Um livro traz respostas interessantes e perturbadoras.
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Quer saber como Guantanamo se tornou o horror que é?
Leia O Menino de Guantanamo, da escritora inglesa Anna Perera. Uma versão em português foi lançada no Brasil pela Editora Agir.
Neste momento em que escrevo, uma greve de fome dos prisioneiros
comove o mundo progressista. Cem dos 166 detestos aderiram ao protesto.
Muitos estão sendo alimentados à força. O governo americano enviou
médicos e enfermeiras para ajudar a lidar com o problema.
E Obama, o sorridente e inoperante ocupante da Casa Branca, mais uma
vez falou em fechar Guantanamo, uma promessa da campanha de 2008.
O Menino de Guantanamo é uma ficção baseada na realidade. Khalid é um
adolescente inglês. Seus pais são paquistaneses, e acabaram indo para a
Inglaterra, como tantos conterrâneos, para fugir da miséria de seu
país. Para os ingleses era uma coisa boa, porque os imigrantes
representavam mão de obra barata para funções humildes que os nativos
não estavam nem um pouco interessados em realizar eles próprios.
Khalid vai visitar a terra dos pais.
Mas havia um fato novo e destrutivo lá. Os Estados Unidos, na chamada
Guerra ao Terror, estavam dando um dinheiro considerável a pessoas que
denunciassem suspeitos de terrorismo. Era uma cifra que equivalia a
meses, talvez anos de trabalho na miséria paquistanesa. Muitas pessoas
inescrupulosas, para pegar o dinheiro, fizeram denúncias sem fundamento.
Como não havia julgamento, como não havia advogado de defesa, como não
havia procedimento legal nenhum, o delator ganhava uma pequena fortuna
sem risco de descobrirem que ele mentira.
O acusado ia parar em Guantanamo.
É essa a história de Khalid. É essa a história de cerca de 60 garotos
presos no Paquistão e no Afeganistão em situação obscura e enviados a
Guantanamo. Pais e mães desesperados simplesmente não voltaram a saber
de seus filhos. Na prisão as crianças foram tratadas como “combatentes
do inimigo”, para usar uma expressão que vi dita num vídeo, pronunciada
por um oficial americano que trabalhava em Guantanamo.
Só que os meninos “combatentes”, como mostraram os vazamentos
realizados pelo Wikileaks, eram garotos inocentes como o Khalid do livro
de Anna.
O que os Estados Unidos fizeram em Guantanamo é comparável ao que os
soviéticos fizeram nos gulags tão bem descritos por Solzenitzen: reduzir
o ser humano a nada. Subtrair pessoas do convívio com familiares,
amigos, enviá-las a terras distantes e submetê-las a atrocidades.
Recomendei a minha filha Camila vivamente que leia este livro. Disse a
ela que sugira aos professores que peçam aos alunos que leiam e
discutam.
É uma aula – doída, mas essencial — de história contemporânea.
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