Os 70 anos de Chico Mendes
No dia 15 de dezembro de 1944, nasceu Chico Mendes: seringueiro, político e ativista ambientalista brasileiro. Há 70 anos nascia um homem à frente do seu tempo.
Por António José André.
Em 1953, Chico Mendes entrou para a profissão de seringueiro: era sua única opção, já que lhe foi
negada a oportunidade de estudar. Até 1970, os donos dos seringais não permitiam a existência de
escolas. Chico Mendes só aprendeu a ler aos 20 anos de idade.
Indignado com as condições de vida dos trabalhadores e moradores da Amazónia, tornou-se líder do
Indignado com as condições de vida dos trabalhadores e moradores da Amazónia, tornou-se líder do
movimento de resistência pacífica. Defensor da floresta e dos direitos dos seringueiros, organizou os
trabalhadores para protegerem o ambiente, as suas casas e famílias contra a violência e a destruição dos
fazendeiros.
Em 1975, fundou o movimento sindical no Acre. Participando ativamente nas lutas dos seringueiros,
criou o Conselho Nacional de Seringueiros, uma organização não-governamental para a defesa das
condições de vida e de trabalho das comunidades que dependem da floresta.
Chico Mendes também lutou pela posse da terra contra os grandes proprietários, algo impossível de se
Chico Mendes também lutou pela posse da terra contra os grandes proprietários, algo impossível de se
pensar na região amazónica e naquela época. Dessa forma, entrou em conflito com os donos das
madeireiras, dos seringais e das fazendas de gado.
Em 1977, participou da fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri e foi eleito
vereador para a Câmara Municipal local, pelo MDB, único partido de oposição permitido pela ditadura
militar que governou o país (desde 1964 a 1985).
Naquela época, Chico Mendes sofreu as primeiras ameaças de morte, por parte dos fazendeiros. Ao
mesmo tempo, começou a enfrentar vários problemas com o seu próprio partido: o MDB não era
solidário com as suas ideias e lutas.
Em 1979, o vereador Chico Mendes encheu a Câmara Municipal com debates entre dirigentes
sindicais, populares e religiosos. Lembre-se: era no tempo da ditadura militar. Foi acusado de
subversão e passou por interrogatórios nada suaves. Foi torturado secretamente e, como estava sozinho
nessa luta, não podia denunciar o facto ou seria morto.
Em 1980, decidiu ajudar à criação do Partido dos Trabalhadores, tornando-se seu dirigente no Acre.
Em 1982, tornou-se presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Xapuri e foi acusado de incitar à
violência, mas foi absolvido por falta de provas.
Em 1985, quando liderou o Encontro Nacional dos Seringueiros, a luta dos seringueiros ganhava
repercussão nacional e internacional. Nessa ocasião, propôs a criação da "União dos Povos da
Floresta" para unir os interesses dos índios e seringueiros em defesa da floresta amazónica.
O seu projeto incluía a criação de reservas extrativistas para preservar as áreas indígenas e a floresta,
bem como a garantia da reforma agrária para beneficiar os seringueiros.
Em 1987, Chico Mendes recebeu a visita de membros da UNEP (órgão do meio ambiente ligado à
ONU), em Xapuri. Ali, os inspetores viram a devastação da floresta e a expulsão dos seringueiros,
tudo feito com dinheiro de projetos financiados por bancos internacionais.
A seguir, Chico Mendes foi convidado para fazer essas denúncias no Congresso norte-americano.
O resultado da viagem a Washington foi imediato: um mês depois, os financiamentos aos projetos de
destruição da floresta foram suspensos.
Chico Mendes foi acusado pelos fazendeiros e políticos de prejudicar o "progresso do Estado do
Acre". Em contrapartida, recebeu vários prémios e homenagens no Brasil e no mundo, como uma das
pessoas com mais destaque na defesa da ecologia.
Chico Mendes realizaria alguns dos seus sonhos, ao assistir à criação das primeiras reservas
extrativistas, no Acre, e ao conseguir a desapropriação do Seringal Cachoeira de Darly Silva, em
Xapuri.
Foi quando as ameaças de morte se tornaram mais frequentes: Chico Mendes denunciou o facto às
Foi quando as ameaças de morte se tornaram mais frequentes: Chico Mendes denunciou o facto às
autoridades, deu nomes e pediu proteção policial. Mas nada conseguiu.
Pouco mais de um ano após a sua ida ao Senado norte-americano, Chico Mendes foi assassinado à
porta da sua casa. Em 1990, o fazendeiro Darly Silva e o seu filho, Darci Pereira, foram julgados e
condenados a 19 anos de prisão pela morte de Chico Mendes.
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