Só hoje fiquei sabendo que
na última quarta-feira, 18 de julho, morreu o filósofo alemão Robert Kurt.
Está
presente em minha
biblioteca com “Os últimos combates” (Vozes) e “O colapso da
modernização” (Paz e Terra) e ainda com seus frequentes ensaios
traduzidos
para o português. Confesso que Kurz nunca me foi uma leitura
confortável. Sua
visão de um Marx que rejeita até parte de “O Capital” e ainda
Engels,Rosa, Lênin,
Trotsky e outras correntes tanto acadêmicas como políticas se choca com a
quase
totalidade da esquerda mundial. Kurz possui um texto claro e ao mesmo
tempo
perturbador e muitas vezes de difícil compreensão. Rejeitava a presença
de um sujeito social como motor da revolução, embora fosse um teórico da
necessidade da revolução como única possibilidade para a emancipação humana.
Apesar disto, abordou como
poucos no seu tempo, um Marx original, precisando ou redefinindo categorias
como a superação da sociedade do trabalho, fetichismo da mercadoria, o fim
da política, a revolução da microeletrônica, o trabalho vivo sendo substituído
pelo trabalho morto, socialismo de caserna do século XX.
Certa vez, conversando com
uma amiga alemã que se encontrava por aqui, e mesma me afirmou que Kurz era
mais conhecido no Brasil do que na Alemanha. Aliás, esta amiga me afirmou que
não entendia como as ideia de Kurz, que eram tão desprezadas na Alemanha,
tinham tanto acolhimento por aqui. Minha teoria é que Kurz ganhou força no
Brasil como “pensador da catástrofe” (como parte da imprensa brasileira o
chamava) durante os anos noventa, quando o país vivia anos seguidos de profunda
crise econômica e altas taxas de desemprego, um "terreno fértil" para
suas ideias que em minha opinião, nada tinha de catastrofistas.
No Brasil, além do meio
universitário, o grupo Crítica Radical foi o maior divulgador das ideias de
Robert Kurz no Brasil, chegando a trazê-lo algumas vezes ao país.
Em 2004, Kurz afastou-se do
grupo que trabalhava entorno da revista ‘Krisis’ e junto com outros
intelectuais criaram a revista 'EXIT! - Crítica e Crise da Sociedade
da Mercadoria'. O grupo ‘Krisis’ ficou bastante conhecido no final dos anos
noventa "Manifesto contra o trabalho". Leia AQUI.
Em tempos de crise profunda
do capital, sua analogia da nossa sociedade com o navio Titanic é simples e
genial. Sempre que vejo as cenas finais do filme, com a banda tocando enquanto
alguns fingem que tudo segue normal e outros se agarram a fé religiosa diante
de tanto desespero, lembro-me deste ensaio de Kurz.
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