PSDB E PT FAZEM A GUERRA E QUEM PERDE E VOCÊ, QUE DISSE NAS URNAS QUEM E O QUE QUERIA PARA O BRASIL.
Ex-candidato tucano Aécio Neves fala em "grande
exército a favor do Brasil"; em retribuição, página do PT no Face
convoca: "Militância, às armas!"; mesmo que em sentido figurado,
radicalização é respondida com radicalização; num país de frágil
tradição democrática como o Brasil, discursos belicosos ao inconsciente
coletivo sempre serviram a interesses antipopulares; onde essa
brincadeira com fogo entre os dois principais partidos políticos do
Brasil vai parar?; em 1964, UDN versus PTB deu no que deu.
Marco Damiani _ 247 – PSDB e PT estão brincando com
fogo – e quem pode sair queimada é a democracia brasileira. Depois de um
show eleitoral que eletrizou o País, repleto de surpresas, viradas e
uma disputa voto a voto que resultou sim numa vitória apertada, mas
limpa e legítima, a reeleição da presidente Dilma Rousseff vai sendo
questionada de maneira perigosa. Não apenas, igualmente vai sendo
defendida de um modo bastante arriscado.
Na terça-feira 4, enquanto o ex-candidato tucano falou em chamar para
o seus domínios um "grande exército a favor do Brasil", a resposta do
comando petista foi um panfleto eletrônico, via Facebook, no qual se
convoca: "Militância, às armas!". Tudo no sentido figurado, mas essas
são as palavras que atingirão o público. Nessa batida, que se dá antes
mesmo de serem completadas duas semanas do final da campanha eleitoral,
onde se quer chegar?
Tanto na recusa ao diálogo com o governo, posição professada do
ex-presidente Fernando Henrique ao ex-candidato a vice Aloysio Nunes,
como na dificuldade da cúpula do PT em se posicionar além e acima dessas
provocações de viés estudantil – logo um partido que venceu uma, duas,
três e quatro eleições presidenciais seguidas – mora o perigo. No meio
destes opostos, corre solta uma nova direita de cunho golpista, que já
demonstrou a capacidade de ocupar a maior avenida de São Paulo, no
sábado 1, sem ser incomodada.
SÓ POR HIPÓTESE - O risco não é pequeno. Tome-se a
hipótese, neste vácuo de diálogo entre os partidos envolvidos
diretamente na peleja, de um ato qualquer de violência. O que pode
acontecer? Neste momento, caso o "exército" a que Aécio se referiu se
depare nas ruas com "as armas" da militância petista, o que haveria com
quem apenas e simplesmente foi às urnas escolher o candidato que
considerou mais preparado para dirigir o País?
Em 1964, a resposta para os movimentos de desestabilização ao
presidente João Goulart, a partir da renúncia embriagada do titular
Jânio Quadros, em 1961, resultou numa ditadura de matou, torturou e
reinou pelos seguinte 21 anos. As promessas de limpeza da corrupção,
saneamento dos partidos, eleições presidenciais logo em seguida
emprestaram até mesmo uma certa legitimidade, de um ponto de vista à
direita, ao golpe militar – de resto imediatamente ratificado pelo
Congresso, que declarou vago o cargo de presidente da República.
Exagero? Em termos. Alertar agora sobre o que pode acontecer quando
se mexe no inconsciente coletivo com o uso de imagens belicosas –
repita-se, exército, armas etc. – é apenas ser responsável.
A sociedade brasileira cresceu, se desenvolveu e é hoje, sem dúvida,
muito mais complexa do que a daqueles tempos. Porém, ainda é a sociedade
brasileira, nitidamente dividida em classes de interesses conflitantes e
ideologias díspares. Um fósforo aceso ainda pode, da mesma maneira que
ontem, causar uma fogueira, e mais uma e mais outra até provocar um
grande incêndio.
É de se admirar, negativamente, que chefes partidários experientes
como são os do PSDB admitam o confronto permanente com a presidente
reeleita, como se revela em todas, sem exceção, manifestações de quadros
como os próprios Aécio e FHC, além de Goldman, Nunes e outros menos
famosos.
Note-se: o senador eleito José Serra, que assim como eles sofreu com a
ruptura democrática, mas, mais que eles, foi perseguido de morte logo
após o abril de 64, não entrou nessa vibe, como diz a juventude que
frequenta as baladas. Está quieto, certamente não gostando nada nada do
que está ouvindo.
Igualmente é de se espantar que o comando do PT tome para si a mesma
retórica da guerra, ao chamar a militância às armas, quando até o vão
livre do Masp sabe que quem sempre sempre perde nessa disputa é a
esquerda.
Note-se 2: Lula, que cresceu como sindicalista debaixo da ditadura
grossa, é outro que está na moita sobre esse tema, certamente guardando
para si o crédito de agir, se necessário for, como bombeiro – e não como
incendiário - se o fogo pegar.
CANOA FURADA - No dia 15, os cerca de 2,5 mil
manifestantes que tomaram no dia 1 a avenida Paulista com um passeata
repleta de discursos antidemocráticos, outra vez prometem sair às ruas. E
acreditam que serão mais. Se a moda avança, quem vai segurar a fúria da
massa?
O comando PT está mostrando que ainda sofre de falta de maturidade,
ao querer medir forças com o PSDB no terreno proposto pelo adversário,
que é o da confusão, o do "grande exército". Nas portas das muitas sedes
que o partido tem em todo o País, valeria colocar um aviso de que, sim,
o PT ganhou as eleições – e por isso mesmo é o mais interessado, em
lugar de fazer a guerra dos provocadores, na promoção da paz.
Com essa maneira de chamar militantes às armas, ainda que em sentido
figurado, como fez Aécio com seu exército, o partido embarca direitinho
na canoa furada que os tucanos lhe oferecem. Vai chegar bem longe nela, ô
se vai...
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