Eva Duarte Perón, a Evita |
Abaixo, trechos de um interessante texto do jornalista
Ariel Palácios, correspondente do Estadão em Buenos Aires, sobre mitos
acerca de Evita.
MITOS SOBRE EVITA PERÓN
Ariel Palácios
O enterro de Evita atraiu milhões |
Hoje completam-se 60 anos da “passagem à imortalidade de Eva Perón” (essa é a expressão usada, inclusive
oficialmente, pelos peronistas para referir-se à morte de Evita). A denominada
“porta-estandarte dos humildes” morreu no dia 26 de julho de 1952, às 20:25
horas. Seis décadas depois de sua morte ela é usada como símbolo político pela
direita e a esquerda. Veremos aqui uma série de mitos e fatos sobre a
primeira-dama mais famosa da História da Argentina.
NASCIMENTO
- Evita dizia, quando estava viva, que havia nascido no dia 7 de
maio de 1919
- Mas, a partir dos anos 70, historiadores peronistas descobriram
que ela havia nascido, na realidade, no dia 7 de maio de 1922.
MORTE
Evita morreu oficialmente às 20:25 horas do dia 26 de julho de
1952 no Palácio Unzúe, a residência presidencial, localizada no bairro da
Recoleta, onde hoje está a Biblioteca Nacional. Durante muitos anos os
argentinos acreditaram que ela havia morrido com 30 anos. Mas, na realidade,
morreu com 33.
TÚMULO
Evita está enterrada desde 1976 no cemitério da Recoleta, no
mausoléu da família. Na realidade, o mausoléu pertencia a um cunhado seu, o
major Arrieta. Ali, além de Evita e sua mãe, estão Arrieta e outros cinco
parentes. Além desses caixões, duas urnas funerárias com as cinzas de duas
empregadas da família.
[...]
MITOS
Ao longo da vida de Evita Perón – e especialmente após sua morte –
surgiram uma série de lendas sobre a “porta-estandarte dos humildes”. Além dos
próprios militantes, os principais mitos foram divulgados por intermédio do
musical Evita, de Andrew Lloyd Weber e Tim Rice, sucesso na Broadway a partir
de 1976 que transformou-se em filme de Hollywood. Entre as principais falhas e
lendas estão…
1 – Classe social: A lenda mostra Evita como uma menina de
uma família que vivia na miséria. Ao contrário, a mãe de Eva tinha um
pensionato na cidade de Junín e eram integrantes de uma austera classe média.
2 – Partida para a cidade grande, na cara e na coragem: Aos 15 anos Evita partiu dali rumo à
cidade grande, Buenos Aires. Mas, ao contrário do filme, não foi nem com o
cantor Agustín Magaldi e sequer transformou-se em sua amante. Magaldi, que era
solteiro, nunca havia visto Evita. A jovem foi à capital com sua mãe e foi
morar com seu irmão mais velho, Juan.
3 – Expulsa do velório: Evita era filha extramatrimonial de Juan
Duarte. Mas, quando morreu em 1926, não foi expulsa do velório do pai por sua
viúva oficial, Estela Grisolía, já que a mulher havia morrido em 1922. Segundo
o historiador Pablo Vázquez, chefe do Arquivo do Museu Evita, as duas famílias
– a oficial e a paralela – “se davam bastante bem. Não houve expulsão alguma do
velório”.
4 – Líder revolucionária: Outra falha do musical e do filme é
mostrar Evita como a pessoa que liderou os trabalhadores para liberar seu
namorado – e posterior marido – Juan Domigo Perón. Ao contrário, Evita saiu de
Buenos Aires e foi pra casa da mãe, em Junín. Só depois da liberação de Perón é que ela
voltou à capital. Ela não tinha protagonismo político na época. Só com a posse
de Perón como presidente no ano seguinte, ela começou a ter uma acelerada
atividade política, transformando-se no no braço-direito do marido.
5 – Che Guevara, pé de valsa: Outro erro é o de colocar Ernesto “Che”
Guevara como narrador da História. Che Guevara, na época em que Evita chegou ao
poder tinha 18 anos e estava iniciando seus estudos de Medicina. E o Che – que
jamais encontrou-se com Eva ou com Perón – considerava Evita e seu marido uns
“representantes do fascismo”. E, evidentemente, nunca ocorreu a cena de Evita
dançando com o Che Guevara. Ele, que a partir de 1956 foi um dos protagonistas
da guerra de guerrilhas na Sierra Maestra contra o regime de Batista, admitia
que dançava péssimo.
6 – As pichações “Viva o câncer”: A lenda diz que os inimigos de Evita
picharam os muros de Buenos Aires – e da própria residência presidencial – com
os dizeres “Viva o câncer” quando ela agonizava com um devastador câncer de
útero. No entanto, isso nunca teria passado de uma única parede no bairro da
Recoleta com a frase supracitada. “Só temos o registro da existência de uma.
Seria quase impossível fazer uma pichação do gênero nas redondezas da
residência presidencial, com toda a segurança da época”, explica Vázquez.
POSIÇÕES POLÍTICAS, MEDIDAS, ATITUDES
- Evita sempre detestou a esquerda e o marxismo. Ela perseguiu os
militantes do partido Comunista e expulsou os sindicalistas comunistas
Evita discursa para o general Franco |
- Evita respaldou ativamente o regime do ditador espanhol
Francisco Franco. O respaldo foi político e também em alimentos, que permitiram
que o generalíssimo conseguisse driblar o bloqueio feito pelos aliados. Assim,
sua ditadura que prolongou-se por mais tempo.
