As delícias de passar quatro meses no Afeganistão pilotando helicópteros, jogando videogames e matando pessoas
O príncipe Harry voltou de uma temporada de quatro meses no
Afeganistão, onde era co-piloto atirador de um helicóptero Apache. Harry
serviu no sul da província de Helmand, tida como um reduto talibã.
Teria voado em dezenas de missões, disparado foguetes e mísseis e
manejado um canhão de 30 mm. O Capitão Wales, como era chamado na base,
deu uma entrevista coletiva na volta, em que falou sobre o episódio de
suas fotos nu em Las Vegas, a excitação de ser tio e, principalmente,
suas aventuras no exército.
“Muita gente matou insurgentes”, disse ele. “Se há gente tentando
fazer algo de ruim aos nossos caras, então nós vamos tirá-los do jogo”.
Quantos ele matou, não faz ideia. Mas que diferença isso faz? “Às vezes,
é preciso tirar uma vida para salvar uma vida. É disso que se trata,
suponho”.
Terceiro na linha sucessória, Harry gosta de dizer que, no exército,
ao contrário do que acontece em sua vida social, ele é apenas mais um.
Os tabloides publicaram fotos gloriosas de Harry na caserna. Lá está ele
jogando PlayStation com os colegas de farda, numa boa. Educado em Eton e
morador de palácios, Harry dividia um contêiner convertido num bloco de
alojamento com outros homens. Podia sair para passear nas proximidades
da base para frequentar a academia ou lavar a roupa.
Ele pode dizer que era mais um, mas é mentira. Harry já havia servido
no Afeganistão em 2008 e foi retirado de cena numa situação até hoje
mal explicada (ele teria sido ameaçado por um líder talibã). Sempre quis
voltar. É bom para sua imagem e a da família real. O custo do governo
para mantê-la é estimado em 70 milhões de dólares por ano. Eles recebem
diretamente perto de 8 milhões. O resto é para as propriedades, a
segurança etc. Antes de Harry, o tio dele, Andrew, era o único dos
Windsor a ter ido para a frente de batalha (nas Malvinas).
Não deve ser fácil ser soldado e príncipe, mas, provavelmente, é mais
difícil para os afegãos. O Apache é uma das mais impressionantes
máquinas de guerra jamais inventadas. Nos últimos cinco anos, apenas
quatro deles foram abatidos. Nem todo o mundo vai para a guerra com toda
essa leveza de alma de Harry. Há 9 mil tropas britânicas no
Afeganistão, que devem se retirar até 2014. O número de mortos é de 440.
Nas linhas talibãs, foram 7 mil baixas. Segundo a ONU, em 2011 3 mil
civis afegãos foram mortos.
“Eu sou uma daquelas pessoas que gostam de jogar PlayStation e Xbox.
Com os dedões, acho que sou bastante útil. Você pode perguntar pros
caras: eu arraso com eles no jogo Fifa”. Fica explicada, então, a razão
por que o Capitão Wales é tão impreciso e blasé com relação aos inimigos
que abateu a bordo do Apache com seu joystick. Para ele, é a mesma
coisa que um game. Ele só precisa apertar o gatilho e um abraço. E se
não forem insurgentes? Dane-se. E ele ainda volta para casa como heroi e
orgulho da nação para milhões de pessoas que acreditam num conto de
fadas estúpido e anacrônico.
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