por : Paulo Nogueira
Há uma coisa estranha em Aécio: passado mais de um mês das eleições, ele está com um discurso de quem ganhou as eleições.
Isso ficou claro na entrevista que ele concedeu a Roberto Risadinha d’Ávila, o homem-Caras do
jornalismo brasileiro: sorrisos antes, durante e depois do programa.
Se não se imaginasse vencedor, Aécio não diria que encarnou o “sentimento de mudança” da
Se não se imaginasse vencedor, Aécio não diria que encarnou o “sentimento de mudança” da
sociedade brasileira. Porque esta é uma coisa que só quem vence pode dizer, e com moderação – ou
passará por arrogante.
Mas Aécio é Aécio: ele consegue ser arrogante na derrota.
Compare sua atitude com a do candidato uruguaio derrotado neste final de semana, Luis Lacalle Pou.
Pou telefonou elegantemente a Tabaré Vázques, o vitorioso, para lhe dar os parabéns pela vitória
Compare sua atitude com a do candidato uruguaio derrotado neste final de semana, Luis Lacalle Pou.
Pou telefonou elegantemente a Tabaré Vázques, o vitorioso, para lhe dar os parabéns pela vitória
“legítima” assim que os números mostraram que o resultado estava definido.
Aécio não.
Ainda agora, ele não parece ter aceitado que foi batido. “Perdi ganhando”, disse ele a d’Ávila. Dilma,
segundo ele, “ganhou perdendo”. Aécio estava citando não Churchill, não Lincoln, não Napoleão, não
de Gaulle. Estava citando Marina, que também reivindicou uma vitória na derrota.
A primeira providência para Aécio retornar ao Planeta Terra é ele entender que perdeu perdendo.
A primeira providência para Aécio retornar ao Planeta Terra é ele entender que perdeu perdendo.
Mesmo com toda a ajuda que teve da mídia, mesmo com Marina e a viúva de Eduardo Campos a seu
lado, mesmo com os vazamentos seletivos da Polícia Federal – mesmo assim ele conseguiu perder.
Foi uma façanha.
Foi uma façanha.
Quando puser os pés nos chãos, Aécio tem que explicar algumas coisas. O aeroporto de Cláudio, por
exemplo. Para citar mais um caso, o dinheiro público que sua irmã Andrea colocou nas rádios da
família quando ele era governador de Minas.
Demagogo, no sentido clássico, é quem faz coisas na política que acusa os inimigos de fazerem.
Aécio se queixa de ter sido “ofendido” na campanha, mas fez coisas como usar a expressão “mar de
Demagogo, no sentido clássico, é quem faz coisas na política que acusa os inimigos de fazerem.
Aécio se queixa de ter sido “ofendido” na campanha, mas fez coisas como usar a expressão “mar de
lama” para caracterizar o governo de sua adversária.
Repetiu inúmeras vezes que Dilma estava destruindo o Brasil, se valendo para isso de pseudo
estatísticas feitas para enganar os leitores.
Luciana Genro também experimentou o veneno de Aécio durante os debates: foi chamada de “leviana”
Luciana Genro também experimentou o veneno de Aécio durante os debates: foi chamada de “leviana”
e acusada de comandar um partido que é “linha auxiliar” do PT.
E este é o homem que se declara vítima de “desconstrução”.
No programa de d’Ávila, o construtor Aécio chamou o PT de “organização criminosa” em duas
E este é o homem que se declara vítima de “desconstrução”.
No programa de d’Ávila, o construtor Aécio chamou o PT de “organização criminosa” em duas
ocasiões — sem que d’Ávila fizesse nada além de sorrir. D’Ávila reagiu como se Aécio estivesse
falando sobre o tempo, ou sobre o resultado da última rodada.
Aécio falou em “aparelhamento”, mas como governador ele aparelhou até a mídia mineira com sua
política de anunciar apenas em quem não o criticasse.
Aécio condenou o “crime de responsabilidade fiscal” cometido agora por Dilma ao tentar mudar
Aécio condenou o “crime de responsabilidade fiscal” cometido agora por Dilma ao tentar mudar
algumas regras relativas ao orçamento.
Mas um momento: como noticiou um insuspeito colunista do G1, FHC fez também uma gambiarra
Mas um momento: como noticiou um insuspeito colunista do G1, FHC fez também uma gambiarra
com os mesmos propósitos em 2001.
“O Brasil acordou”, disse uma hora Aécio a d’Ávila.
Eis uma das raras frases em que ele acertou, embora ele tenha se atrasado uma enormidade para
Eis uma das raras frases em que ele acertou, embora ele tenha se atrasado uma enormidade para
perceber o fenômeno.
Foi exatamente por terem acordado que os brasileiros não elegeram Aécio e tudo aquilo que ele
Foi exatamente por terem acordado que os brasileiros não elegeram Aécio e tudo aquilo que ele
representa.
O final ideal para o programa teria sido uma imagem de Aécio e d´Ávila com a seguinte inscrição: “E
foram felizes para sempre.”
O final ideal para o programa teria sido uma imagem de Aécio e d´Ávila com a seguinte inscrição: “E
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