A jornada do agente da CIA que revelou que os presos no Paquistão eram torturados
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John Kiriakou, 48 anos, é um nome importante na história moderna dos Estados Unidos.
Kiriakou, que chefiou o serviço americano de contraterrorismo no
Paquistão depois do 11 de Setembro, foi a primeira voz a admitir o uso
do waterboarding nos interrogatórios de suspeitos.
Waterboarding é uma forma de tortura que simula afogamento. Quando o
tema veio à tona, em 2007, houve inicialmente, nos Estados Unidos, um
debate sobre se era ou não tortura. Depois que o falecido colunista
Christopher Hitchens se submeteu a uma sessão a pedido do editor da
revista para a qual ele trabalhava, a discussão acabou. Hitchens
suportou alguns segundos, e saiu massacrado da experiência.
Kiriakou, com sua admissão, prestou um serviço à humanidade e à
civilização. A recompensa veio na forma de um pesadelo. Ele está sendo
processado pelo governo americano sob a acusação de revelar informações
confidenciais. Pode ser condenado a 30 anos de prisão. Kiriakous está em
liberdade condicional.
A vida de Kiriakou na CIA está relatada em seu controvertido livro de
memórias, “O Espião Relutante”, lançado nos Estados Unidos em 2010. No
livro, ele conta histórias como a de um afogamento simulado, no
Paquistão, de um líder do Al-Qaeda. No dia seguinte a uma sessão de
tortura aquática, o extremista disse que Alá apareceu em seu sonho e o
aconselhou a colaborar com os inquisidores. (Depois se soube que foram
mais de 80 sessões, e que as informações dadas eram mentirosas.)
Kiriakou se casou com uma colega da CIA, com quem tem cinco filhos.
Sua mulher acabou sendo demitida depois que ele expôs o waterboarding e
se tornou uma figura pública. Kiriakou deixou a CIA em 2004, depois de
acumular dez prêmios por “desempenho excepcional”. Posteriormente ele
teve trabalhos diversos, como o de consultor em terrorismo para uma rede
de televisão, e hoje é sócio de uma empresa que calcula o risco
político para investidores.
Vai-se formando um consenso segundo o qual o presidente Barack Obama
vem perseguindo, como nenhum de seus antecessores, os chamados whistleblowers – as pessoas ou entidades que fiscalizam o governo, fundamentais no funcionamento de uma democracia.
Basicamente, Obama adotou a estratégia de classificar um número
excepcional de documentos como confidenciais. Caso vazem, a caça a quem
os trouxe à luz é intensa.
Kiriakou é um personagem a mais neste capítulo nada inspirador da
administração de Barack Obama, o homem que prometeu mudar e fez mais do
mesmo.
Paulo Nogueira no DCM
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