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sexta-feira, 20 de julho de 2012

DOR, MUITO CHORO E COMOÇÃO NO ENTERRO DE SETE JOVENS VÍTIMAS DO ACIDENTE COM ONIBUS NO PARANA


A cada aproximação de familiares e amigos, a dor da perda brusca e ainda pouco assimilada. Na caminhada até o local do enterro de sete das dez vítimas do acidente na última segunda-feira com um ônibus de turismo que levava universitários a um congresso de ciência da computação, em Curitiba (PR), o clima era de muita tristeza e desespero. 
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Avião da FAB transportou os corpos de Curitiba para Belém (Foto: Antônio Cicero/FotoArena/AE)

Durante o enterro realizado ontem em Marituba, os corpos dos jovens foram acompanhados em cerimônias individuais, mas em espaços preparados um ao lado do outro. Após o enterro do universitário Wilson Louzeiro Evangelista, o primeiro, familiares do estudante Felipe José Barros Amim prestavam as últimas homenagens ainda na capela do cemitério. Com a voz seca e engasgada pelo choro, a mãe do estudante, Valcirene Barros, entoou a música que, dias antes, o filho lhe cantou em homenagem. “Meu coração, não sei por que, bate feliz quando te vê...”. Sempre amparada por amigos, dona Valcirene guardava as lembranças felizes do filho. “Ele era maravilhoso! Era muito carinhoso comigo. Ele dizia que ia trabalhar para me ajudar. Ele viveu para mim, mas eu estou bem porque sei que ele está bem também”.
A professora de Felipe e amiga da família Lucicléia Santos também lembrou da personalidade do jovem, que tinha apenas 20 anos. “Você sempre foi um filho de ouro e um bom aluno. Tive o privilégio de ser sua professora, Felipe”, dizia. “Ele era muito devoto de Nossa Senhora e foi acolhido ao lado de Maria Santíssima, tenho certeza”.

A família da estudante Thamyres dos Santos Oliveira prestou as últimas homenagens à jovem de forma reservada na capela do cemitério. Depois, muito emocionado, o pai da jovem, José Oliveira, fez questão de jogar um pouco de terra em cima do caixão da filha, enterrada ao lado de mais duas vítimas. Sem condições emocionais de continuar, ele foi amparado até um local com sombra. Enquanto familiares ainda colocavam flores em cima do túmulo de Thamyres, parentes e amigos da universitária Darlyce da Lima Cavalcante se aproximavam do local, quando os corpos das estudantes eram enterrados ao mesmo tempo. Em sinal de respeito, familiares de Tamyres acompanharam as últimas homenagens feitas à Darlyce. “Quem vamos sepultar hoje, aqui, é apenas a matéria, porque a Darlyce está viva, assim como todos eles estão. Só que agora eles estão vivos na casa do Senhor”, dizia o ministro da Paróquia de Aparecida e primo de Darlyce, Felipe Monteiro. Amparando a mãe da jovem que mantinha as mãos enroladas em um terço em cima do peito, o amigo da família encontrava conforto na certeza de que Darlyce estava em um lugar melhor. “Isso é o que conforta e era nisso que a Darlyce acreditava”.
Carregado por familiares, o caixão com o corpo do jovem Leonardo Lopes Couto também trazia uma bandeira da Força Jovem da Terra Firme, grupo da igreja da qual fazia parte e havia se tornado obreiro. Amigos e parentes traziam nas camisas a imagem do estudante sorrindo. “A lembrança que vamos levar dele é a de um garoto sempre sorridente e disposto a ajudar”, dizia a amiga de Leonardo, Valdirene Nascimento.
Bastante emocionados, os pais da estudante Ivana Dias Rosa, de apenas 15 anos, se reservaram na companhia dos familiares e preferiram não falar com a imprensa. Acompanhando a dor da família, a vizinha e amiga de Ivana, Maria José Gonçalves, lamentava a perda. “Vi a Ivana nascer, crescer... ela sempre foi uma menina muito alegre, sossegada. A família está muito abalada”.
Debruçado sobre o caixão do filho Sivaldo Miranda do Nascimento Júnior, o pedreiro Sivaldo Miranda precisou do apoio de parentes para manter-se em pé e conversar com o filho enquanto o caixão descia. “Só Deus sabe, meu filho. Só Deus sabe...”. Com o sol forte na manhã de ontem, Sivaldo precisou sentar à sombra e receber cuidados de psicólogas que apoiaram as famílias durante o enterro. Em torno do túmulo de Sivaldo Júnior, amigos choravam muito pela perda. “Vou lembrar de vários momentos que passamos juntos quando íamos jogar bola, passear...”, disse o amigo Douglas Santos. “A grande luta do Sivaldo era para trabalhar e ajudar a família. Espero que a família nunca deixe de lutar por esse sonho dele”, emocionava-se a também amiga Deyse Cardoso.
Universitário diz que lembranças são muito fortes e tristes
Para o universitário Iury Batalha – que completou 21 anos no dia do acidente - ainda é difícil falar sobre o que aconteceu. “Só sei que hoje me sinto melhor do que há dois dias”, resume. O sonho de conhecer o sul do país foi interrompido pelo o que ele chama de “fatalidade”. Por dez meses, Iury economizou para pagar as parcelas do pacote de viagem. Hoje, ele diz ter vontade de voltar a Curitiba para de fato conhecer a cidade, mas garante que vai preferir ir de avião. “Ele me disse que está com medo de andar de ônibus”, lamenta Helena Batalha, mãe do rapaz. No trajeto entre Piraí do Sul e Curitiba, ele optou por ir de van.
Ele diz que o clima era de total descontração e animação no ônibus. “Tava todo mundo empolgado, superfeliz. A gente se juntava na parte de baixo do ônibus para brincar e ficar conversando”, lembra. O estudante do 7° semestre do curso de Engenharia da Computação da Universidade Federal do Pará (UFPA) conta que no momento do acidente não teve reação. “Quando o ônibus dobrou mais do que podia, senti que ia capotar. As pessoas dizem que você pensa em sobreviver, mas na hora você fica em estado de choque, não consegue nem se mexer. A ficha realmente caiu quando vi as pessoas jogadas no chão, quando vi aquele cenário difícil de falar. Foi muito forte”. Iury fraturou um osso do tornozelo esquerdo e deve passar por uma cirurgia até segunda- feira. “Eu olho a minha perna e acho até meio injusto quando penso no que aconteceu com as outras pessoas”, revela. Para a mãe do estudante, tê-lo em casa é um presente de Deus. Segundo o universitário, dentre todos os estudantes que estavam no ônibus, apenas um usava o cinto de segurança. “Depois da capotagem, vi que ele estava em uma cadeira na frente da minha, preso ao cinto e totalmente intacto. Vi coisas que jamais queria ver. Tento aceitar que isso aconteceu e que eu não posso fazer nada para mudar”, conta o rapaz, que retornou a Belém na última quarta- feira.
Dos treze universitários santarenos envolvidos no acidente, chegaram ontem a Santarém Camila Aquino Aguiar, Jackeline Cardoso da Luz e Michael Lopes Tenório, que sofreram ferimentos leves.


(Dol)

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