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Opinião do internauta |
Vladimir Polízio*
Em 1997, os músicos do grupo Planet Hemp foram presos logo depois de um show em Brasília. O motivo da atuação policial foi a suposta apologia ao uso de substâncias entorpecentes com a canção “Queimando Tudo”, em que se dizia ”eu canto assim porque fumo maconha”, “eu continuo fumando tudo até a última ponta”, “olhe pra mim, veja as pupilas dilatadas; é a mente trabalhando, eu não vou te fazer nada; sinta os efeitos da fumaça sonora, e não se esqueça; Planet Hemp, fazendo a sua cabeça”.
Daí que as declarações do Papa Bento XVI, destaque na edição de 10 de janeiro dos principais jornais, de que o casamento homossexual é uma das várias ameaças atuais à família tradicional, prejudicando "o próprio futuro da humanidade", salientando ainda que as crianças precisam de "ambientes" adequados para a educação, e "o lugar de honra cabe à família, baseada no casamento de um homem com uma mulher", devem ser encaradas como manifestação livre e consciente de pensamento, nada mais. Qualquer interpretação diversa é equivocada, ainda mais porque se trata do representante de uma religião, que tem todo o direito de expressar os dogmas de sua fé aos seus pares.
Isso não é discriminação. Se fosse, não haveria liberdade de expressão, garantia insculpida no art. 5º, IV, da Constituição Federal, porque a mera opinião sobre determinado assunto, por mais relevante e polêmico que fosse, poderia resultar na prática do crime de “discriminar”. Castro Alves, abolicionista muito antes da Lei Aurea, de 1888, pregava nos seus textos a fuga dos escravos, e na época já se entendia se tratar de manifestação de pensamento. Por isso, pode o Papa ser contra o casamento gay ou o sexo antes do casamento, da mesma forma que um judeu pode acreditar que Jesus foi um profeta, ou então um protestante que as imagens de santos são bobagens. O problema apenas surge quando um tenta provar ao outro que seu pensamento é o certo, e aí é que nasce a intolerância. Discriminar é ser intolerante com os que pensam diferente, e menosprezá-los por isso. Opinar, como fez o Papa, é outra coisa.
*Vladimir Polízio Júnior, 41 anos, é defensor público
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