Não agüento mais essa babação de ovo da mídia mundial em torno do casamento do príncipe William, filho da princesa Diana, e da "plebéia" Kate Middleton. É típico da mentalidade de colonizado, como nossas "classes altas", ou de despeitados, como os americanos, que tentaram fazer dos Kennedy uma família real. OK, sou republicano e, por esta razão, espero que as monarquias afundem no lodo da História.
Grace Kelly, atriz e princesa |
Mas, reconheço, há dinastias e dinastias, bem como há reis e reis e rainhas e rainhas. Eu não desejaria um destino tão funesto para as simpáticas monarquias escandinavas – o rei Hakon, da Noruega, por exemplo, resistiu aos nazistas e organizou um governo no exílio. Nem para o gracioso principado de Mônaco, mesmo depois de o príncipe Rainer III ter roubado das telas a maravilhosa Grace Kelly. E também não desejo má sorte ao rei Juan Carlos I de Espanha – apesar de ele pertencer à execrável dinastia Bourbon, aquela que não perdoa nem aprende – porque este monarca se revelou um notável defensor da jovem democracia espanhola.
Políbio dizia que os regimes políticos, qualquer que fosse sua natureza, terminam por entrar em entropia: a monarquia degenera em tirania, a aristocracia em oligarquia e a democracia em anarquia. Mas não é preciso ir tão longe – até porque esse aforismo não é um absoluto –, nem ser republicano para perceber que a casa de Windsor, que governa o Reino Unido há mais de um século, é uma das dinastias mais decadentes da Europa.
A rainha Vitória, de origem alemã |
Para começo de conversa, os Windsor nem são britânicos da gema. Eles descendem da Casa de Saxe-Coburg-Gotha, fruto do casamento da rainha Vitória, da casa de Hannover, com o príncipe Albert, filho do duque Ernest I de Saxe-Coburg-Gotha, em 1840. Eles são, portanto, uma dinastia de origem alemã. Em 1917, em meio à I Guerra Mundial, o rei George V mudou o nome da família para Windsor, para fazer frente ao sentimento antigermânico dos britânicos. Afinal, o rei era primo do kaiser alemão Wilhelm II. E George V foi tão covarde que não aceitou asilar seu outro primo, o czar russo Nicolau II, derrubado pela Revolução de fevereiro. Para o bem de todos, a família imperial russa acabou fuzilada pelos bolcheviques em 1918.
George V morreu em 1936 e foi sucedido por seu filho primogênito, que subiu ao trono com o título de Edward VIII. Este soberano protagonizou um dos maiores escândalos recentes da corte britânica, ao renunciar ao trono menos de um ano depois de ser proclamado rei para se casar com a americana Wallis Simpson, duas vezes divorciada. Eles - ela, particularmente - foram humilhados pela corte, que jamais aceitou o casamento. Mas este, entretanto, foi o lado romântico do monarca; seu lado obscuro revelou-se na simpatia que ele nutria pelo III Reich. A tal ponto que o casal foi recebido em 1937, com todas as pompas, pelo ditador nazista Adolf Hitler.
O ex-rei Edward VIII, Wallis Simpson e Hitler |
Seu irmão, George VI, não tinha nenhum apetite para o poder e era gago, como lembrou o filme ganhador do Oscar deste ano, O discurso do rei. É verdade que George VI acabou representando, ao lado da mulher, Elizabeth (a rainha-mãe), um símbolo importante na luta contra o nazismo, principalmente quando o Reino Unido enfrentou a barbárie sozinho. Mas sem a atuação carismática e galvanizadora do premiê Winston Churchill, o verdadeiro artífice da vitória, o monarca teria sido de pouca valia.
Sua filha, Elizabeth II, 85 anos recém-completados e rainha desde 1952, é a monarca britânica mais longeva de todos os tempos, superando inclusive sua trisavó Vitória, que morreu em 1901 aos 81 anos. Mas Elizabeth terá que reinar até 2015 para superar o recorde de sua antecessora no poder: 64 anos. Sob seu reinado, a casa de Windsor perdeu completamente a compostura, abrindo-se ao universo efêmero da sociedade- espetáculo ao mesmo tempo em que pretendia manter a majestade.
A rainha Elizabeth II |
A princesa Diana |
O "casamento do século" do príncipe Charles com Diana Spencer transformou-se na farsa do século. A sucessão de escândalos - cujo ápice foi a declaração de Charles de que queria ser o "tampax" da então amante, Camille Parkes-Bowles - terminou com a morte trágida da princesa Diana num acidente automobilístico em Paris em 1997. Como a casa de Windsor se rendeu incondicionalmente ao mundo das celebridades, Elizabeth II, que odiava a ex-nora, foi obrigada a prestar homenagem à "princesa do povo" por orientação de um premiê oportunista, Tony Blair.
Convenhamos: existe algum glamour nisso tudo? Meu consolo é que essa decadência da família real alimente o espírito republicano no povo britânico.
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