Nota da Comissão Brasileira Justiça e Paz sobre a execução da Ação Penal 470
Misericórdia e fidelidade se encontram, justiça e paz se abraçam. ( Sl 85,11)
As decisões proferidas pela Presidência do Supremo Tribunal Federal sobre a execução da Ação Penal 470 (mensalão) que têm suscitado críticas e preocupações na sociedade civil em geral e na comunidade jurídica em particular, exigem o inadiável debate a cerca das situações precárias, desumanas e profundamente injustas do sistema prisional brasileiro.
A Pastoral Carcerária, em recente nota, referiu-se à Justiça Criminal como um “moinho de gastar gente” por causa de decisões judiciais que levam a “condenações sem provas” e “negam a letra da lei” com “interpretações jurídicas absurdas”. Inseriu, neste contexto, a situação dos presos da Ação Penal 470 ao denunciar o conjunto do sistema penitenciário, violento e perverso, que priva os apenados “dos cuidados de saúde e de higiene mais básicos” e carece de políticas públicas para sua inserção no mercado de trabalho.
A Comissão Brasileira Justiça e Paz, organismo vinculado à CNBB,
soma-se à Pastoral Carcerária e “repudia” o conteúdo destas decisões,
bem como a política de encarceramento em massa, que penaliza
especialmente negros e pobres, com inúmeras práticas cruéis, estendidas
aos familiares e amigos dos presos, como a “revista vexatória”, atentado
direto à dignidade humana.
O vingador da direita |
A independência do Poder Judiciário somente realiza a necessária
segurança jurídica em sua plenitude, quando viabiliza sem obstáculos o
amplo direito de defesa e a completa isenção na análise objetiva das
provas. Ela é imprescindível na relação do Judiciário com os meios de
comunicação, não se podendo confundir transparência nos julgamentos com
exposição e execração pública dos réus.
CBJP tem a firme convicção de que as instituições não podem ser
dependentes de virtudes ou temperamentos individuais. Não é lícito que
atos políticos, administrativos e jurídicos levem a insuflar na
sociedade o espírito de vingança e de “justiçamento”. Os fatos aqui
examinados revelam a urgência de um diálogo transparente sobre a
necessária reforma do Judiciário e o saneamento de todo o sistema
prisional brasileiro.
Brasília, 22 de maio de 2014
Pedro Gontijo
Secretário Executivo da Comissão Brasileira Justiça da CNBB
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