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quarta-feira, 5 de novembro de 2014

O “leilão” do bandoleiro Eduardo Cunha




por Fernando Brito

O mestre Janio de Freitas – sempre ele, quase só ele – traça um retrato que a imprensa, no seu afã deabanar tudo o que possa ser foco de dificuldades para Dilma Rousseff, tem sido incapaz de traçar.
Mostra como é, de fato, a luta entre o PMDB presidido por Michel Temer e a parte da bancada liderada por Eduardo Cunha, um personagem tenebroso no qual se depositam esperanças de vir a ser o “derrubador parlamentar” da expressão eleitoral do povo brasileiro.
Janio demonstra como Cunha se oferece – e aos deputados que lidera – como uma esfinge sem 
mistérios, da qual o desafio ao governo é um “atenda-me ou te devorarei”.
Mas que, também, negocia com a oposição a condição de príncipe da sabotagem, que lhe renda poder, 
vantagens e uma liderança política incompatível com sua pequenez moral.
Janio diz tudo, mas atrevo-me a uma pequena e burlesca contribuição de testemunha ao que diz Janio 
sobre as artes de Eduardo Cunha é frente da Telerj no Governo Collor. Por meio de um secretário de 
Estado, foi ao Palácio Laranjeiras, no início do segundo governo Brizola, levar um dos primeiros 
telefones celulares a opoerar aqui. Um trambolho, que funcionava numa maleta e servia apenas para 
fazer peso. Brizola recebeu aquele traste e nunca, que eu visse, o usou. A única ligação que Cunha 
tentou com o sabido gaúcho, caiu logo no começo. Quando Garotinho, ainda no PDT, elegeu-se 
governador, Cunha foi uma das indicações que levou ao rompimento de Brizola com o recém-eleito, 
quando lhe entregaram as obras da Cehab,pelo apoio de sua rádio evangélica. Se perguntarem a 
Garotinho, hoje, o que é Eduardo Cunha, tirem antes as crianças de perto.

Encontro contra 
 
por Janio de Freitas
Divisão por divisão –esqueceram aquela?– há uma que, sobre ser verdadeira, está sem o 
reconhecimento de sua importância e, no entanto, é decisiva para muitas das questões suscitadas com o 
resultado da eleição presidencial.
O PMDB tem agendadas para hoje duas reuniões contraditórias. Vice-presidente reeleito e presidente 
do partido, Michel Temer reúne governadores e outros eleitos, lideranças e ministros peemedebistas 
para considerações conjuntas sobre metas do PMDB e sobre projetos passíveis do apoio partidário, em 
especial a reforma política. Essa pauta da reunião é real, mas o que une todos os temas é a busca de 
unir também os presentes, contra a contestação a Temer, ou ao comando partidário em geral, 
organizada pelo deputado Eduardo Cunha, líder da bancada na Câmara.
Marcada a reunião no Palácio Jaburu por Michel Temer, Eduardo Cunha saiu com a represália: 
convocou os seus deputados para reunião também hoje. As aparências oferecidas por ele são de que 
age para defender o objetivo de eleger-se presidente da Câmara. Mas, antes mesmo de expor tal 
propósito, veio emitindo sinais de um plano de dissensão. Desde logo, por exemplo, com a condução 
da bancada em frequente oposição à linha do partido. Todos os assuntos pareceram ser-lhe úteis para 
ser visto como um problema em crescimento.
Eduardo Cunha entrará muito fortalecido na nova Câmara. Adotou uma igreja evangélica, que lhe 
assegurou votação extraordinária, obteve grande apoio financeiro para candidatos a deputado e não se 
limitou a ajudar correligionários diretos. É dotado de sagacidade muito aguda e de audácia que ainda 
não mostrou limite algum, ao impulso de ambições que se revelam sempre maiores do que o já .
A solução interna dos peemedebistas terá o mesmo significado para o PMDB e para o governo. O 
predomínio continuado do comando com Michel Temer e sua corrente levará à permanência do 
convívio peemedebista com Dilma Rousseff, com o governo e com o PT, sem maiores alterações.
Incluída a composição em torno da eventual reforma política e de outras possíveis reformas. Esse peso 
decisivo do PMDB se refletirá, portanto, nas tendências do Congresso e, em particular, da Câmara 
semelhantes às atuais.
O êxito de Eduardo Cunha levará ao desalinhamento entre PMDB e governo, sem que daí se deduza o 
alinhamento à oposição. Ser disputado aumenta o valor. E o maior valor torna mais fácil abrir 
caminhos para o objetivo. É o que Eduardo Cunha tem feito, desde que surgiu, como do nada, 
recebendo de PC Farias já o cargo, com múltiplas utilidades, de presidente da telefônica do Rio.
A cara do Congresso que se instalará em 2015 está na dependência de como se decida a divisão do 
PMDB.

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