Matéria publicada no
portal 247 sobre o fracasso da manifestação convocada pela direita contra o
ex-presidente Lula. Com o desaparecimento do fantasma do comunismo, parece que os
reacionários perderam a capacidade de mobilizar a classes médias como fizeram em
1964, na época das Marchas da Família com Deus pela Liberdade.
Povo sabe protestar, mas
com motivo justo
História recente do
País prova que população não teme sair às ruas para fazer pressão; em plena
ditadura de Geisel, enterro do metalúrgico Santo Dias da Silva teve multidão de
mais de 100 mil pessoas; sob Figueiredo, comícios das Diretas Já marcaram a história;
contra Collor, caraspintadas conseguiram objetivo; mas frente a Lula, primeiro
ato fracassou
Do portal 247
Manifestação pelas Diretas no Rio, em 1984 |
O
fracasso da manifestação convocada no domingo 13, em São Paulo, para
protestar contra o ex-presidente Lula despertou comentários de que o povo
brasileiro não é afeito a protestar. Nada mais falso. A história do País está
repleta de exemplos de manifestações de massa, em praças públicas, com
objetivos claros e definidos.
Para não ir tão longe, vale lembrar que, debaixo da
severa ditadura do general Ernesto Geisel, em 1976, praticamente todos os 100
mil metalúrgicos da cidade de São Paulo acompanharam, em protesto, o enterro do
colega Santo Dias da Silva, morto durante uma greve por uma bala disparada pela
Polícia Militar. Feita na surdina, a convocação para o ato foi, de per si, um
registro de confronto ao regime – e sua realização abriu as portas para os
movimentos que surgiram nos anos seguintes, em favor da anistia aos presos e
exilados políticos, em 1978, e, até mesmo, a campanha das Diretas Já, em 1984.
Os comícios pelas Diretas Já foram, nos tempos recentes, os
maiores exemplos de mobilização popular que se têm notícia nos últimos 30 anos.
Atos com nunca menos que 50 mil pessoas e até 300 mil pessoas, como no caso da
Candelária, no Rio de Janeiro, se espalharam, sequencialmente, pelas capitais
brasileiras. A classe média, que até ali ficara em casa, resolveu participar e
o que se viu foi um sucesso que entrou para a história. O movimento não
alcançou, por conta de manobras dos políticos no Congresso, o seu objetivo, mas
resultou na eleição de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral, batendo o
retrocesso representado pela candidatura de Paulo Maluf. Dali, com José Sarney,
eleito vice-presidente, no governo, conseguiu-se, finalmente, cinco anos
depois, a primeira eleição para presidente em 28 anos.
A classe média outra vez foi preponderante no jogo de pressão
das ruas para encurtar o mandato do então presidente Fernando Collor, eleito em
1989. Apenas dois anos depois, cercado por denúncias de corrupção, ele viu
jovens estudantes do segundo grau e de cursos superiores saírem a praça
pública, outra vez por todo o País, com as faces pintadas de verde e amarelo, e
sempre vestidos de preto. Eram os caras-pintadas que estavam dando, com suas
numerosas manifestações, o motivo que faltava para o Congresso votar o
impeachment de Collor.
Na semana passada, agora sob a bandeira de protestar contra o
ex-presidente Lula, uma manifestação convocada para ser feita em São Paulo fracassou.
Apareceram cerca de 20 pessoas com seus cartazes chamando Lula de corrupto. Já
é certo que nova manifestação será convocada, desta vez com mais apoio dos
partidos políticos que fazem oposição ao governo federal. Como prova a
história, se a população considerar a bandeira justa, vai estar junto. Mas pelo
jeito, a julgar pelo primeiro ensaio dessa batalha, não há tanta clareza assim
de que perseguir Lula em praça pública seja mesmo uma ordem que galvanize a
opinião pública.
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