A FOLHA NA SARJETA
A mais recente canalhice da Folha de S. Paulo me fez lembrar a definição de Walter Lipmann de que as notícias não se baseiam em fatos, mas na expectativa dos donos dos jornais sobre o rumo dos acontecimentos. Depois da ficha falsa da Dilma Rousseff e da "ditabranda", o jornalão da Barão de Limeira publicou uma das mais vexaminosas peças do jornalismo marrom dos últimos tempos: num artigo de uma página, o ex-militante da luta armada César Benjamin afirma que, durante um encontro na campanha presidencial de 1994, ouviu Lula se jactar de ter tentado "currar" um companheiro na prisão, em 1980. Maliciosamente, "Cesinha" compara o suposto comportamento escroto do líder sindical ao dos bandidos com quem conviveu na prisão, que, diz, jamais tentaram tocá-lo. Tanta candura fez com que o articulista merecesse do jornal um pé biográfico gigantesco, digno, digamos, de um Lévi-Strauss, se este vivo fosse e perdesse tempo escrevendo para a Folha.
A Folha
usou o expediente de publicar a acusação através de um artigo de um
esquerdista respeitado mas rancoroso - quem se lembra de César Benjamin
hoje? - para não ter que ouvir o outro lado e apurar a denúncia. Que,
aliás, caiu por terra no dia seguinte, com o desmentido dos diversos
envolvidos na reunião. Só então o jornal resolveu repercutir a acusação.
Depois de tentarem, com o episódio da ficha, colar o epiteto de
"terrorista" em Dilma Rousseff, acharam que dava para jogar merda no
ventilador classificando Lula como "estuprador".
Alguns dizem que, com isso, a Folha jogou sua reputação na lama. Afinal, o jornal apoiou a abertura democrática, a campanha das Diretas Já
e o impeachment do Collor. Mas essa reputação, na verdade, foi uma
construção marqueteira. Ao contrário do Estadão, a Folha nunca foi
censurada pela ditadura. Pior: quando o pau comia solto, o jornal
emprestava suas caminhonetes C-14 para servir de cobertura para ações da
repressão. E a Folha da Tarde se transformou num sórdido pasquim
editado por policiais do DOPS, chegando a anunciar mortes de
guerrilheiros (como Eduardo Leite, o Bacuri, acima) "em confronto" com a polícia quando eles ainda estavam presos.
Pegando
carona na redemocratização, a Folha se tornou o jornal mais influente
do Brasil, atingindo o auge nos anos 90, com o impeachment de Collor;
depois, veio decaindo até perder importância como formador de opinião.
Hoje, mais do que ninguém, a Folha quer porque quer eleger o Serra
presidente. É bom lembrar Cláudio Abramo: "a liberadade de imprensa é
liberdade do dono da empresa" O problema é que, com essa obsessão, o
jornal abandonou a reportagem e se fixou num denuncismo barato,
tornando-se uma espécie de linha-auxiliar da Veja. E depois, não sabem
porque as vendas estão despencando...
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