(CM) - Em um de seus melhores ensaios sobre Política e Criminalidade (Politik und Verbrechen),
o pensador contemporâneo Hans Magnus Enzensberger, conta que Al
Capone, em 1930, chegara a seu apogeu, sem que fosse incomodado pelas
instituições do Estado.
Ao contrário, eram notórias suas relações com os
políticos, com a polícia e com os jornalistas, e todos cultivavam o seu
poder e se nutriam de seu dinheiro.
Era um mito ou, como melhor explica Enzensberger, um paramito,
criação dos tempos modernos, que não passam de uma miragem dos tempos
realmente heróicos, nos quais os mitos nasceram. Os turistas pagavam
para, de ônibus, percorrer os bairros em que a quadrilha de Scarface
exercia, de fato, o poder de estado, sob o olhar indiferente dos
moradores e de seus asseclas – da mesma forma que os visitantes, com a
permissão dos narcotraficantes de hoje, passeiam pelas favelas cariocas.
Nesse ano de 1930, segundo as fontes do escritor alemão, a
Warner Bros, que crescera com os mitos que criava e vendia, ofereceu uma
fortuna a Al Capone para que, em um filme sobre o gangster,
interpretasse o próprio
Al Capone, o que ele recusou. O criminoso novaiorquino, que se transferira para Chicago aos 20 anos, fizera fulgurante carreira e, aos 30 já reunira cem milhões de dólares daquele tempo - uma quantia equivalente a muito mais de três bilhões de dólares em nossos dias. Tal como em nosso tempo, com o neoliberalismo, a globalização liberal dos anos 30 criara a crise de confiabilidade na moeda e nas instituições políticas. Só Roosevelt, com o New Deal, restabeleceria a confiança no Estado.
Al Capone, o que ele recusou. O criminoso novaiorquino, que se transferira para Chicago aos 20 anos, fizera fulgurante carreira e, aos 30 já reunira cem milhões de dólares daquele tempo - uma quantia equivalente a muito mais de três bilhões de dólares em nossos dias. Tal como em nosso tempo, com o neoliberalismo, a globalização liberal dos anos 30 criara a crise de confiabilidade na moeda e nas instituições políticas. Só Roosevelt, com o New Deal, restabeleceria a confiança no Estado.
Al Capone queria ser o homem mais rico e mais poderoso dos Estados Unidos. Como se sabe, um ano depois a Justiça pegou Capone, porque não pagava imposto de renda. Condenado a 11 anos, transferido para um hospital, acometido de demência provocada pela sífilis, Capone morreu aos 48 anos, em uma propriedade sua na Flórida. Já naquele tempo, havia laranjas, e com a doença do gangster, a maior parte de sua imensa fortuna se distribuiu, naturalmente, entre os prepostos. Os que lhe mantiveram fidelidade garantiram o seu bem-estar possível, mesmo na demência, até o fim.
A criminalidade se exerce em todos os setores da sociedade, e um de seus objetivos é o controle ilegítimo das instituições do estado. A elas podem chegar, mediante a compra de votos e outros recursos, ou controlando alguns políticos mediante o suborno, a corrupção. Os políticos, quando honrados, buscam conquistar o mando mediante a confiança dos cidadãos, e se dedicam a promover o bem comum. Os criminosos se preocupam em construir o seu poder mediante os meios conhecidos, entre eles os da violência sem limites. Um traço comum aos chefes de gangsters é o da “generosidade”. Os defensores de Cachoeira, a começar pela mulher, dizem que ele está sempre disposto a ajudar os outros. Desde, é claro, que os outros o obedeçam. Capone se considerava o grande benfeitor de Chicago, oferecendo dinheiro para iniciativas sociais e obras de caridade.
É o que estamos constatando mais uma vez, nas relações de
Carlos Cachoeira com parlamentares e personalidades do poder executivo.
São tantas as evidências que não é arriscado identificar, no empresário
goiano, o epicentro de uma vasta rede de jogos ilícitos e de assalto aos
bens públicos, com a prática de corrupção política, e, talvez, de
delitos mais graves. A ministra Carmem Lúcia teve um momento de
desabafo ao se referir à Lei da Ficha Limpa: ninguém suporta mais tanta
corrupção.
Os senadores respiraram, aliviados, a decapitação de Demóstenes
Torres. Provavelmente, alguns dos que comemoraram o sacrifício do bode
expiatório estejam sendo precipitados. Estamos no início de uma
revolução de caráter ético, bem diferente de outras do passado.
A Revolução Francesa foi o resultado da circulação de mais de duzentos jornais em Paris e nas províncias. Hoje, com a internet, cada um de nós pode ser, ao mesmo tempo, jornalista, impressor e distribuidor de informações e opinião. Ainda que a rede esteja sendo usada pelos centros internacionais de poder, a fim de semear a discórdia e impor a sua vontade, a ação coordenada dos cidadãos pode vencer a batalha da informação.
Como nos ensina a dialética, a quantidade faz a qualidade.A Revolução Francesa foi o resultado da circulação de mais de duzentos jornais em Paris e nas províncias. Hoje, com a internet, cada um de nós pode ser, ao mesmo tempo, jornalista, impressor e distribuidor de informações e opinião. Ainda que a rede esteja sendo usada pelos centros internacionais de poder, a fim de semear a discórdia e impor a sua vontade, a ação coordenada dos cidadãos pode vencer a batalha da informação.
Postado por Mauro Santayana
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