- Evita usava
vestidos da Casa Dior, que importava – em avião – direto de Paris. Segundo Dior, “a única rainha que vesti em minha vida foi Evita”.
- Evita
promoveu o voto feminino
- Evita opunha-se ao divórcio
- Evita dizia que
as feministas eram “feias e ressentidas”
- Evita
colaborou ativamente com Perón, especialmente em sua viagem à Europa, na
entrada de milhares de criminosos de guerra nazistas. Nesta vinda dos nazistas
participou o Vaticano, na época comandado pelo papa Pio XII, com quem Evita se
reuniu em Roma.
CORPO
- Morre, passa por um tratamento de embalsamamento inicial e é
levada ao Ministério do Trabalho, atual Assembléia Legislativa de Buenos Aires.
- Depois, é levada o Congresso Nacional, onde é velada por 14
dias. Dois milhões de pessoas dão seu últimos adeus.
- Na seqüência é levada à sede
da central sindical CGT, onde continua com o tratamento de embalsamamento
realizado pelo doutor Pedro Ara.
- Em 1955 Perón é derrubado. Os
militares seqüestram o corpo.
- Até 1957 peregrina por vários
lugares do exército e a casa de oficiais.
- Em 1957 é levado pelo governo
de Aramburu, em conjunto com o Vaticano para Milão, onde é enterrado no
Cemitério Maior com o nome de Maria Maggi de Magistiris.
Evita o general Juan Perón |
- Em 1971, depois de um acordo
entre o ditador argentino Alejandro Lanusse e Perón, que estava no exílio, o
corpo é exumado: dia 1 de setembro. No dia 3 de setembro o caixão vai a Madri.
Ali, fica na casa de Perón no bairro de Puerta de Hierro.
- O corpo é levado a Buenos
Aires no dia 17 de novembro de 1974. Evita é colocada em uma sala na residência
presidencial de Olivos ao lado do corpo de Perón.
- Quando o general Videla
derruba Isabelita Perón (a última esposa de Perón, que havia assumido a
presidência depois da morte do marido e presidente), os dois corpos são
separados. Evita é enviada ao cemitério da Recoleta, onde um cunhado seu, o
Major Arrieta, tinha um mausoléu. Nesse lugar estão enterrados Arrieta, a mãe de
Evita, a própria Evita, e outros cinco parentes, além de duas urnas com cinzas
de duas empregadas da família.
O DESCAMISADO - Quarenta e cinco metros mais alto que a
Estátua da Liberdade, três vezes maior que o Cristo Redentor. Assim teria sido “El Descamisado”, um
anabolizado funéreo monumento que contaria com um total de 137 metros de altura,
divididos entre 70 metros
da colossal base e 67
metros da estátua que representaria um operário
peronista.
Seria uma espécie de “Colosso
de Rodes” que em vez de estar à beira do mar Egeu, seria instalado à beira do
Rio da Prata. Seu objetivo, que variou ao longo de anos de projetos e idas e
vindas, foi o de ser o lugar de descanso do sarcófago de Evita, feito com 400
quilos de prata.
Seria um misto de pirâmide de
Quéops com altura quase equivalente à Catedral de Notre Dame. Tudo isso com um
look característico das esculturas fascistas na moda na Europa dos anos 30 e
40.
No entanto, todos os verbos
relativos ao “Descamisado” ficaram no condicional. Este monumento começou a ser
construído mas nunca passou de suas bases de concreto no bairro da Recoleta, em Buenos Aires.
.
FRASES
“Gracias por existir” (Obrigado por existir): A suposta frase teria sido
pronunciada em 1944 durante o encontro de Eva e Perón no Luna Park em um
festival para arrecadar fundos para as vítimas do terremoto de San Juan. Mas,
na realidade, foi inventada pelo escritor Tomás Eloy Martinez, que a colocou na
boca de Evita no romance “Santa Evita”. A cena: Evita, uma atriz de rádio e
cinema, foi apresentada a Perón e disse como forma de impactá-lo a frase
“Obrigado por existir”. “Nos últimos três anos, essa frase piegas foi aceita
como verdade. Mas Eu a inventei”, me explicou Martinez em 1999. “Mas quando
expliquei isso, alguns sindicatos não acreditaram que era falsa. Protestaram,
me perguntando como ousava macular a memória de Eva Perón…”, disse rindo.
“Volveré y será millones” (Voltarei e serei milhões) foi a apócrifa frase de Eva
Duarte de Perón – chamada de “Evita” pelo povo – supostamente pronunciada
poucos minutos antes de sua morte, ocorrida na noite do dia 26 de julho de 1952. A lenda sustenta que
Evita, que estava morrendo por um devastador câncer de útero, indicava com essa
frase que voltaria da morte como milhões de trabalhadores “descamisados” para
tomar o poder total. Mas, na realidade, é uma frase posteriormente atribuída a
ela. A oração é parte de um poema do peronista Castiñeira de Dios e também era
uma das frases pronunciadas pelo personagem de Espártaco quando é crucificado.
O livro é de Howard Fast, de 1951, um anos antes de Evita morrer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário