Comentário ao post de Gabriel Merheb Petrus:
O Longo Amanhecer, documentário sobre Celso Furtado
Caros, Gabriel e geonautas,
Gostaria de acrescentar, sem tirar o brilho do texto, mas adicionar
um pequeno detalhe, que em parte consta dos extras do DVD do filme,
primeiramente, depois de terminar o curso de direito no início dos anos
40 no Rio de Janeiro, na qual ele certamente deve ter lido quase todos
os clássicos, que começou na biblioteca de seu pai, o fato completamente
inusitado para os padrões de nossa história e de nossa elite, primeiro
ele se alistou para a guerra junto as Forças Armadas, foi lutar como um
soldado junto a Força Expedicionária Brasileira na Segunda Grande Guerra
na Europa.
E voltou da guerra querendo entender o Brasil e o mundo, aí
sim voltou para se aprofundar em estudos na Europa. E foi magistral,
teve a percepção, a visão de que no mundo pós-guerra, estava havendo
mudanças estruturais nas correlações de forças globais (como ocorre
hoje) e alertou o país, na qual o Brasil, deveríamos estar atento aos
fatos, para a nova realidade. Sua visão do processo da história que
acontecia foi assertiva, como sabemos, as mudanças globais ocorreram,
como ele teve a percepção, como ele viu no seu tempo presente, para nós,
para o país, para a elite primária que somos, ainda hoje, foi “um bonde chamado desejo”.
São evidentes, novamente, os sinais de que está ocorrendo mudanças
estruturais no mundo, outra vez depois de meio século, será que vamos
perder o bonde novamente?
O fato acima é realmente inusitado, trata-se de uma postura e ato
nobre, de uma certo tipo de elite rara na história de nosso país, que
pouco se ouve (porque pouco há), o que houve, o que ouvi no grupo
escolar, na qual a memória diz me que o recreio era a melhor parte,
ouvimos das professoras histórias vergonhosas de uma elite covarde, como
essa que reproduzo: a elite brasileira do império, concedeu alforrias
aos seus escravos para os mesmos lutarem na guerra da "Tríplice Aliança"
contra o Paraguay, em troca de não enviarem seus próprios filhos, essa
é talvez, sinais do princípio verdadeira de nossa herança, maldita ou
não.
O nascimento da República veio com as mesmas mazelas, com os mesmos
princípios e estruturas da herança "patrimonialista" da velha elite da
nossa formação portuguesa, que ocupou o lugar da aristocracia do
império, o novo "Estamento" era a velha aristocracia disfarçada com
roupa nova, repleto de pedantismo, a pedantocracia do academicismo, os
preconceitos e nojo do povo brasileiro, que reflete ainda hoje em nós,
como a frase de Joaquim Nabuco, que foi o que tivemos de melhor no
império: “Em mim só o sentimento é brasileiro, minha imaginação é
européia”.
Que de certo modo, é a estrutura que temos até hoje. Somos uma nação
com mais de 50% de negros, mas para citar o historiador Luiz Felipe de
Alencastro: Cadê os negros das forças armadas? Cadê os negros nos
legislativos do país? No executivo? No judiciário? Cadê os negros no
funcionalismo público de alto escalão? Cadê os 50% de negros professores
universitários? Cadê os 50% de negros alunos das universidades
públicas? Etc.
Em uma conferência recente com Fernando Novais sobre História
Econômica na Geografia, USP, onde os economistas, no meu modo de ver,
foram tratados de forma pejorativa, na qual em geral concordo, ele
chamou Celso Furtado, como todo mundo chama, de um economista, eu
protestei, disse que ele era muito mais que economista, mesmo ele se
considerando um e se sentindo muito bem entre os economistas.
Como disse o coreano economista de Cambridge, Ha Joon Chang, no programa Milênio, Globo News (link),
os economista deveriam ser processados pelas irresponsabilidades e
catástrofe da grave crise econômica, acrescento que os membros que
escolhem o Nobel de Economia, também deveriam ser processados e ser
eliminado essa premiação do Nobel.
Lembro o conceito criado pelo sociólogo alemão, Ulrich Beck, sobre a
irresponsabilidade do sistema do setor financeiro e energia nuclear (Ulrich Beck e as questões nuclear pós Fukushima):
Em recente debate sobre o lançamento, na livraria Cultura, do novo
livro de Celso Furtado, “Ensaios sobre Cultura e o Ministério da
Cultura” (Arquivos Celso Furtado 5). Questionei Rosa Freire d´Aguiar
Furtado, que escreve o prefácio da coletânea de artigos, que ele não
deveria se restringir ao mundo da pequenez da Ciência Econômica de
mercado. Logo depois, nos autógrafos, em conversa paralela com um jovem
que era Sociólogo e estava pesquisando em economia, argumentou para mim:
“Mas até Marx era economista”, ou seja, o problema é bem mais complexo
do que a gente pressupõe, pois até um pensador e filósofo social do peso
de Marx, vira mero economista.
Mesmo diante dessa realidade (distorcida), eu continuo na minha
cruzada e a protestar, e digo em alto e bom tom sobre o pensador: Celso
Furtado, economista uma ova.
E pergunto: Celso Furtado, um economista ou filósofo social?
Fonte: Portal Luis Nassif
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