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quarta-feira, 21 de maio de 2014

Greve dos rodoviários em São Paulo: sindicatos comandados por pelegos cada vez menos representativos

Sartori: Direção sindical não representa a categoria; secretário fala em “sabotagem”; grevista denuncia “sempre os mesmos”

 

por Flávio Luiz Sartori, em seu blog

Motoristas cruzam os braços em São Paulo sem apoio do sindicato da categoria.
Na semana passada os motoristas e cobradores de ônibus do município do Rio de Janeiro fizeram dois dias de greve. Foi um movimento não encampado pelo sindicato da categoria, que já tinha negociado com os proprietários das empresas de ônibus e inclusive aprovado em assembléia um índice de aumento que uma parte significativa da categoria não aceitou e resolveu se organizar em uma greve paralela, utilizando-se de piquetes, fechamento de vias de acesso, terminais e garagens.


Esta situação também se repetiu ontem, 20/05, em São Paulo, depois que uma parte dos trabalhadores não concordou com o acordo firmado entre trabalhadores e patrões e partiu para uma paralisação organizada em um movimento espontâneo paralelo, que acabou por causar um verdadeiro caos no município.
Em ambas situações as autoridades municipais foram “pegas” de surpresa.
 
Motoristas e cobradores da Viação Vip, que atende a zona sul de São Paulo, fecham as pistas da avenida Guarapiranga no sentido centro. Os trabalhadores, que estão em greve, pedem reajuste salarial.

Alguns anos atrás acompanhei uma eleição para o sindicato dos condutores em Campinas. A oposição estava muito bem organizada, só era possível ver a campanha eleitoral deles na rua, não aparecia nada da situação, tudo parecia indicar que a oposição seria vitoriosa.
Depois fiquei sabendo pelos motoristas e cobradores da chapa de oposição que nos dias da eleição apareceram motoristas e até mesmo pessoas se dizendo motoristas, que eles nem sabiam que existiam. Resultado: a situação saiu vencedora.
Os membros da oposição denunciaram aquilo que seria a fraude, mas não aconteceu nada. Faz tempo que a imprensa faz o jogo dos proprietários das empresas de ônibus.
As oposições sindicais se organizam e vencem as eleições, porém não levam, porque são “derrotadas” por arranjos ilegais.
Assim, pelegos que não representam  mais a totalidade da base dos sindicatos que comandam, permanecem negociando em nome de uma categoria de trabalhadores, que na realidade quer vê-los pelas costas há muito tempo.
 
É exatamente isso que está acontecendo com os sindicatos dos condutores de São Paulo e do Rio de Janeiro.
As manifestações de junho e julho do ano passado mostraram que significativos setores da sociedade brasileira estão cada vez mais descrentes em governos, instituições e representações sociais no Brasil.
Nesse quadro, os sindicatos também estão inseridos, principalmente aqueles comandados por pelegos que perderam o rumo da história e teimosamente, de forma oportunista se negam a deixar o poder.
A perda de controle sobre a base sindical por parte dos pretensos dirigentes dos sindicatos dos condutores em São Paulo e no Rio de Janeiro é um sintoma desse novo momento que a sociedade brasileira vive.


Cansados de serem traídos e passados para trás os motoristas e cobradores estão partindo para fazer valer seus direitos com “suas próprias mãos”.
Simplesmente ignoraram o papel histórico e institucional de seus sindicados porque estes já há muito tempo não representam nada.
As autoridades públicas, principalmente na esfera municipal, terão que se adaptar à nova realidade e passar a buscar interlocução junto a estes novos líderes.
Caso contrário, continuaram sendo pegas de surpresa por movimentos espontâneos que são decorrentes da frustração de trabalhadores que, cada vez mais, perdem a confiança em seus sindicatos.

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