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quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Denunciou a tortura e se estrepou

16 de janeiro de 2013
A jornada do agente da CIA que revelou que os presos no Paquistão eram torturados
Castigado por revelar a tortura usada pelos americanos

John Kiriakou, 48 anos, é um nome importante na história moderna dos Estados Unidos.
Kiriakou, que chefiou o serviço americano de contraterrorismo no Paquistão depois do 11 de Setembro, foi a primeira voz a admitir o uso do waterboarding nos interrogatórios de suspeitos.
Waterboarding é uma forma de tortura que simula afogamento. Quando o tema veio à tona, em 2007, houve inicialmente, nos Estados Unidos, um debate sobre se era ou não tortura. Depois que o falecido colunista Christopher Hitchens se submeteu a uma sessão a pedido do editor da revista para a qual ele trabalhava, a discussão acabou. Hitchens suportou alguns segundos, e saiu massacrado da experiência.

Kiriakou, com sua admissão, prestou um serviço à humanidade e à civilização. A recompensa veio na forma de um pesadelo. Ele está sendo processado pelo governo americano sob a acusação de revelar informações confidenciais. Pode ser condenado a 30 anos de prisão. Kiriakous está em liberdade condicional.
A vida de Kiriakou na CIA está relatada em seu controvertido livro de memórias, “O Espião Relutante”, lançado nos Estados Unidos em 2010. No livro, ele conta histórias como a de um afogamento simulado, no Paquistão, de um líder do Al-Qaeda. No dia seguinte a uma sessão de tortura aquática, o extremista disse que Alá apareceu em seu sonho e o aconselhou a colaborar com os inquisidores. (Depois se soube que foram mais de 80 sessões, e que as informações dadas eram mentirosas.)
Kiriakou se casou com uma colega da CIA, com quem tem cinco filhos. Sua mulher acabou sendo demitida depois que ele expôs o waterboarding e se tornou uma figura pública. Kiriakou deixou a CIA em 2004, depois de acumular dez prêmios por “desempenho excepcional”. Posteriormente ele teve trabalhos diversos, como o de consultor em terrorismo para uma rede de televisão, e hoje é sócio de uma empresa que calcula o risco político para investidores.
Vai-se formando um consenso segundo o qual o presidente Barack Obama vem perseguindo, como nenhum de seus antecessores, os chamados whistleblowers – as pessoas ou entidades que fiscalizam o governo, fundamentais no funcionamento de uma democracia.
Basicamente, Obama adotou a estratégia de classificar um número excepcional de documentos como confidenciais. Caso vazem, a caça a quem os trouxe à luz é intensa.
Kiriakou é um personagem a mais neste capítulo nada inspirador da administração de Barack Obama, o homem que prometeu mudar e fez mais do mesmo. 


Paulo Nogueira no DCM

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