O Diário saúda libertárias e libertários de todo o mundo, aquelas
pessoas raras que empurram a humanidade para a frente e para melhor
enquanto a manada fica sentada na poltrona.
Hoje a saudação se dirige, em especial, a uma iraniana que, nesta semana, ganhou manchetes entre os sites dedicados às mulheres em muitos países.
Vamos ouvir a história pelo lado de quem recebeu a justa ira dessa
iraniana: um clérigo. “Eu educadamente pedi a ela que se cobrisse. Ela
me respondeu: ‘Você deveria fechar os olhos’. Ela não apenas não se
cobriu, mas me insultou. Eu pedi a ela que parasse de me xingar, mas ela
começou a gritar e a me ameaçar. Ela me empurrou e eu caí de costas.
Daí por diante, não sei o que aconteceu. Só sentia os chutes da mulher
que me batia e me insultava.”
Entendamos.
Há 30 anos, desde a Revolução Islâmica, as iranianas são obrigadas
por lei a usar véus. É uma das principais causas de emigração de jovens
mulheres do Irã. Se não estão devidamente cobertas, podem ser advertidas
e até detidas. A infração, numa tradução livre, é o “véu ruim”.
Há, é claro, uma infinidade de mulheres que usam véus por vontade
própria. Mas existem outras que prefeririam se vestir de outra forma,
como aquela em cujo caminho se atravessou o clérigo que apanhou.
Quando a França, na Era Sarkozy, decidiu banir a burca (o véu total),
o Diário acusou a hipocrisia intolerante do governo francês. Sarkozy
dizia que estava agindo daquela forma para proteger, aspas, as mulheres
muçulmanas de seus maridos malvados, aspas.
A França estava desrespeitando seu grito dos anos 1960: “É proibido
proibir”. Se havia real incômodo das mulheres de burca, a reação teria
que partir delas mesmas.
Sempre foi assim na história da humanidade. Os negros americanos não
foram protegidos por brancos bonzinhos, aspas, no esforço de ganhar
direitos civis. A luta foi deles mesmos.
As sufragetes inglesas que há mais de 100 anos começaram a
reivindicar o direito ao voto jamais dependeram de homens bonzinhos,
aspas, para enfim poderem ir às urnas. Elas próprias se insurgiram e
combateram seu combate, às vezes de forma singularmente dramática: uma
delas atravessou a cerca em que ficava a platéia e se atirou sob as
patas de um cavalo no meio da corrida mais importante da Inglaterra.
Morreu e se transformou numa mártir das sufragetes.
O Diário, libertário que é, entende que deve usar véu a mulher que
gostar e não usar a mulher que não gostar. Básico. A mesma lógica de um
homem ao escolher se põe ou não gravata.
No Irã, se o desejo de se livrar da imposição do véu estiver
disseminado entre as mulheres, não há homem que vá ser capaz de
detê-las. Seria como tentar segurar o vento. A surra que levou o
religioso zeloso é um pequeno sinal disso.
Somos contra a violência, evidentemente, mas não podemos deixar de
aplaudir, discretamente, um clap apenas e não de pé, a iraniana que
pediu ao clérigo que fechasse os olhos e não foi atendida.
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