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Para especialistas, megaprojeto em Cuba com financiamento do BNDES é
sinal de que governo brasileiro apostava numa reaproximação entre
Washington e Havana, antecipando-se a investidores americanos.
O polêmico projeto do Porto de Mariel, em Cuba, indica que o Brasil
estava prevendo o fim do isolamento imposto pelos Estados Unidos à ilha
comunista e o relaxamento do embargo econômico, afirmaram especialistas
ouvidos pela DW Brasil no início deste ano.
Meses depois da inauguração da primeira parte do porto, o presidente
Barack Obama anunciou a retomada das relações diplomáticas com Havana
nesta quarta-feira (17/12) e disse que pretende ter um "debate honesto e
sério" com o Congresso sobre as perspectivas de um total levantamento
do embargo comercial que já dura mais de meio século.
"O Porto de Mariel é visto como uma maneira de se antecipar aos
investidores americanos", disse Oliver Stuenkel, professor de Relações
Internacionais da FGV, na ocasião da inauguração do porto, em janeiro. O
megaprojeto contou com financiamento do BNDES, e a presidente
brasileira, Dilma Rousseff, foi à Cuba para a abertura da primeira parte
do empreendimento.
Segundo Stuenkel, já se tinha no Brasil a concepção de que numa Cuba
pós-Castro a liberalização da economia prosseguirá mais rapidamente e
poderia levar ao levantamento do embargo americano.
Para o professor, o modo como os EUA lidavam com Cuba era visto em
toda a região como "nada construtivo". O Brasil se preparava para entrar
no lugar da Venezuela como o principal parceiro do regime cubano,
considerou. "A Venezuela não consegue mais transferir, em longo prazo,
ajuda de grande porte a Cuba, porque luta internamente com seus próprios
problemas econômicos."
A agência de investimentos alemã GTAI também já apostava há um bom
tempo no relaxamento do embargo a Cuba. Peter Buerstedde, especialista
da agência, observou no início do ano que, como Raúl Castro quer
permanecer na presidência apenas até 2018, existiam indicações de
mudança em médio prazo nos rumos da ilha. "O Porto de Mariel poderá se
tornar um centro de logística no Caribe quando os EUA levantarem o
embargo", previu em declarações à DW Brasil.
Relações de longa data
Brasil e Cuba mantêm uma cooperação especial, que se tornou mais
intensa nos últimos anos. Enquanto médicos cubanos desembarcam em
território brasileiro, a ilha caribenha recebe produtos agrícolas. E
agora ambos trabalham juntos no megaprojeto do Porto de Mariel.
Há muito tempo, o Ministério das Relações Exteriores brasileiro busca
fortalecer os laços políticos com Cuba. "As relações Brasil e Cuba
atravessam excelente momento. Por trás da cooperação existe uma visão
compartilhada", afirmou o Itamaraty à DW, na época da inauguração do
porto. "Nossos governos acreditam que não basta crescer; é preciso
promover o desenvolvimento social e melhorar as condições de vida dos
mais necessitados."
O Brasil se vê como um dos motores do desenvolvimento, ainda que
lento, da economia cubana. Em discurso na ilha caribenha por ocasião da
inauguração do porto, Dilma não escondeu o desejo de reforçar a
cooperação com o governo de Raúl Castro e chamou o bloqueio econômico a
Cuba de "injusto".
"Laços profundos unem os nossos países, um sentimento de amizade
aproxima nossas sociedades. O Brasil acredita e aposta no potencial
humano e econômico de Cuba", afirmou a presidente. "Mesmo sendo
submetido ao injusto bloqueio econômico. Cuba gera um dos três maiores
volumes de comércio do Caribe. [...] O Brasil quer tornar-se parceiro
econômico de primeira ordem para Cuba."
Investimentos estratégicos
Não é coincidência que o Porto de Mariel, maior projeto de
infraestrutura em andamento em Cuba, esteja a cargo de uma empreiteira
brasileira, a Odebrecht. O financiamento da obra também tem o governo
brasileiro por trás: o BNDES aprovou empréstimos de 682 milhões de
dólares para financiar a construção, que tem custo total de 957 milhões
de dólares.
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior (MDIC) mostram o crescimento da parceria comercial
entre os dois países. As exportações do Brasil para Cuba aumentaram de
80 milhões de dólares em 2003 para 568 milhões em 2012. De janeiro a
setembro de 2013, o valor das exportações já atingia cifra próxima a 515
milhões de dólares.
Desde 1998, o BNDES garantiu empréstimos no total de 703 milhões de
dólares a empresas brasileiras que investem em Cuba. Em 2013, Cuba foi o
terceiro maior destino de financiamentos do banco para exportação de
bens e serviços do Brasil. Para especialistas ouvidos pela DW, não há
dúvida: os investimentos são estratégicos.
Mais sobre este assuntono dw
- Data 17.12.2014
- Autoria Astrid Prange (rc/lpf)
- Assuntos relacionados Barack Obama, Brasil, Estados Unidos
- Palavras-chave Brasil, Cuba, embargo, Estados Unidos, Porto de Mariel
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