(JB)- A morte de Giulio Andreotti (foto acima), e
a frustração dos franceses no primeiro aniversário de François Hollande, na chefia do Estado, podem significar o fim de um ciclo histórico na Europa, iniciado com o Tratado de Roma de 1957. A idéia
de que a união dos países do continente em torno dos interesses
econômicos comuns, e, para tanto, da renuncia de parcela de suas
soberanias de forma a afastar, para sempre, os conflitos bélicos, parece
agora desfazer-se como um castelo esculpido em neve.
Para o bem e para o mal, sobretudo para o mal,
Andreotti já era uma personalidade pública, aos 25 anos, em 1944, quando se
aproximou de De Gasperi, que foi um dos esteios da República Italiana, surgida depois
da derrota do Eixo. Assim, como seu jovem seguidor, ele elegeu-se deputado dois
anos depois, e se manteve no centro da vida política italiana durante 48 anos,
até 1992.
Alcides De Gasperi (foto acima),foi um dos mais empenhados
políticos na construção da unidade européia. Nascido no Tirol, sob jurisdição
austríaca, De Gasperi foi cidadão austríaco e se elegeu deputado para o
parlamento de Viena em 1911. Permaneceu leal à Áustria-Hungria até o fim da Primeira
Guerra Mundial, quando a área em que nascera foi incorporada à Itália.
Elegeu-se então deputado, opôs-se ao fascismo,
foi preso por Mussolini e, ao cumprir a pena, conseguiu abrigar-se no Vaticano,
como funcionário da Biblioteca da Santa Sé. Com a derrota do fascismo, foi
cooptado pelos americanos, com o apoio da Igreja, para se opor aos comunistas e
socialistas. Nomeado primeiro ministro na transição, ainda sob a monarquia, em
1945, conduziu o plebiscito que optou pela República e continuou na chefia do
governo.
Desde 1951,
quando se concertou a Comunidade do Carvão e do Aço, até a morte, em 1954, a sua obstinação em
prol da unidade do continente foi fundamental para a conclusão do Tratado de
1957.
Passados 56 anos, a Europa parece
retornar ao início do século 20, com o confronto geopolítico entre a Alemanha,
a França – e o resto da Europa. Derrotada militarmente, a Alemanha busca,
agora, na
economia, o império
político. Embora sua chefe de governo não disponha de qualquer virtude como
líder, o apoio dos grandes bancos do mundo e das corporações industriais de seu
país, que recuperaram a forte presença
internacional (Basf, Siemens, Krupp, Bayer e tantas outras) autoriza a sua
arrogância.
François Hollande |
A única esperança era a de que
François Hollande (como agiram antes Clemenceau e De Gaulle) resistisse ao
projeto de Berlim. Mas isso não ocorreu. Contrariando as razões da esquerda,
sob cuja bandeira se elegeu, Hollande decidiu obedecer às ordens dos grandes
banqueiros que dominam, com Mário Draghi, o Banco Central Europeu e acatar as
exigências de “austeridade” de Frau Merkel.
Novamente: buscando a nova supremacia germanica |
Ora, essa política, condenada por
grandes economistas, como Paul Krugman, enfraquece todas as outras economias
européias, enquanto favorece a Alemanha, em sua condição de país mais
industrializado e mais capitalizado do continente.
Ontem, na França, prosseguiram as
manifestações contra a política de cortes no orçamento social do governo
Hollande. Do outro lado do Reno, Frau Merkel deve estar tranqüila: quanto mais
instáveis a França, a Espanha, Portugal e Grécia, melhor. E muito melhor se a
situação piorar ainda mais em Londres. Por Mauro Santayana
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