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domingo, 22 de julho de 2012

Faleceu Robert Kurz



Só hoje fiquei sabendo que na última quarta-feira, 18 de julho, morreu o filósofo alemão Robert Kurt.

Está presente em minha biblioteca com “Os últimos combates” (Vozes) e “O colapso da modernização” (Paz e Terra) e ainda com seus frequentes ensaios traduzidos para o português. Confesso que Kurz nunca me foi uma leitura confortável. Sua visão de um Marx que rejeita até parte de “O Capital” e ainda Engels,Rosa, Lênin, Trotsky e outras correntes tanto acadêmicas como políticas se choca com a quase totalidade da esquerda mundial. Kurz possui um texto claro e ao mesmo tempo perturbador e muitas vezes de difícil compreensão. Rejeitava a presença de um sujeito social como motor da revolução, embora fosse um teórico da necessidade da revolução como única possibilidade para a emancipação humana.

Apesar disto, abordou como poucos no seu tempo, um Marx original, precisando ou redefinindo categorias como a superação da sociedade do trabalho, fetichismo da mercadoria, o fim da política, a revolução da microeletrônica, o trabalho vivo sendo substituído pelo trabalho morto, socialismo de caserna do século XX.

Certa vez, conversando com uma amiga alemã que se encontrava por aqui, e mesma me afirmou que Kurz era mais conhecido no Brasil do que na Alemanha. Aliás, esta amiga me afirmou que não entendia como as ideia de Kurz, que eram tão desprezadas na Alemanha, tinham tanto acolhimento por aqui. Minha teoria é que Kurz ganhou força no Brasil como “pensador da catástrofe” (como parte da imprensa brasileira o chamava) durante os anos noventa, quando o país vivia anos seguidos de profunda crise econômica e altas taxas de desemprego, um "terreno fértil" para suas ideias que em minha opinião, nada tinha de catastrofistas.

No Brasil, além do meio universitário, o grupo Crítica Radical foi o maior divulgador das ideias de Robert Kurz no Brasil, chegando a trazê-lo algumas vezes ao país.

Em 2004, Kurz afastou-se do grupo que trabalhava entorno da revista ‘Krisis’ e  junto com outros intelectuais criaram a revista  'EXIT! - Crítica e Crise da Sociedade da Mercadoria'. O grupo ‘Krisis’ ficou bastante conhecido no final dos anos noventa "Manifesto contra o trabalho". Leia AQUI.

Em tempos de crise profunda do capital, sua analogia da nossa sociedade com o navio Titanic é simples e genial. Sempre que vejo as cenas finais do filme, com a banda tocando enquanto alguns fingem que tudo segue normal e outros se agarram a fé religiosa diante de tanto desespero, lembro-me deste ensaio de Kurz.

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