidado pela imprensa de Gorgeous George (George
Lindão). Colm Toibin, escritor, jornalista e crítico literário
irlandês, o descreve como “uma mistura de George Clooney e Hugh Grant,
mas, num certo sentido, mais bonito que os dois”. Foi ordenado sacerdote
em 1984. Em 1996, recebeu o convite do então cardeal Joseph Ratzinger
para se juntar à sua congregação. Ratzinger foi eleito para o papado em
2005 e nomeou Gänswein secretário. Culto e poliglota, é autor de alguns
livros. Um deles se chama Perché il papa ha le escarpe rosse? (“Por
que o papa tem sapatos vermelhos?”), em que explica alguns dogmas para
crianças.
“Fica quieto um pouquinho…
Sobre o celibato: “Significa que nós renunciamos de vontade
própria a ter uma família, imitando Jesus. Não há nada de negativo, ao
contrário, fazemos isso por amor a Jesus e assim podermos ser pais de
todos”.
Em 2007, ele inspirou uma coleção de Versace (“The Clergyman
Collection”). Foi capa de janeiro da edição italiana da revista Vanity
Fair (“Ser Belo Não é Pecado”, garante a chamada). Uma beata montou um blog em sua homenagem.
Na apresentação, ela se declara: “Não vamos fingir que não percebemos a
beleza extraordinária de Monsenhor Georg. Isso seria muito hipócrita.
Vamos dar graças ao Senhor por Suas criaturas!” Numa entrevista para o
rádio, indagado se ficava nervoso diante da presença de Sua Santidade,
Gänswein aquiesceu.
… Agora sim”
“Mas também é verdade que o fato de nos encontrarmos
e estarmos juntos diariamente cria uma sensação de familiaridade, o que
tira um pouco do nervosismo. Obviamente, eu sei quem o Santo Padre é e
sei como me portar adequadamente. Há sempre algumas situações, no
entanto, em que o coração bate mais forte que o normal”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário